Ali estava divagando seu olhar pelo horizonte sabendo nele estar sua utopia.
O sonho se esvai e o tempo de o realizar passou. só lhe resta ver outros mais felizes possuí-lo.
Um dia negou a voz, e aceitou o silêncio para que não murchasse a flor que tanto regara. para que essa flor pudesse livremente espalhar o seu aroma e a beleza das sua pétalas, sem que a erva daninha a perturbasse.
Como muitas coisas que na vida, por vezes temos de abdicar de um bem precioso, ou de alguém de quem se gosta, para que seja livre e possa voar.
Agora, resta na praia, saboreando contornos de veludo em flor, de pétalas douradas, misturando seus aromas com a maresia, acentuando o desaguar de seu corpo.
Repentinamente sem precaução mergulhou nas águas verdes de seus olhos e por momentos deixou-se ir para as profundezas do oceano.
A expectativa é não voltar, afundando-se infinitamente, até que seja a pele da mesma pele e sentir do mesmo sentir.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
JUNHO' 2012
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Foto: Diamantino Carvalho
"SE ISTO É UM HOMEM"
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(Edmund Burke) |
"Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homemMeditai que isto aconteceu:
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve
Que os vossos filhos vos virem a cara."
Este texto que inicia o livro de Primo Levi "Se Isto é um Homem", faz uma chamada de atenção a toda a humanidade para o que se passou com poder alemão na Segunda Guerra Mundial. É também uma apelo para que não deixemos que volte acontecer e que sejamos solidários na dor e na luta, na procura de um mundo melhor.
Nos dias de hoje o poder da alta finança, sem pátria, instalou a crise e com ela pretende igualmente, a mesma humilhação e sacrifício dos Povos. Esta é a versão moderna da "guerra" e domínio desses senhores.
O autor Primo Levi Nasceu me Turim em 1919 e suicidou-se em 1987, na mesma cidade. Participou na Resistência contra a ocupação nazi, foi preso e internado no campo de concentração de Auschwitz
domingo, 24 de junho de 2012
S. JOÃO e pouca festa
O S.João para mim, ainda hoje, são as sardinhas assadas com pimentos, as azeitonas, a broa, o caldo verde, as febras grelhadas, o chouriço assado e todos estes cheiros misturados. São as festas nas garagens, nos quintais, nos terraços e quaisquer espaços onde se faça arraial de música pimba são joanina, onde amigos e vizinhos dançam e pulam a fogueira, São balões, a serem lançados elevando-se pelos ares, no meio da algazarra da criançada. Um convívio aberto franco divertido.
É a ida aos carrosséis, o jogo dos matraquilhos, naqueles dias antes e depois da festa.
É ir para a praia de manhã cedo, passando pelo meio dos perdidos da noite que dormem no areal, tomando banho no mar como se estivesse numa piscina particular.
Nunca vivi o S. João do Alho Porro, ou da Cidreira e muito menos do martelinho, nunca me enganei com a história de que esta seria uma festa popular, sem pobres nem ricos, porque a verdade não essa. Os ricos misturam-se mal, e os pobres limitam-se a ir ver o fogo e regressarem a casa porque não têm dinheiro para gastar.
Este ano, ao fim de muitos, não senti a mesma animação de outros tempos. Não se ouve a música nas garagens da vizinhança, somente se come, se conversa, afinal a crise afecta as pessoas.
Já escrevi em outro blog, o que muitos de nós jovens fizemos em “tempos da outra senhora” nestas noites de S.João. Nos dias de hoje adequa-se bem que transformemos as festas populares numa noite de protesto e manifestemos o nosso pesar, não gastando nem participando na hipocrisia, de que o pobre quer é fado, futebol, família.
Todos sabemos que é só uma noite e, que por vezes, é necessário afastar os maus pensamentos e as dificuldades que a crise tem trazido às famílias, mas também sabemos, que os senhores que a criaram é disso que esperam para nos apertarem mais um pouco o cinto.
De qualquer modo quem não resistir que se divirta... sem se esquecer que no dia seguinte têm de voltar à luta novamente, assuma ela as expressões colectivas que tiver. Nas manifestações de rua, nas suas reivindicações nas empresas, ou outras, para que não pensem que nos adormecem.
sábado, 23 de junho de 2012
OUTONO E O AMOR
Outono em Nova Iorque. Ver o filme "Outono em Nova Iorque" deixa-nos embevecidos e com o coração carregado de dor e, ao mesmo tempo, seduzidos pela beleza do amor, alimentando esperanças aos mais incrédulos, levando-os longe nas expectativas sobre a riqueza de tal sentimento.
Não é estranho, por isso, que homens e mulheres, dos mais variados quadrantes sociais, culturais e políticos, vêem, lêem, e falam de amor e tudo o que ele envolve. Correm atrás do amor, para o receberem ou para o prodigalizar. Procuram-no como uma quimera, ávidos de sentir o tal sentimento que, na maioria dos casos, desconhecem mas tentam adivinhá-lo, nas diferentes manifestações. Às vezes descrevem-no de tal modo e dão-lhe tanto ênfase, que quase o tornam abstracto. Na verdade tentam descobrir se, de facto, ele cria borboletas no estômago, se ele faz tremer, ou se o coração pula ao ver a figura ou imagem do objecto do seu amor.
Compram-se discos, livros, flores, oferecem-se prendas variadas, em dias procurados, ou em dias de êxito, compensando as ausências, ou as permanências menos certas. Escrevemos, pintamos, somos criativos e empolgamo-nos mostrando as nossas fraquezas, as nossas capacidades, debaixo da inspiração de um grande amor. Este, por vezes, só existe na imaginação, é musa de inspiração para toda essa criatividade, mas na realidade o objecto do seu amor só existe na sua mente. Na realidade, apaixonados e sós. O ser humano tem uma enorme capacidade para fazer cenários, de acordo com as expectativas que cria para si próprio, e depois surpreende-se com os fracassos.
A Realidade, e a passagem do tempo com a sua crueldade, mostra-nos o engano, a simulação, a inépcia, a incultura, a superficialidade, o mofo mental. Essa realidade que, com o passar do tempo, torna mais evidente o apego, a dependência, a incoerência, o egoísmo e o desamor, quando confrontados com situações de infortúnio como o desemprego, uma doença grave, e várias outras que, na maioria dos casos, não tem as suas causas em qualquer deles.
Cathy Guisewite, escreveu como título do seu livro “Homens deviam vir com um livro de instruções”, eu penso que não deverá chegar a tal, mas talvez fosse aconselhável a quem procura um tal amor, fazer como dizia um antigo professor que só casara acima dos quarenta anos: “Oh pázinho, - tratamento carinhoso que ele usava com os alunos a quem respeitava – antes de casar escrevi uma carta à mulher, que era objecto do meu amor, dizendo-lhe que casaria com ela, se tudo o que pretendia e abaixo descrevia, fosse aceite por ela. Então enumerei os vários itens, do que eu achava importante para mim, para que fosse a minha mulher, e o que eu estaria disposto a fazer caso ela aceitasse. Ela aceitou, acrescentando pequenas notas, e casámos”.
O seu casamento durou até à sua morte, à volta dos oitenta anos. Era um casal amoroso, e de um entendimento ímpar.
Talvez para haver um grande amor, ou vir a ter um grande amor, fosse necessário ter um livrinho onde colocássemos as nossas vontades, uma espécie de deve e haver, onde os envolvidos deveriam expressar todas as seus valores, perspectivas, ambições, desejos etc. do que querem, para evitar sofrerem decepções e não perderem tempo em “romances” de desgaste, como dizia uma escritora, de roda-bota-fora.
sexta-feira, 22 de junho de 2012
VISTO À DISTÂNCIA
Com dignidade a verdade foi dita, o código dos segredos foi revelado, o coração ficou sem comportas, a vergonha deixou de existir. O número não mudou, a distância foi mantida. o silêncio não se quebrou.
Assumida a pausa, indeterminada, mas existe...que fazer?
...mesmo sem ser esse o seu destino, ele esteve lá, olhando o rio, sentindo o cheiro vindo do sul.. esteve lá tão perto... que se outras falas houvesse, se adorar fosse verdade, se no coração o amor restasse, oh, como o dia acabaria diferente. Olhando, olhos nos olhos, possivelmente a verdade...fosse ela qual fosse, desenharia liberdade ao futuro, ganharia a riqueza dos afectos...
Como era grande a riqueza emocional do que assistia. parecia rever um filme do passado, com milhares de pessoas, se manifestando. as emoções se misturavam. O povo e a sua liberdade, e as que vivia no seu íntimo.
Olhando o povo que o rodeava, exaltando na defesa dos seus direitos, manifestando o seu querer, não pode deixar de pensar na frase: “Os senhores nunca amam os seus escravos; exploram-nos ou compadecem-se deles.”
Exaltado com o que o povo fazia, exaltava-se na defesa no que acreditava e defendia.
“O merecimento nem sempre é egolatria, é dignidade”
quinta-feira, 21 de junho de 2012
NO ROSTO FECHADO DA MANHÃ
Sentado no café, como sempre, bem cedo, fiquei olhando através da vidraça a azáfama das gentes, que no corre-corre diário se deslocam para os seus múltiplos afazeres. E penso, coisa que ainda não tem qualquer taxa.
As pessoas transportam a angústia e o desalento no rosto fechado da manhã.
Não há alegria num povo que se sente amordaçado, pelo receio de perder o emprego, de não ter dinheiro para pagar os seus encargos mensais, de não saberem como alimentar-se com tão escassos recursos. Gente nova sem trabalho, desempregados nas filas do Centro de Emprego para o controlo. Gente idosa que deambula pelas ruas, sem eira nem beira, revistando caixotes à procura de objectos para vender ou, em alguns casos, alimentos.
As notícias nos media são ridículas. Os jornalistas sem espinha, defendem a voz do dono, e escrevem notícias que não revelam a verdade, ou dão parecer favorável às políticas dos governos e do capital financeiro que tudo domina.
Fala-se em democracia, e podemos perguntar, qual? A democracia da fome e miséria, do desemprego, das reformas chorudas, dos indivíduos que ganham ordenados vultuosos à custa do “Zé pagode”? De um SNS que piora a toda a hora e com taxas moderadoras que limitam cada vez mais a Saúde para todos, como diz a Constituição da República. Esta democracia, a única coisa que nos permite, ainda, é gritar e falar para o boneco.
É esta impotência perante a injustiça que vai calando dentro de nós, que nos tira a vontade de sorrir, e põe a grande maioria dos portugueses apatetados, olhando as telenovelas, sem se aperceber sequer da qualidade dos seus conteúdos. Para os programas diários da manhã das TVs, que parecem o Natal dos hospitais, ou para o futebol e as futeboleiras e chatas discussões sobre o mesmo ou, no pior, os Big Brothers da promiscuidade, que dizem, o povo tanto gosta, como se as audiências não fossem fruto da exploração da ignorância e falta de cultura das pessoas.
Antes de Abril de 1974, no S. João, aproveitavam-se os bailes de “bairro” para dançar, e na noite da véspera aproveitávamos as rusgas enormes para cantarmos a cada momento canções revolucionárias, que arrancavam sorrisos e gargalhadas das pessoas, como se fossem uma libertação. No meio da algazarra distribuíam-se panfletos subversivos. Mesmo correndo o risco de ser presos, havia a alegria de fazer algo de positivo para levar a esperança a todo um povo debaixo da repressão, e sorríamos por saber que não nos paravam a luta.
Neste país, se não ouvirmos algumas vozes discordantes que vão aparecendo e nos vão abanando, ajudando-nos a lutar e resistir, perderemos o sorriso, a alma e tudo o mais. E nesse caso, o melhor é um dia destes encomendar a alma ao criador, porque aqui já não vale a pena ficar
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INTELECTUAL FALA para o POVO
O discurso do 10 de Junho deste senhor, perante os pamonhas que fazem cara de atrasados mentais e de ignorantes, como se tudo aquilo que foi dito saísse da boca de um extraterrestre.
São as palavras bem escolhidas, as críticas contundentes e as soluções propostas que espantam, que fazem deste discurso uma lufada de ar fresco na pasmaceira medíocre dos portas vozes de quem governa.
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