sábado, 28 de julho de 2012

UM DIA NUM JARDIM



Um dia num jardim
Vi um casal a se beijar
e de repente ela fugir
sem a cabeça rodar

E a rima assim surgiu.

Tens medo da paixão
Tens medo de te entregar
Será melhor o tempo passar
a perderes o teu chão
ou deixar seguir o coração

Travas os sentidos
Desprezas as palavras
Nos teus ouvidos
Segregadas
Por outras menos ajustadas

Tu que saltas e danças
Ris com alegria
Tu que vives tudo num dia
Que adoras a cantoria
Tu que usas a voz das crianças
tens medo de criar esperanças

Tens medo de viver
a novidade acontecer
na realidade dos dias
ou será de aprender
e ter outro tipo de alegrias

Porque não soltas a alma
e vais pela tarde calma
e voltas ao mesmo jardim
Onde tiveste a serenidade
de um beijo de alecrim

DC

sexta-feira, 27 de julho de 2012

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER


Mulher como se pode aceitar
na vida, quem nos massacra
fazendo do seu amar
a nossa via sacra.

Como podes amar
alguém que teu rosto marcou
Como podes aceitar
quem na violência
teu corpo tomou

Dizes ser ele teu homem
perdoando-lhe o seu pecado
e as dores que te consomem
no teu corpo marcado.

Dia à dia te enxovalha
na violência com que te toca
Umas vezes a razão é o trabalho
outras a vida que o sufoca

Sejam quais forem as razões
com que ele se vitimiza
Sempre arranjando explicações
Na verdade na violência se exercita
marcando teu corpo
com as suas humilhações


Amor em raiva e ódio alimentado
não existe em nenhum lado
Os seus actos ou justificações
são de um ser perturbado
que te mata as ilusões

Mereces ternura, aconchego
Mereces mudar esse teu fado
Foge desse pretenso amor
que viola teu corpo te causa dor
e deixa teu coração amargurado.
Vive e ama quem te merecer
Vive a liberdade de rires como te aprouver
Vive a liberdade para não perecer
nas mãos de um qualquer
Vive liberdade de seres mulher

DC

quinta-feira, 26 de julho de 2012

TIRASTE-ME AS PALAVRAS



Tiraste-me as palavras
Agora não sei falar
desse sentimento
que os poetas gostam de cantar.
Não sei dizer
se as palavras me levaste
e com elas o prazer
de um dia com ele te conquistar,
ou se me roubaste
a alegria que engrandece o seu rimar

Sem elas e o que significam
não se revela o melhor de nós.
Ficamos sem norte,
sem saber explicar a dor da morte
e o que sentem amantes pais e avós

Gozar com as palavras
só para com elas rimar,
não é praia do poeta,
é o jogo perigoso e obscuro
de um qualquer pateta.

Se alguém usa as palavras
que expressam sentir tão profundo
de forma tão leviana.
não passa de um ser sacana
não deve existir neste mundo

DC


quarta-feira, 25 de julho de 2012

UMA ESTÓRIA DE BOIS E VACAS


Nesta estória de silêncios que frequento, vou divagando e pensando em coisas que não lembra o diabo, como aquele aforismo (argumento dos idiotas) popular que diz algo parecido com isto: “casal sem cornos é como um jardim sem flores", que eu julgo ter a ver com os bois e as vacas.

Esta afirmação fez-me projectar para a estória dos bois e as vacas e muitos outros animais, que já nascem com cornos e gozam da erva. E que têm personalidades e “estar social”, que vale a pena realçar.
São livres não ficam corados quando mentem e nunca olham nos olhos.

São afáveis e mostram sempre a sua admiração, mummmm mummmm um pelo outro, sem grandes discussões ou argumentos.


Não são envergonhados, são até um pouco exibicionista pois não têm vergonha de fazer sexo em público.


Fazem amor à canzana sem preconceitos, e só não dão beijos para não ficarem de línguas enroladas.


São muito simpáticos um para o outro, marram, e marram bem. No entanto, por vezes o façam, para porem na linha um macho atrevido que aparece fora de tempo, ou na fêmea quando abusa da liberdade de andar de cornos ao alto.


Embora em algumas raças, as vacas tirem os cornos bem cedo para não se incomodarem umas às outras quando em casa, ou quando saem as compras no meio das pastagens e para não ficarem com complexos desde pequeninas.

As vacas andam sempre umas com as outras, a não ser quando comem ou são comidas.
São uma ternura, aqueles olhos de bovino, parados, as orelhas a mexer tipo ventoinha para afastar as incomodas moscas. Tem um traseiro cinco estrelas. com um rabinho todo mexido sempre que sentem algo a roçar-lhes o pelo.
Os bois também tem o seu ar interessante, normalmente não lhe cortam os cornos, machos que são, gostam de assumir os enfeites. Alguns são bravos, e é entendível com um peso nos cornos daquele tamanho deve custar um pouco, embora se conste que são muito liberais. Ultimamente andam preocupados pois as vacas andam meias loucas e não sabem o que lhes fazer.

E aos bois não há medicamento que chegue, desde que se lhes meteu na cabeça que são de sangue azul.

Ainda há dias a AAPVBT*, teve de aprender tudo o que havia no talho porque as vacas presentes estavam todas loucas. Tudo isto em tal alvoroço que estragava a meditação e tornava meu silêncio em vão.

DC

AAPVBT*- Alta Autoridade Para Vacas e Bois Tresmalhados

terça-feira, 24 de julho de 2012

SILÊNCIO INTERIOR



Como explicar o mundo que se gera dentro de nós quando estamos horas em silêncio? Vemos o mundo que gira e vive fora de nós como num filme em câmara lenta. Pensamos em tudo sem que aqueles que nos rodeiam se apercebam, ou sintam as nossas vibrações.

Por vezes penso será o mundo de silêncio dos surdos? Como viverão eles o dia à dia, sem os ruídos, que o nosso silêncio não tira? Nós temos mais propriamente mutismo. silêncio porque estamos calados. Silêncio, porque estamos atentos precisamente ao que ouvimos fora e dentro do nosso cérebro.

Há quem diga que o silêncio “fala”, substitui a resposta que se não quer dar. Se assim for não é silêncio, pois comunica-se algo nesse silêncio. O silêncio, silêncio a que me refiro, é aquele que não pretende falar, mas que é vivido por dentro de nós, e não existe som mas pensamento.

Sentimos um silêncio dentro de um outro silêncio do qual tememos o caminho para onde nos leva.

Só e silêncio, duas formas de estar perante o universo que nos rodeia, tentando a todo o momento passar para o outro lado desconhecido, que gera os sonhos e nos leva para uma outra dimensão, que não sabemos se avançada ou atrasada em relação ao presente. Navegamos sem mapa nem bússola de uns temas para os outros em nanossegundos. Sem nos fixarmos muito tempo num único assunto, vamos entrando numa espécie de transe.

Os ruídos são perfeitamente distintos entre si, como se uma orquestra com os seus diversos instrumentos produzisse uma sinfonia dentro da nossa cabeça. Um pássaro, o ruído de fundo da estrada, o barulho das pessoas nas escadas, conversas distantes das quais não estamos interessados, gritos e choro de criança, o frigorifico e o seu ronronar. se fecharmos os olhos quase sentimos o sangue a circular no corpo.


“ Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. ” Antoine Lavoisier

Assim é o nosso viver, seja ele de silêncios e emoções. A alegria de ontem a tristeza de hoje, a miséria de uns enriquece outros. O cérebro não pára o clique é constante, Sim a temperatura está agradável... não sei para que escrevo isto. se calhar ninguém está interessado no silêncio, ou no que eu penso sobre o silêncio... será que pensamos bem nos outros, nas nossas atitudes... quem são os outros que não tenho na equação...os amigos..sim existem.. embora distantes e nem sempre disponíveis... pois sim, mal me conhecia e julgava-me...será que conhecia...saudade, gostar...amar?... porque será que o António se pega comigo, serei eu o ranhoso o chato, se calhar sou...tenho de me corrigir...é bom por vezes não ouvir as mesmas pessoas...ah como é difícil conviver...conviver não é difícil a sociedade é que nos lixa..sim torna-nos egoístas a todos... um pouco.. olhamos mais para nós próprios...porque será que somos tão impacientes e não temos tempo para os outros???... a vida precisa do dinheiro como diz o outro “ o dinheiro não trás a felicidade mas ajuda”...a merda deste governo que nos deixa sem dinheiro.. lixa-nos a vida...os cabrões dos bancos é que se safam...tem de haver outra revolução....pois.. como será o silêncio dos outros, será igual ao meu, ou mais confuso, e será que têm estes momentos de silêncio... bem tenho de preparar o almoço...chiça sempre a mesma merda de rotina... e comer ouvindo na nossa cabeça o ruído dos talheres batendo, a boca mastigando e o vinho a ser sorvido, o cheiro dos alimentos.. quando comemos acompanhados não nos apercebemos...sim está cada vez mais complicado viver do salário..ou da reforma.. quando for ao médico terei de lhe dizer que falo de mim para mim, em silêncio... será que vai pensar que estou doido...estarei?... já nem sei...é tudo tão estranho...

Nesta rotina cerebral do silêncio, julgamos somos julgados, apreciamos analisamos e vivemos tudo e registamos num grande rolo de papel higiénico onde assentamos tudo e não sabemos se vai ter o mesmo fim para o qual o papel foi criado.

Será, que na manutenção do silêncio interior, conseguimos mudar e fazer discursos variados conforme o dia e a disposição ao acordar, ou fazemo-lo como necessidade de ir limpando sistematicamente todos os últimos pensamentos, como se de uma catarse intencional? Tudo fica registado no disco rígido do nosso computador cerebral, máquina infernal que deixa de fora tudo o que o incomoda sempre que é preciso, quando não acontece é grave pode resultar em loucura.

Este silêncio será um pouco como uma regressão, com visitas constantes aos diferentes momentos do dia, como pode ser ao nosso passado. Sim porque se herdamos dos nosso pais morfologias genéticas, o nosso cérebro também deve fazer o mesmo. O computador cerebral deve ter também o registo do passado de nossos avós, bisavós e por aí a diante. Daí dizerem que o nosso cérebro quando hipnotizado, ou em determinadas situações se “relembra”. Este assunto das regressões é divertido, porque a nossa cabecinha deve trazer à tona coisas do caraças. De certeza que não fomos nós que vivemos nesse tal outro tempo, mas sempre acredito que o registo no nosso cérebro traga ao de cima as tais memórias dos nossos antepassados. Às vezes até se diz: “Pareces o teu avô...”. Claro... lá está o meu silêncio a pregar-me partidas...a trazer-me ao caminho pensamentos perigosos.

Às vezes somos tal mal interpretados, é melhor de facto fechar a boca e deixar que os outros digam o que lhes vai na real veneta, enquanto nós, ficamos no nosso cantinho de silêncio esperando que tudo passe.

Nunca tinha pensado o silêncio desta forma. Será mesmo o silêncio ou a solidão? Dizem que a solidão por vezes funciona de modo positivo, para termos tempo de pensar nas asneiras, nas coisas boas que fizemos, dos passos que demos e os que podíamos ter dado. No fim meditar, não fixar o pensamento e olhar para o invisível, ou fechar os olhos e deixarmo-nos ir. Não, deixarmo-nos ir é perigoso, nunca sabemos o que iremos descobrir, o melhor é não chegar aí. O nosso cérebro avisa-nos, torna a respiração ofegante de repente e fugimos desse outro lado para onde nos sentimos ser arrastados.

Neste silêncio retiro, onde no meio dos outros, se está só, é-nos permitido ficar mais cientes de nós e encontrar as respostas que no mundo ruidoso que nos rodeia são difíceis de encontrar. Nem sempre, nem nunca, mas de vez em quando é necessário, a bem da nossa estabilidade física e mental.

DC

segunda-feira, 23 de julho de 2012

NA PRAIA COM MEU NETO


Hoje fui à praia com o meu neto e deliciei-me. A forma como me apareceu vestido de calções e t-shirt, boné na cabeça na cabeça, mochila às costas, preparadíssimo para ir para a praia, deixou-me de olhos brilhantes tal era a sua felicidade.
Na viagem, dentro do carro, começou a falar do tempo dizendo que o “dia tinha o sol bom”, que havia “outros de vento que num apetecia a praia”.

Chegamos, o estacionamento da praia estava cheio, manifestei em voz alta o meu temor de ter lugar para o carro, Ele dizia, “é temos de ter”. Encontramos um espaço já no extremo do parque e ele todo vibrante dizia, “vês vô eu disse, eu disse que arranjavas lugar”.

Em plena praia ao colocar-lhe o protector solar em spray, dizia-lhe para fechar os olhos, que ele fechava com força e depois perguntava “já posso abrir, já vô?”.
Depois foi um fartote de brincadeira, fugindo das ondas, rindo de satisfação com os baldes de água salgada – brrr fria — pela cabeça abaixo, a seu pedido, o gozo de encostar as mãos frias ao meu corpo. As suas mãos infantis enterrando-se na areia, agarrando-a atirando-a ao mar. Os seus gritos de alegria a correr para se molhar, vindo atrás de mim para me molhar atraiam o olhar das pessoas que sorriam com a sua alegria e que me deixava completamente “babado”, tal era comunhão entre nós.

Já na toalha os seus olhitos piscando pelo incómodo do sol, a mastigar bolachas, tinha um sorriso malandro ao questionar-me sobre as minhas preferências, para ele poder ficar com as que tinham mais açúcar, de vez em quando bebia um golo de água da garrafa, enquanto isso, eu olhava-o pensando como ele assumia entre nós uma atitude compincha e partilha.

Não pudemos regressar a casa sem que fossemos primeiro ao “nosso” Jardim das Sete Bicas comer um “geladinho” que ele fazia questão de saborear, ficando no final, como qualquer criança, com gelado espalhado por tudo o que é cara e mãos, acabando tudo no lavatóriO com muita água.

Foram duas horas de pleno gozo emocional. Determinando em mim a necessidade de manter vivo e activo, para aproveitar o mais que puder o desfrute de tais momentos e se possível deixar-lhe as melhores memórias para quando definitivamente ausente.

Mal saberá ele a satisfação que me dá sempre que pronuncia aquele “Vô?”

22JUL2012

O MEU ESCRIFALAR



Muito do que escrevi, escrevo ou escreverei tem rastos de vida, tem pele esfolada e ardência que causa dor.
Tudo o que os outros, de igual modo, escrevem para que eu leia, contribuem para o design do percurso das minhas palavras. 
Não há deste meu lado, a pretensão da linguagem e capacidade daquele que é escritor, somente escrifalar, do muito que a sensibilidade e observação sugerem, e, talvez pôr em palavras aquilo que por vezes a timidez ou outras razões nos impedem de fazê-lo de outra forma. 
De qualquer modo escritafar, seja de sonhos, cicatrizes, risos ou tristeza será sempre um modo saudável de catarse da alma e terá sempre o ADN de quem o faz.