sábado, 10 de fevereiro de 2018

A vida não é um Carnaval





De que vale a vida se não tens sonhos
De que vale a vida se os teus dias são bisonhos
De que vale a vida se a dor sempre é presente
De que vale a vida se a tua alma não sente
De que vale a vida se não sabes o quanto é bela
De que vale a vida se não dás pelo calor dela
De que vale a vida se o amor não te aconchega
De que vale a vida se não te perdes por quem amas
De que vale a vida se a tua existência se apequena

Nas interrogações que tornas presentes
Nas emoções que todos os dias sentes
Nas palavras que escreves no diário
Nas frases que compões sem dicionário
Nas horas que deixas correr pelos dias
Nas ausências que descreves sem alegrias
Nas vivências que sentes cheias de vazio
Nas noites em que adentra em ti o frio
Nas mentiras em que te escondes
Nas verdades que te trazem a dor e o medo
Nas realidades a que te fechas como dum segredo

E se te agarrasses ao tempo que te foi dado
E se te prendesses à vida mesmo que abandonado?
E te deixasses de lamúrias e te descobrisses
E te deixasses de apego a esse amor acabado?
E se caminhasses nesse novo percurso sem bússola
E se deixasses que o norte te encontrasse?
Talvez a paz dentro de ti entrasse e a dor acabasse

A vida não é um Carnaval de música e galhofa
A vida não tem fatos feitos à tua medida
A vida flui e umas vezes ela de ti mofa
Outras vezes ela só pede para ser vivida


dc  

Um olhar




Um sorriso que prende
Um olhar que se acende
Uma emoção aparece

Agarrei o sorriso
Prendi-me no olhar
Perdi o juízo

Acreditar é ganhar
Numa estória a nascer
E um amor a acontecer

dc

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Só, entre galhos





Só, entre galhos, no vazio
Vou cochilando um sono
À luz do sol tardio

As folhas cairam
Despiram-na do conforto
Agora são alimento
No renascer do solo morto

Duro o abandono
Quando tudo emigra
Sem folhas, sem outono
Até o amor se esvai
Sem enredo, sem intriga


dc


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

I'M NOT PERFECT...


Os dias passam vertiginosos, dez anos é o tempo de um sorriso, ou duma das tuas gargalhadas. Ainda ontem, davas o primeiro grito dizendo-te vivo e garatujavas uma língua de trapos, cada vez que tentava fazer-te sorrir. Hoje, um homenzinho, que emite opiniões, brinca, dança, agarras as pessoas com a sua malandrice, a sua traquinice, a sua ternura.
Como parecem já tão distantes, aqueles tempos de compromisso, em que eu e tu - ainda de pernas periclitantes, com a tua mão dentro da minha – visitávamos Museu de Serralves, ou caminhávamos pelos diferentes lugares da cidade, como o Parque da Cidade, o Palácio de Cristal, os jardins infantis que pululam por cá. Sem esquecer os pequenos almoços a dois, no Centro Comercial, para irmos de seguida à zona infantil e à Fnac escolher livros e música, ou as nossas caminhadas na Foz e na Ribeira.
Este ano lectivo, vou-te buscar à escola, sendo a tua companhia de fim de tarde. É o nosso momento In. Chegas à porta de saída, caminhando e cumprimentando: Olá avô! Com o pacote de sumo na mão, esperando que te dê as bolachas, a que te habituei, para ires comendo no caminho até casa; por vezes, digo que me esqueci, mas não acreditas, "vá lá avô, tu nunca te esqueces". Depois, depois conversamos e divergimos, rimo-nos e amuamos. A diferença de idade é mais do que muita. A idade dá-me a presunção da sabedoria, a ti dá-te a coragem de recusar os estereótipos, que te querem impôr. Assim vamos fazendo o percurso da vivência em comum, registando momentos das diferentes etapas de crescimento, solidificando os laços afectivos e criando memórias futuras. Como te lembras: “Eu não sou perfeito, mas sou edição limitada” , serve para os dois.

06FEV18


dc




segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Na vida real




Quando fugir
não faz parte de nós.

Se amamos a verdade,
mesmo quando dói.

Se a queremos
e tudo o que ela constrói.

É enfrentar sem temer,
nas falas e nos actos,
o ganhar ou perder.

Todo o seu contrário
é noite gelada,
são rugas na pele
e tristeza acumulada.

dc


domingo, 4 de fevereiro de 2018

Nunca dançaste comigo




Nunca dançaste comigo, mas sempre pensei que dançava contigo. Sabíamos o que era a valsa, o bolero, o tango, o chá-chá-chá, como vês não falo daquelas músicas modernas em que todos parecem ter pulgas e se mexem para se coçar.
Nunca dançei mas tería adorado que me tivesses convidado para dançar. Agarrar-te nos meus braços, sentir a tua respiração no meu pescoço e as palpitações do teu coração no meu peito. Rodar, parar, rodar, mexer os pés para o sitio certo, ao ritmo certo, sentir o calor do teu corpo e os nossos cheiros, misturados, entranhando-se nos sentidos. Gostaria de ter dançado todo o reportório que faz uma vida, quase tirando os pés do chão, como se voassemos num amor de todo o sempre, daqueles de filme, de romance de autor, daqueles que trazem brilho aos olhos e lágrimas de prazer e ternura. Aquele amor que é para sempre, aquele que se sente como certo, ajustado, único, especial. Um amor sem limites, que suporta tempestades, bonanças saturadas. Um amor no qual, pisaduras nos pés, são avisos de cautela e nunca são afastamento, ou o fim da dança. Sabes, eu contigo teria dançado tudo, mesmo até as tais modernices, em que todos se coçam, ou levantam os braços como se estivessem à procura dos gambuzinos. Eu contigo transformaria o mundo num salão de baile privado, onde daríamos lugar às grandes danças da vida. Nunca dançamos, é pena, seríamos um par perfeito, só que tu não acreditavas. Um dia dançarei de certeza com uma bailarina traiçoeira à qual não poderei escapar, aí, será a última vez em que trocarei o movimento dos pés, mas já não me importarei, tudo será efémero e finito.

dc