terça-feira, 13 de agosto de 2013

ASSIM SE DEIXOU SONHAR




Deixou-se correr
            com os pontapés da natureza
a limar o seu corpo
            da sua rudeza
e assim renascer.

Sofreu dores e descaminhos
            sem saber por onde ia
mas em si reconhecia
            sua pele
            se transformava
 
Os dedos já não magoava
            aos que nela tocavam.

Com a doçura dos seus olhos
            sentia que a apreciavam.

Deixou-se ficar
            no desfazer da onda
na areia da praia
            sem pressa de partir
pois alguém poderia
            nela pegar
e com sua mão a acariciar
            num outro moldar.


Assim se deixou sonhar

DC

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

ENTRE PALAVRAS..





...se perde a realidade, fica o vazio, como entre cada minúsculo pedaço de matéria.

Qual a dimensão do vazio, será que tem o mesmo volume da matéria, ou será maior?

O negro absorve a luz, não é cor, Razão para tanto gostarmos da luz do sol e encontramos nela um prazer especial, o brilho do arco-íris.

Talvez como a luz descobre os objectos, ocorre a necessidade dos episódios de riso se instalarem entre cada frase, entre cada escuta, como que procurando preencher vazios, ou anular o constrangimento dos silêncios prolongados pelas incertezas.

Dividimos a atenção entre o lá e o cá, numa escuta intermitente a duas vozes, onde se mistura o que se diz, com aquilo que vamos ouvindo e vendo nos outros, que à nossa frente se vão mexendo e falando.

Incapazes, deixamo-nos converter ao papel dos mosquitos, encadeados pela luz do rectângulo, em vez de vivenciarmos cada segundo, cada abraço, cada momento de encontro possível.

DC

sábado, 10 de agosto de 2013

Como seria bom poder viajar...





...numa estrada sem fim, com um horizonte sucessivamente renovado, sem rota, saboreando cada bocado de vida que se proporcionasse, enriquecendo de saberes, de sabores, e múltiplos prazeres. Sem destino, e muitos lugares para andarilhar. Aproveitar os momentos de caminhar sentindo as águas da chuva escorrendo pelo corpo e cortina sobre o rosto modificando o olhar, O calor morenando a pele, a brisa do fim de tarde, O pôr do sol, O amor acompanhando os fins de tarde, numa esplanada perdida algures num qualquer lugar.

Mas vão-nos cortando as asas, para que nos resignemos à missão de trabalhar e fiquemos pelas imagens das paisagens, das casas, dos mares, dos campos, das cidades, dos diferentes povos que desfilam perante os olhos, através do cinema, televisão, ou internet, Como é injusta, a sociedade em que vivemos.

Nada é definitivo só a morte, tudo mais é transitório e dura o que tem de durar não mais do que isso. Gostamos e desgostamos, começamos e recomeçamos, fazemos e desfazemos, sempre ambicionando mais e melhor, como é natural, por isso só nos resta lutar, sem desfalecimentos para obter a tal sociedade mais humana mais igualitária, que nos aproxime da realização dos nossos sonhos.


DC

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RESPIRO-TE na noite ACORDADO



De que sei eu falar se vivo a arengar
que espero momento a momento
a brisa da voz que desapareceu no ar
deixando-me sem alento.

A alma já se dilui na negra noite da dúvida
indo fundo penetrando na terra da incerteza
entre razões e emoções na mente a vogar
no turbilhão da tristeza

Na memória dos dedos o orvalho
da pele de veludo do teu corpo
ficam esperando o reencontro.

Respiro-te na noite acordado
até ao chegar da madrugada
Esperando-te flor em amor transformado 

DC



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Deu-me uma “branca”...







...ou seja de repente perdi o “fio à meada”, fiquei olhando sem saber como continuar a conversa, Como num filme, todo o mundo mexia, só eu parado suspenso no ar. Algum factor exterior a nós próprios, deve despoletar este estado físico e mental.

Do mesmo modo nos últimos tempos fico em branco quando leio, As palavras desfilam pelos olhos, separadamente, sem as conseguir juntar e tirar o sentido das frases, perco-me sucessivamente, voltando atrás procurando encontrar o fio condutor, A repetição não resolve, continuo a fazer intervalos e brancas sucessivas que me projectam para longe do que leio, Fico sem saber se é a força da palavra em si, ou a minha branca, que me faz distanciar e perder a ligação das palavras em frases coerentes sustentando conteúdo do que leio. Não digo que seja desagradável de todo o vazio que se instala, é como uma garrafa sem conteúdo interior, só a forma a desenha, perde-se da função, assim sou eu, uma cabeça perdida sem conteúdo substantivo. O invólucro está cá, mas o resto....

Como posso escrever este texto se tenho “brancas”? De facto, ao escrever estas linhas, das quais me desculpo desde já, não é mais de que um pretexto para explicar o inexplicável, as minhas “brancas”, que me impedem a regularidade do acto de escrever.

DC

domingo, 4 de agosto de 2013

Como, Quando resulta perfeito




Como eu respiro teu hálito
           Quando nos beijamos
Como eu sinto teu cheiro
           Quando encostas no meu peito
Como admiro ser eu teu hábito
           Quando nos amamos
Como te quero de corpo inteiro
           Quando te entregas ao teu jeito
Como acontece
           Quando tudo resulta perfeito
                                     dc
        
 


 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A CASA SUB-NUTRIDA



Numa das muitas caminhadas, em direcção ao Barigui com a máquina fotográfica na mão ia captando imagens que me apareciam e que de algum modo me permitiam fixar, um pouco daquela parte de Curitiba.

Ela estava lá, e já por mais de uma vez tinha reparado nela, causando-me estranheza.

A sua estrutura não correspondia ao comum das outras que por ali existiam. Toda em madeira contrastando com o betão da modernidade e os condomínios fechados. Aquela era uma casa, dizia eu para comigo, estava sub-nutrida, sem vitaminas. Falta-lha a vitamina da cor, a da estrutura que agarra os diferentes materiais e a do calor humano. Certamente abandonada há muito, mas com uma personalidade invulgar. A arquitectura era simples, comum, mas tinha uma traça que a tornava familiar, como sempre fizesse parte do meu imaginário. Prendeu-me e captei.

Durante alguns dias, em que por ali passei, na minha memória fui fixando a imagem da casa como um se na minha mente estivesse um fantasma falando.

Com o terreno envolvente a pedir que o cuidassem, talvez, se reconstruída, a sua exuberância voltasse, tornando-a mais atraente, motivando a que voltasse a ser habitada por gente que continuasse fazendo história.

DC

O Parque Barigui (ü) está situado na cidade de Curitiba, capital do estado brasileiro do Paraná.
O parque recebe o nome do Rio Barigui que foi represado para formar um grande lago em seu interior. Está entre os maiores da cidade, sendo, também, um dos mais antigos. Diversas espécies de animais vivem livres no parque, como aves, capivaras e pequenos roedores. Um rebanho de carneiros também pode ser visto diariamente nos gramados, sob os cuidados de funcionários.