segunda-feira, 6 de agosto de 2012

DáMe MúSIcA quEuGoStO


Transformado pela novidade dos dias que sempre acontece, vou navegando na solidão assumida e no conforto daquilo que de outras paragens me chega.

Quando ouço música, não perco tempo(?) falando, seria um desperdício fazê-lo. Nem me ouviriam, nem me entenderiam. Por vezes falamos aos peixes, outras vezes falamos perdidos na esperança, de que as nossas palavras cheguem a ouvidos atentos, penetrem em cérebros interessados no que é escutado e sejam fonte de novo discurso futuro. É tão difícil comunicar, quando quem nos escuta não tem os auriculares da compreensão afinados e nos perdemos falando repetidamente. Dizem que o ser humano fala demais, se assim fosse o nosso aparelho de comunicação não seria uma boca, de lábios cheios, mas um bico seco de pássaro. E se não fossem as falas, o que seria dos escritores, tantos e bons que por aí proliferam, nem as outras ciências encontrariam caminho no registo da descoberta.


Seria injusto distrair-me da música para escrever ou falar, seria quase como cometer o sacrilégio de misturar coca-cola com vinho, estragaria este último especialmente. Não ouço música lendo, ou falando, perder-me ia no discurso em ambos os casos o que resultaria péssimo.


A frase “dá-me música que eu gosto”, um dito muito comum para chamar a atenção daquelas pessoas que gostam de ironizar, ou pretendem gozar, connosco. é uma ofensa à música e às palavras, mesmo quando por brincadeira. Nem toda a música é para dançar, e muito menos para “dar música”.

A música entra dentro de mim, agita os circuitos nervosos, enchendo-me de pensamentos diversos e enriquecedores preparando-me o caminho para o silêncio interior afastando a carga emocional que o esforço de comunicar nos obriga.

A música ao contrário de tantas outras artes é de uma abstracção quase total, e no entanto a sua comunicação é enorme, chegando bem dentro bem fundo na nossa sensibilidade. Será ela, talvez, a melhor forma de expressão artística, que nos ajuda a fazer entender outras manifestações de arte abstracta como a pintura, ou a escultura, aos olhos dos leigos, que espantados ficam observando, incrédulos, determinadas obras que se lhes deparam.


Ouvir música é uma acto único, ao qual a dispersão da concentração não lhe é favorável, daí não apreciar concertos, mas audições solitárias. Não faço questão,
  embora tenha algumas preferências, quanto aos “tipos”, géneros, e, ou estilos de música que existem, numa classificação tão polemizada, abarcando um leque imenso de gostos e pensamentos abstractos. Importante, importante é ouvi-la

Ouvir música, é sentir-me projectado para um templo onde não existem deuses, a existir distrair-me-iam. E eu quero viver a ausência de mundo, galáxia, ou seja lá o que for.


Quero ficar no éter em que os sons me levam.
"A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende." - Arthur Schopenhauer

domingo, 5 de agosto de 2012

PALAVRAS PARA QUÊ?


Além da qualidade do filme em si, a beleza da estória que ele conta. É difícil não ficarmos perdidos pelo encantamento. De morrer.

Tão bonito seria, ver algo semelhante entre seres humanos

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

NA BELEZA DAS IMAGENS


Na beleza das imagens
Se deduzem mundos e fundos
Levando-nos a outras paragens.
A pensares e saberes,
a prazeres mais profundos.
Por vezes corpos enleados
por vezes somente deitados
outras vezes flutuando
em inebriado perfume
de corpos somente amando.

DC



terça-feira, 31 de julho de 2012

OS HOMENS E MULHERES DE AMANHÃ


O sol encoberto o vento gelado e um sonho desfeito na cabeça do miúdo(?). Há mais de três dias a pensar no dia de praia, que iríamos passar. Quem podia conjecturar tal, depois de no dia anterior ter estado um dia de sol e boa temperatura?

De véspera, foi uma azafama. Preparar a mochila com a toalha, fato de banho, protector, as bolachas, os indispensáveis balde regador e pá para construir castelos, outras coisas que lhe apeteçam.

Dormir foi um repente, logo bem cedo acordado sem precisar de aviso, e aí está ele preparando-se activamente, até que chegue a hora de o ir buscar. Já sabe que o céu ameaça borrasca, mas ele não desiste e diz: “ Vô leva-me na mesma à praia”.

Quando o fui buscar, entrou no carro, ouvindo os vários conselhos da avó paterna, para que tivesse cuidado, que o melhor seria não forçar o avô a ir para a praia, porque apanhavam muito frio.

Todo pimpão, sentado na sua cadeira, foi dizendo o que lhe apeteceu sempre tecendo comentários que levassem a decidir que a praia era o destino. Nem aliciá-lo com um ida ao centro comercial, o fazia mudar de ideias. Perante tal insistência lá fui eu para a praia. Não sem antes tomar o meu pequeno almoço e ele um bolo de chocolate.

A praia estava praticamente deserta estariam se muito uma dúzia de pessoas, umas escolhendo lugares perto dos rochedos, e uns outros montando tenda. A maioria com casacos vestidos ou enrolados em toalhas.

Tentei de demove-lo de sair do carro, mas foi tempo perdido. A solução foi convencê-lo irmos passeando no trilho junto ao areal para nos habituarmos à temperatura.
Por muito que lhe dissesse que estava frio nada adiantava, todo mexido ia apanhando pequenas flores amarelas, “ as mais bonitas do mundo”, casaco vestido e não desistia.

Acabamos por ir para a areia, tantas foram as soluções que ele apresentava para todas as questões que lhe colocava que desisti. A persistência dele acabou por vencer.

Para não ficar gelado, lá me mobilizei, a mim e a ele para simularmos ter uma plantação que precisava de ser regada e daí teríamos depois de ir ao mar, etc. etc., foi uma alegria até saltou. Mas...

..aqui deu-se a novidade que deixou assustado, o rapazinho a tudo dizia que sim, e ajudava sempre a fazer o que já estava feito, ou então dava ordens: - Oh vô, vai buscar água! Quando simulei as plantas usando penas de gaivota, ou quando fiz uma cerca com cascas de mexilhão, ele continuava atento ao meu trabalho e dizia – Oh vô vamos buscar mais!. O safado via os objectos no chão: “ Oh Vô olha ali, apanha!”, “ Oh Vô vai buscar mais água!.

Ao fim de algum tempo já com a “plantação” feita, pus-me a raciocinar, sobre o assunto e deduzi, de mim para mim...” Esta ganapada só sabe mandar e quer tudo feito, ao seu jeito e sem trabalho, exigem...Onde e como aprendem eles a quererem que os outros sejam seus servidores, onde aprendem a mandar?”. Os avós, por vezes para terem a sua atenção, facilitam um pouco sendo permissivos e fazem mais do que deviam, mas neste caso, não era assim ele já vinha com a “escola toda”, e eu não era muito dado a facilidades.
Pensando bem no assunto decidi mudar a atitude e fiz-lhe sentir isso. A partir daí tudo mudou, comecei eu a ditar as regras, e como tal sua excelência mudou logo o seu “aspecto” ficando silencioso, e de cara fechada, até ao momento de voltarmos para casa. Não me consumi muito com o assunto, e já dentro do carro para o provocar lhe perguntei:
– Que se passa estás mal disposto?
– Sim estou!
– E porquê? – pergunto eu
– Não sei. Com ar enfastiado
– Não sabes? Se calhar foi de irmos à praia e apanhares frio.

Riu-se com sorriso aberto e começou a ouvir “o areias é um camelo”, com um sorriso malandro. Ele percebeu de imediato que a má disposição podia ter inconvenientes futuros, ou seja não ir tão cedo à praia, como tal era melhor mudar.

De facto estes miúdos parece que nascem com “muito andamento”. Não sei se é dos infantários ou do modo como os pais os educam, na verdade têm sempre resposta na ponta da língua, e estão mais treinados a ver e a mandar fazer do que fazerem eles próprios.

Nós os avós é que estamos tramados, porque nem sempre estamos com eles e como tal não podemos ser muito severos, se não eles “piram-se”. Perante isto temos de usar toda a experiência e manha para que eles não fujam do nosso convívio e possam aprender algo diferente do que aprendem com os pais e os amigos. Todo o cuidado e pouco, sem deixar que abram muito as asas, se não, quando crescerem, ainda nos fazem como aquele outro, que deu uma sova no avó porque não lhe deu o carro que ele queria.

Quanto a nós avós cá vamos continuando a tudo fazermos para beber da sua presença nas nossas vidas, dando-lhes mimo e vivências diferentes, sem perder do horizonte que eles serão os homens e mulheres do futuro, e como tal devemos contribuir para a sua formação como tal.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

SUAVE SOL QUE ME AQUECE

Suave sol que me aquece
Belo o sorriso que me enternece

Belo o rosto e seu olhar
Suave e doce o seu amar

Rosto que amanhece
Para me encantar

Sorriso que enternece o meu amar
E aquece o brilho do seu olhar

DC
http://www.youtube.com/watch?v=TZJt_pDR7wo&feature=plcp

domingo, 29 de julho de 2012

PELA MADRUGADA


...a noite não assusta. o silêncio deixa-nos o martelar do sangue nos ouvidos como companhia. a mente trabalha constantemente procurando não se fixar em nada, para que se não repita o cheiro da ausência, para que tudo se vá fluindo. sem carneiros para contar. não deixar que os sonhos surjam acordado, e lhe tirem o descanso. não pensar nas coisas que ficaram por dizer. abafar os restos de memórias que ainda não se apagaram. é urgente lançá-las da ponte imaginária, para o rio sem nome, onde tudo desaparece na foz de coisa nenhuma.

... a madrugada chegou sem que o sono surgisse. talvez a mudança do tempo, o frio, ou a humidade da noite estivesse na sua razão. na verdade a pele molhada de gotas de suor, dizia o contrário. o corpo gelado ressuava com o calor da noite. afinal não era a mudança do tempo, mas a mudança da alma, era o gelo que ficara mumificando para que não transbordassem os sentimentos, para deixar sim, que o relógio do tempo, fosse decorrendo lentamente, para que a cicatrização se fizesse, cuidadosa, para que as marcas se atenuassem, para que as dores da cura se tornassem invisíveis. No futuro só ficaria uma ligeira diferença de tonalidade que se confundiria na vulgaridade dos dias.

... o dia aproxima-se a passos largos entrando pelas frestas das persianas que de forma descuidada não ficaram devidamente cerradas. com ele desaparecem os fantasmas e ocorrem as rotinas de todos os amanheceres. da noite ficou a cama desfeita, a mancha húmida com o desenho do corpo e a almofada outrora preenchida. DC



sábado, 28 de julho de 2012

EM MIL IMAGENS


Em mil imagens a fixei
na busca do que procurava.

Na verdade aquilo que eu sei
Aquilo que tanto desejava
Não foi o que encontrei.

Fui do geral ao pormenor
tudo apanhando a cada momento
Com chuva sol ou vento
procurando o seu melhor
Fosse o cabelo, o rosto, os olhos
ou corpo em movimento.
Não encontrei tal sentimento.

Seu narciso pensamento
encontra no espelho o meu olhar
e nele todo o tormento reflectido
dum sonho pretendido
ainda por realizar

Na verdade um dia
por momentos aconteceu
Nos seus olhos o brilho se acentuou
a ternura brotou
e toda se elanguesceu
Ficando no ar promessas
que a imagem fixou às avessas

Na verdade tudo isso teria sentido
se ali se cumprisse a premissa
Que são precisos dois
para um par formar
juntos no mesmo dançar

DC