quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Conto do Vigário




A mentira vem com momentos inesquecíveis, verdades indesmentíveis, realidades intransmissíveis, chiça até fico baralhado com argumentação tão forte, tão valorosa, tão In, ou Out? Não percebo muito da linguagem psicológica e mitomaníaca, tanta informação deixa-me inibido, incapaz de dizer ou escrever refutando. Sim, é tanta a firmeza das suas convicções, que não sabe sequer das convicções de tal firmeza, tal o ímpeto, na vontade de afirmação e convicção da sua mentira, ou será realidade? É tão confuso para quem do lado escuta, que fica sempre na dúvida perante o vigário filho da puta. Então ele próprio, nesse encantamento de verdades, ou mentiras, comporta-se como um jumento e aceita todas as cantigas, ao ritmo de quem as emite e mente deliberadamente, pondo-se em causa; será verdade realmente?


dc

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Chão frio de nada




Fiquei preso nas muralhas que inventaste para que eu me afastasse, porque temias que tudo fosse mais além, de que um mero encontro de beijos e abraços. Os muros altos do narcisismo, da grandeza outrora vivida, traziam-te pretensões maiores que o alcance do momento. Como muitas procuras que se pretendem, por não entendimento do viver, morrem na praia sem se encontrarem, fica somente o vazio de uma luta perdida. O que tinhas na mão, se foi em voo rasante até atingir o céu sublime, e tu, agarraste o chão frio do nada.

dc

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Viajar dos dias




Quando olhei aquele chão, molhado e a luz que se reflectia na água, agarrei a imagem com o olho da máquina, para que ficasse registada fisicamente, mas muito mais dentro de mim. Era a chamada ”luz ao fundo do túnel”, de que precisava para continuar. Aquele momento aconteceu do nada, como para me lembrar, que haverá sempre uma solução para os problemas da vida, mesmo no intricado emaranhado em que ela nos coloca. Nem a chuva, nem a noite que se aproximava, me tiravam agora a esperança que vi nela. Foi como um despertar interior, uma alerta ao espirito, de que devia continuar a calcorrear aqueles paralelos, levantar a cabeça, e enfrentar os desafios que se vão plantando neste viajar dos dias.

dc




quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Lua cheia




Se na lua cheia
O amor é instante
Na lua minguante
O amor será hesitante...

Lua, minha marota
Apareces antes de anoitecer
Agitas o garoto e a garota
Tirando-lhe o adormecer

Lua que alimentas amores
Agitas todo o cão e gato
Fazes esquecer todas as dores
E falta de comida no prato

Compões a frase do poeta
Fazes uma alma suspirar
Tornas uma alma deserta
Capaz de no amor acreditar

dc


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A passagem é uma miragem





Tudo já é passado, os desejos, as vontades, os abraços, as risadas e o champanhe. A ressaca da festa atira-nos, pela crueza dos números para a realidade, que não se apaga com a mudança dum dia para a noite. Não o digo por péssimismo, mas é somente a realidade, que teimamos embelezar dizendo: vivam o momento. Estamos no “amanhã”, de ontem, a encurtar o caminho para o nosso fim e nada do que dissermos altera o que vem a seguir, se os nossos desejos e vontades não tiverem uma aposta obrigatória, devidamente assumida, de que mudaremos a todo o momento para fazer melhor. Isto em relação a nós e aos outros, contribuindo para a construção de algo mais importante que venha a ser digno de registo para o futuro.
Erro, eu, na impotência de querer mais, tal a falta de crença no Homem e na sociedade actual, essa que lhe satisfaz a materialidade, mesmo que induzida na sua vontade, onde vai perdendo valores humanos e ganhando novos vícios da inadequada, ou atamancada, adaptação a modernismos e virtuais entendimentos. Todos os dias se vão implantando ideias, através da comunicação de quem manda, que procuram a adaptação lenta ao que eles querem como futuro, para sermos robotizados e aceitarmos a robotização, a biotecnologia sem quaisquer controlos. Para nos convencerem trazem à liça uns “iluminados”, e bem pagos, que nos fazem acreditar, de que somos uns totós se não seguirmos o caminho da manada. Assim, um dia, quando acordarmos já é tarde e estamos instalados em algo que não pedimos, nem queremos, que nos submete como escravos modernos.



dc

"perdemos nosso gosto pelo silêncio. cada vez que temos alguns minutos, pegamos um livro para ler ou telefonamos ou ligamos a televisão. não sabemos como ser nós mesmos sem algo que nos acompanhe. perdemos nosso gosto em estarmos sozinhos. a sociedade retira de nós muitas coisas e nos destrói com barulhos, aromas e tantas outras distrações. a primeira coisa a fazer é retornar a nós mesmos para nos redescobrirmos. precisamos organizar nossa vida quotidiana de maneira a não permitir que a sociedade nos colonize. temos que ser independentes. temos que ser pessoas reais e não apenas vítimas da sociedade ou dos outros."
(thich nhât hanh - monge budista, pacifista, escritor e poeta vietnamita) tx. obtido através de Miriam