terça-feira, 10 de julho de 2012

COMO SE ESQUECE?




Miguel Esteves Cardoso, Último Volume (Texto com supressões)
Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma.
(…) É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução.
(…) Dizem-nos para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

O MERCADO DA RIBEIRA FOI-SE... E AGORA??




Ao passear pela zona da Ribeira, do Porto, fico espantado como se transformou, num “centro de esplanadas”, e que os cidadãos, assim como os turistas, que querem caminhar pela marginal são obrigadas a fazê-lo pela facha dos carros.

Acabaram com o Mercado da Ribeira, talvez pelas feias “barracas” que tapavam as vistas aos senhores das esplanadas. Agora o passeio é largo e só tem mesas e cadeiras para gáudio dos cafés e restaurantes – as mesas e cadeiras ocupam a totalidade do passeio –e em frente no cais aparecem agora as bugigangas do artesanato, e uns guarda-sóis, tipo de praia, com umas bancas à frente, impedindo de igual modo a circulação das pessoas e tapando a vista aos “pastores que se sentam nas esplanadas à espera de verem o rio Douro e a Ribeira de Gaia.

São feitas obras nesta nossa cidade do Porto, em muitos dos seus espaços que não correspondem ao ambiente local, criando uma artificialidade, a todos os níveis. Como o disparate de alcatroarem a rua de S.João, que além de não “rimar” com o piso envolvente, nem com a zona histórica da qual faz parte. E esperemos que no inverno, com a acumulação das águas das ruas acima que ali irão desaguar, não se transforme num rio que faz foz no cais da Ribeira.

Não sei como explicar aos senhores que governam este país, sejam eles governo, sejam eles autarcas, que o turismo deve ser como as dietas de emagrecimento, ou se fazem com o intuito de mudar os hábitos alimentares, ou então volta tudo ao mesmo e para pior. Transformar a Ribeira numa esplanada gigante, ou feira, não é solução turística. As pessoas que deslocam àquele lugar, não querem ver só a paisagem, mas a realidade dos sítios e não a artificialidade criada para “turista ver”. Se não existem hábitos de cultura, de organização e serviços de utilidade pública, aquilo que se vê é uma maquilhagem grosseira das gentes da morfologia da Ribeira, porque na realidade o que existe são negócios sazonais, alguns de gente que vem de outros lugares, que acabadas as épocas de grande afluência, partem, e outros que são residentes e ficam “às moscas”, transformando o espaço em desertos de cadeiras e mesas. Isto sem esquecer, que todo este negócio de “turismo” acaba por expulsar os que ali residem, por perda das sua qualidade de vida e porque os preços praticados são incomportáveis, abrindo assim espaço aos privilegiados e boémios. É bom lembrar os muitos que “expulsos” das zonas ribeirinhas para o Bairro do Aleixo, que embora a promessa fosse de regressarem, por lá ficaram, e até ali estão também postos em causa.

Em todo o centro de Porto, incluída a Ribeira, se desertifica das famílias, mas aumenta o número de escritórios e serviços, ao mesmo tempo que os bares, cafés e restaurantes gourmet, ou pretensamente populares, sustentados estes por um público muito próprio, que gostam, dizem eles, da “movida”(?). Pena é, que aqueles que de manhã cedo se deslocam por aqueles lugares tenham de levar com o cheiro a urina, que preenche o ar.

P
odem alguns dizer, que muito se tem feito para melhorar a cidade, tenho dúvidas legítimas quanto à qualidade e integração dessas melhorias e do benefício que tem representado efectivamente para os portuenses residentes da cidade.
Valerá a pena ler o texto "Os cafés do Porto! de Maria Teresa Castro Costa, para perceber a mágoa com vejo a minha cidade que me viu nascer, se transformar. Deixa de existir a cidade dos portuenses, mas a cidade do negócio sem cor e do turismo com dor.

sábado, 7 de julho de 2012

AS PALAVRAS VÃO MAIS LONGE

Os lábios se selaram assombrados pelos seus pensamentos.

Como seria, se as palavras saíssem voando dizendo da cor dos sonhos, revelando o cheiro das flores, falando de abraços beijos e cansaços. das conversas faladas junto do travesseiro, dos sonhos vividos, dos momentos sofridos, das gargalhadas soltas. do medo que se percam nos dias. das ternuras sim as ternuras dos teus gestos. dos teus dedos, que na carícia traziam para dentro de mim, bem dentro, bem fundo, o desejo de te amar. Perderiam elas o sentido quando largadas no ar mitigado de oxigénio, de vida. Transformar-se-iam, perdendo o corpo. Seriam de todos menos de ti, seriam gostadas, menos por ti, que não as ouvirias, porque partistes e a distância te transformou tal como um rasto de avião que se desfaz lentamente no céu.

Resta-lhes ficar dentro de mim, fazendo puzzles comunicacionais, procurando rimas, sentidos, emoções outras, que não as delas, mas que partem delas, e se dispersam e reagrupam como que perdidas nos labirintos da razão.

Talvez com o tempo surjam no papel, umas com letra de forma traçado e espessura irregular, outras firmes e decididas misturando maiúsculas e minúsculas, a revelarem a sua essência. É verdade que deixarão de ser tuas, passarão a ser do mundo, porque todos as conhecerão, embora sempre tu dentro delas. E acredito arriscar, que um dia, olhando em diagonal a montra que por ti desliza, ao caminhar em ruas de um outro lugar, as vejas tituladas e assinadas, e saberás que são tuas, só alguém que te conhece o cheiro, te caminhou na pele, as saberá dizer e fazer chegar tão longe.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

"AS ARVORES MORREM....DE PÉ"

Entrei na garagem e olhei para as prateleiras colocadas numa das paredes. Lá estavam elas, cerca de trinta esculturas de pequeno porte feitas em madeira.

Fiquei maravilhado e, ao mesmo tempo, espantado com o que vi. António Alberto, engenheiro de profissão, falecido há bem pouco tempo, deixara um precioso legado em arte.

Segundo me dizem, todos os troncos, raízes, ou galhos de árvore que encontrava nas suas viagens, fosse dentro ou fora do país, sempre serviam para transportar para casa e transformar em máscaras, figuras eróticas, mini-gigantones.

Todos aqueles pedaços de madeira ganharam vida suplementar, com uma ligação muito forte a cada momento vivido, e com uma riqueza plástica assombrosa.

A evolução da sociedade tem permitido que as pessoas, na sua generalidade, tendo mais acesso às obras de arte e aos artistas, enriqueçam o seu conhecimento estético e invistam com entusiasmo na sua própria realização artística. Daí, ser vulgar nos dias de hoje ver-se pessoas, cujo despedimento ou reforma foram motores de desenvolvimento de uma actividade artística, por vezes ao longo de anos escondida e postergada, por razões de sobrevivência económica ou por falta de oportunidade para a poderem desenvolver.

Esperemos que o futuro nos traga, ao contrário do que os poderosos da alta finança pretendem, uma maior satisfação na realização e escolha do nosso percurso profissional. Uma maior independência económica e de tempo, para que todos possamos desenvolver no nosso quotidiano outras actividades de âmbito cultural e artístico.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

OLHO MAIS LONGE



Olho mais longe
Que o brilho do sol
E vejo o verde de teu mar

Olho e vejo o sorriso
Escondido nesse espelhar
Não tapando o teu amar

Altivo olhar na distância
Sem medo de enfrentar
E superar a sua ânsia
Na hora de avançar

Na beleza seu poder
Na mente sabedoria
Em seu rosto a alegria
Do um amor a acontecer

quarta-feira, 27 de junho de 2012

27'JUN'2012



Nasceu no seio da dor
No ventre da mãe
Viveu seu primeiro amor

No primeiro tombo
Ficou a marca de sangue
E calou-se de assombro

Como não era d’ouro
O lugar de seu nascer
Agarrou os cornos do touro
Para se desenvolver e crescer

Agastou-se no aprender
Coisas que os outros queriam
Não chegou a saber
Tudo o que pretendiam

Depressa ao trabalho chegou
Ainda com frágil estrutura
Nunca mais a sua mãe o mimou
Fazendo homem a criatura

Sem abundância de pão
Seu corpo se habituou
E assim ganhando outra razão
Em princípios que não pensou

Crescendo se foi fazendo adulto
Com politica, arte e livros fez parceria
Plantando novas ideias e culto
Na esperança de um novo dia

O dia chegou com a revolução de Abril
E nova vida em seu coração floriu
Dias de alegria, amor e luta foram mais de mil
E muita estória na sua vida surgiu

Os anos se foram passando
Tudo que fica são memórias
Que valeram pelas vitórias
Deste povo que foi amando

Resta hoje para aqui ficar
Sua filha e seu neto a ver crescer
Que todos os dias ao acordar
Lhe dão razão para viver

No entanto não se desvanece
Nestes dias hoje atribulados
A esperança de que o amor cresce
Mesmo em dias nublados.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A VERDADE É SÓ A VERDADE


A história de Rachel Armstrong, uma jovem repórter da secção nacional do Capitol Sun-Times, um dos mais importantes jornais diários de Washington

Uma jornalista publica informações secretas supostamente vindas de um agente da CIA, ao ser intimada a denunciar a sua fonte recusa-se a fazê-lo e acaba sendo presa por desrespeito. Encarcerada, e sofrendo vários atentados a sua integridade física, perpetrados com a conivência das entidades prisionais, continua recusar-se a fazê-lo, para não trair a sua ética profissional.
De início ela tem total apoio do marido, mas diante da demora na resolução do caso ele passa a questionar a decisão da esposa por ter comprometido as relações familiares.
Só no quase no final do filme se sabe quem é a sua fonte, quando o realizador faz um Flash Back, mostrando-nos o momento chave da obtenção dos seus elementos para notícia. É aí que melhor percebemos, que é muito mais do que a sua ética que está em causa.
Baseado em factos verídicos, o filme torna evidente forma como funciona o poder e a “democracia” EEUU e quais os artifícios usados por esse poder, para pressionar e tentar destruir moralmente a jornalista.

O filme é intenso e trágico, e bastante actual.
>Grande interpretação da actriz Angela Basset, no papel de jornalista
NOTAS:
Ano de Lançamento: 2008
Nome: A Verdade e Só a Verdade
Nome Ingles: Nothing But the Truth
Gênero: Drama Suspense
Tempo de Duração: 115Minutos