quinta-feira, 17 de março de 2022

A natureza das coisas


Vieste em meu sono, desesperar meus sentidos, atazanar meus remorsos e descuidar minha vida. Tanto tempo descansado, paulatinamente vivendo, mesmo com mágoa ainda nas veias e pensamento, mas acalentando sossegos, que agora mais necessito, do que agitação de descaminho. Longos foram os dias, inalando cada brisa, sondando teu cheiro, e de porta encostada, na espera da tua entrada. Levanto os braços na matinal preguiça do nascer do dia, como se fosse súplica, para não te abeirares dos meus sonhos, para que não se transformem em insónia de espera nunca mais realizável.

 

dc

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Mais do que um corpo

Ao passar, olhou-a, ficou preso à sua imagem, quase dominada pelo preto e branco. De sedutora estética, tinha o arreganho da luta nos seus braços. Despida de enfeites, não por simplicidade, antes por ser seu destino, desnudar-se para se renovar. A realidade visível escondia a vibração que dentro de si, existia. Feito Deus, ele deu-lhe a vida que se escondia, mesmo quando perdida das suas vestes e sujeita ao agreste vento gelado e chuva. A esperança restaurada, de quem a observa e de quem sempre espera a renovação da sua própria vida.

 

dc

 


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Sem resposta

Perguntas-me como eu estou, e eu não sei responder-te. Estou em fuga de mim, sem me aperceber do que fazer, vivendo cada dia o seu acontecer. No dia a dia, e suas rotinas, incomodam-me as alterações, já não tenho pachorra, para viver de stresse ou pressões. Cada exigência exterior ao que me disponho, me aborrece. É comum trazer comigo, um ou dois livros como companhia, são o que de melhor tenho para me ocupar enquanto a espera me é imposta. Dois diferentes, para que se adequem ao estado de espírito, ao lugar e ao momento. E de facto eu leio, mas nem sempre, sem saber porquê, o que leio fica retido, para dele dizer, o que se pode dizer de um livro. Na maioria das vezes efabulo sobre aquilo que leio e perco-me sem receio, com os olhos lá longe onde não se fazem perguntas, nem se esperam respostas. Como agora mesmo, a luz, cor e som, chegam com as conversas que circulam entre as mesas da esplanada, e a confusão é tal, que não me retenho em nada. Nem no livro que leio, nem na conversa de premeio, e assim, o tempo decorre e mais um dia morre, sem espalhafato, na ninhês que se vai repetindo.
A pergunta mantém-se e a estória não muda nada. Estou em fuga …

 

dc


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O meu mundo é o dos silêncios..



... neles, só os olhos se agitam, mesmo quando fechados. Olham o de fora, imaginam o de dentro. Em certos momentos, estou tão preso ao silêncio, que os olhos, mesmo abertos, estão vazios para quem desconhece o entendimento. Voam mais além da linha do horizonte, vagueiam pelo céu azul, mesmo que outras cores vivam e continuem a ajudar a definir as formas no desenho dos objectos. Os pensamentos fluem, o ruído é imaginação pura. O matraquear das palavras e das falas se fazem num diálogo surdo, calmo sem a agitação do gesto. Os cheiros são privilegiados, nos seus diferentes matizes, alimentam-se da memória que traz o presente que me rodeia, mas também das ausências, sobretudo essas, cujo cheiro ficou ligado a vivências, que pareciam esquecidas e de repente estão ali tão nítidas. Sinto um arrepio percorrendo o corpo, adensando o silêncio, afastando-me cada vez da realidade presente. Talvez seja isso o motivo deste silêncio, que reservo, longe de quem não entende. Sobreviver, ao vazio para o qual vamos caminhado, no correr do calendário, em que os dias deixam de ter importância, somente o momento, a cada segundo é a vivência intensa do possível. O meu tempo deixou de ser um lugar cronometrado por interesses alheios.

dc


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Sou a que sobra

 


Toda eu me desfazendo aos poucos, sou a que sobra deste mundo ensarilhado onde vivo. Todas partiram, algumas de envelhecimento precoce, sem se despedirem. Deixaram-me presa à estrutura enleada, que foi nosso lugar de estar, durante algum tempo. Resta-me esperar uma brisa, ou uma chuva, mais forte, para me soltar e cair na torrente que me levará algures, onde desaparecerei definitivamente, sem que alguém se lembre que já tive cor, forma, cheiro e vida. Breve foi a minha passagem. Julgo ter cumprido a minha missão, por vezes, aliada a muitas outras alegrei, refresquei almas, fui sombra, parceria de bons momentos, testemunha de enamoramentos e abrigo de intempéries. O fruto gerado, já não é mais meu, ou foi tomado por mãos ávidas, ou absorvido no tapete fofo, ou se diluiu em alimento de base. Podia ser humana estória, na verdade, é somente uma folha e seu possível(?) pensar.

 

dc


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

É bem possível

Sinto a saudade apertando. Tanto tempo passado e ainda corre nas veias a emoção como se tivesse sido ontem.

Repete-se a estória mentalmente. A tua silhueta na chegada, o calor do abraço com o cheiro de ti, o semi-sorriso, aquele brilho nos olhos e o beijo molhado. Tudo se vai repetindo com mais pormenores enriquecendo a estória. A saudade inunda por dentro, colocando nostalgia ao olhar que se perde no horizonte. São memórias que não apelam à repetição da estória, antes um reformular da experiência vivida, nesse outro começo, a pensar como seria um novo caminho, sem receios dos desafios, com mais verdade e mais capaz de ser futuro. É bem possível, que um novo começo, seja mais fácil para matar definitivamente a saudade e as memórias que magoam, e criar um novo registo intemporal.

 

 

dc


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Pensamento fora da caixa(?)

 


Eu jogo com os silêncios de cada um, que sob as gargalhadas se escondem, os silêncios fazem parte do meu universo. Hoje são as festividades de um dia, que vibra como único na imensidão dos que dominam o ano.

Eu próprio, sento-me a um canto da sala, vendo toda aquela agitação, como se fosse um filme desenrolando aos meus olhos. Enquanto isso, observo numa das mesas da sala, aquela criança nas palhas, deitada, no meio do presépio, e penso nos milhões de crianças que em todo o mundo, estão longe de ter uma vida feliz e sem os seus mais elementares direitos satisfeitos*. Nós os outros, os adultos, brincamos às prendas, comemos e bebemos por um ano e dizemos, como verdade absoluta, que o Natal é sempre que o homem quiser, mesmo com a consciência de termos a liberdade presa por um fio, chamado teste e um passaporte digital sanitário. Vivemos o mito de que a "ordem social" nos beneficia e nos cuida, tememos pensar e aceitamos que outros tomem decisões como se fossem nossas.

Estamos naquele marasmo em que todos evitamos conhecer a verdade que está à frente do nariz. Temos vindo a ser educados, há largos anos para a obediência, ao governo, aos patrões, às instituições corporativas, aos desígnios do marketing e a pensar que ser livre é ter coisas, e que a tecnologia é panaceia para as ausências várias que nos vão tomando. Moldam-nos nas escolas e universidades, com avaliações tecnocratas, para no fim, sermos bons no trabalho a defendermos o individualismo egoísta, seja num trabalho precário, ou atingir uma categoria profissional. Levam-nos a sustentar lutas entre nós, para chegar a um objectivo, como se tudo fosse permitido. Morder se necessário a canela do que está à frente, mentir, forjar situações para conseguirmos um lugar, em qualquer das actividades que tenhamos que desempenhar. Este é o mundo que nos querem aplicar como normal. No meio de tudo isto, sempre aparecerão uns bacocos, sejam eles governantes, ou fazedores de opinião, que repetirão o estribilho, de que os tempos são outros, que temos de nos habituar; do mesmo modo que nos dizem sobre a nossa forma de educarmos os nossos filhos, como se pais que somos, vivêssemos em sociedades diferentes. Esta sugestão de nova normalidade, é a tentativa de formar escravos modernos, obedientes, onde não existam laivos de resistência e revolta. Natal não é sempre que um homem quiser, sê-lo-á. quando tomarmos as rédeas da nossa vida colectiva e mandarmos à merda, alguns poucos, que definem o que devemos ser.

 

dc


* A verdade é crua, mostra-nos pelos números a hipocris
ia.

5 crianças morrem no mundo a cada minuto por desnutrição
16 outubro 2018, 17:46

Save the Children lança uma campanha de conscientização. Todos os dias no mundo, 7.000 crianças menores de cinco anos morrem de causas relacionadas à desnutrição, cinco a cada minuto. Save the Children lança a campanha global "Até o último"

Vaticano News

portallucykerr@gmail.com

 

"O Direito à Alimentação" Cerca de 16 mil crianças morrem de fome a cada dia no mundo

O Dia Mundial da Alimentação é celebrado no dia 16 de outubro de cada ano para comemorar a criação em 1945 da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

O objetivo deste dia é conscientizar o conjunto da humanidade sobre a difícil situação que enfrentam as pessoas que passam fome e estão desnutridas, e promover em todo o mundo a participação da população na luta contra a fome. Todos os anos mais de 150 países celebram este evento.

Durante o Dia Mundial da Alimentação, celebrado pela primeira vez em 1981, ressalta-se cada ano um tema em que se focalizam todas as atividades. Este ano o temo escolhido é “ O Direito à Alimentação”.

Cerca de 14% da população mundial sofre de fome ou insegurança alimentar, o termo usado pela FAO (Agência para a Alimentação e Agricultura) para caracterizar a falta de acesso a alimentos suficientes para a vida, a subsistência e a saúde.

Em cada dia que passa, cerca de 16 mil crianças com menos de cinco anos morrem por fome ou problemas a esta associados. Isto apesar da agricultura estar produzir 17% mais de calorias por pessoa, por comparação ao que produzia há três décadas, e mesmo tendo em conta que a população mundial aumentou 70% nesse período.

A FAO reúne-se, esta terça-feira, em Roma, em assembleia plenária, para, mais uma vez, discutir o problema da fome.

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2018-10/cinco-criancas-morte-por-minuto-mundo-desnutricao.html