Acordas abraçada
Com desejo de calma
Sem apelo de chama
Por aquele corpo sem alma
O Hábito permanece
Num corpo ausente
Que por vezes esquece
Daquilo que sente
Os dias passam
O riso disfarça
E loas se cantam
À vida que passa
Alguém de longe que observa
Com palavras alerta
Para que não sejas cega
À nova descoberta
Um dia rirás
Com novo encanto
E a todos dirás
“Não esperava tanto”
dc
sábado, 28 de setembro de 2013
"Não EspeRavA TANTO
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Imagem:David Dubnitskiy
OUVINDO BACH
Elevo o som, fixo-me suspenso e esparramado no sofá, Deixo as teclas do órgão, soltarem-se debaixo de dedos céleres, Os violinos, os violoncelos com braços e mãos que se mexem agitados, fazendo arcos vogando sobre as cordas se apaixonando, se entrelaçando nas notas, construindo a música.
Não me pergunto sobre o D minor, toccata, fuga ou um Opus qualquer, Não faço ideia do que será uma colcheia, uma semicolcheia um dó menor ou maior, a semifusa ou se confusa..., Sei que elas se conjugam harmoniosamente dançando umas com as outras, Cada instrumento, a sua sonoridade, e cada momento vai decorrendo, no desafio contínuo acelerando, ou diminuindo o ritmo da música, que se propõem chegar até nós.
Nem técnica, nem sabedoria erudita me definem, A música corre, desenvolve-se e entra pelos ouvidos, chega à mente, desta ao coração e à pele que se arrepia... As emoções acontecem de forma irresistível, fazendo-me gostar e permanecer atento, tentando descobrir no silêncio da escuta, as sonoridades abstractas que me abraçam, como se falassem dos diferentes sons da natureza e da humanidade.
Assim me recreei escutando, com medo de parar o encantamento, com medo de que os pássaros fugissem que os riachos desaparecessem, que a vida deixasse de acontecer e ficasse novamente perdido nos ruídos da cidade.
DC
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Foto: Hamrah art
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
A Mala..
....de uma viagem, que não se sabe acontecida, ou restando ali no vazio perdida somente como sinal de ida sem regresso.
Naquela mala pousada no carril, ficou a angústia de não saber, qual a sorte que escolheste, se mudar de lugar, para me esquecer, ou ir mais longe sem tempo de voltar.
Resta-me agora sacudir o ar do teu perfume, lavar o sabor dos teus lábios com a chuva que se avizinha, e deixar que o vento que ocorre leve dos meus pensamentos as memórias de ti.
Resta-me agora deixar minguar a tua presença no meu corpo, fugir da sombra dos teus passos, e esperar o entardecer que me aproximará novamente desse horizonte longínquo, de um outro mundo por conhecer.
DC
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foto: Vladimir Marlov
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
IDADE DO OUTONO
PINTAMOS O OUTONO
DE CASTANHO,
QUANDO A IDADE
COMEÇA A FICAR”PRETA”,
INVERNAMOS NO SONO
E NA REALIDADE,
COMO QUEM VEGETA.
FUGIMOS RECUANDO
QUANDO DEVÍAMOS
AVANÇAR,
ENCONTRANDO
UMA OUTRA RAZÃO
UM OUTRO LUGAR.
TER PROVECTA IDADE,
NÃO É O FIM DE UNS IDIOTAS,
É UMA OUTRA FORMA
DE ESTAR NO MUNDO
ONDE NO FUNDO, NO FUNDO
SE ABREM OUTRAS PORTAS
DC
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FOTO: imagem do filme Outono em NY
terça-feira, 24 de setembro de 2013
AO mergulhar..
.... meu corpo nas águas, fugia da estreiteza da terra, Eu queria lavar, apagar a violência da tua posse, e a mágoa de sentir, ainda em mim, as marcas da tua passagem.
Olho o espelho irregular que me reflecte e não me reconheço, perdi meu rosto, desde que te vivera em mim, Restava a forma, o volume, a aparência de quem fora, Por dentro só a dor correndo no sangue, no ciclo infinito enquanto vida.
Serei mais uma caso de estatística, que não afastará teu cheiro, a pressão dos teus lábios sobre os meus, o peso do teu corpo e as tuas mãos imperiosas explorando e arrancando-me a roupa.
Odiei-te no primeiro momento por descobrires a minha fraqueza, enlouqueci de prazer e desejo quando me tomaste em pleno, tornei-me submissa, e acabei envergonhada pela cedência.
Lavo-me agora despindo-te da minha pele, liberto-me de ti, e afundo-me lentamente na água fria onde me deixo escorregar bem fundo na procura da paz que me roubaste.
DC
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Foto:internet
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
UM OUTONO A CHEGAR
A noite se aproximou lentamente do Dia e lhe perguntou: “Queres aparecer hoje, ou não? Está-se a fazer tarde e preciso de aclarar as ideias... O Dia meio incomodado, e de má vontade, entreabriu os olhos no meio da algazarra do despertador e disse-lhe: -“Tem calma e um pouco de paciência, Tenho de falar com o Sol, para saber se vem trabalhar hoje e se a minha amiga tarde tem o horário estabelecido, para quando regressares te entregar o serviço nocturno.
Assim conversam e passam os dias, entretendo o meu tio Setembro, preocupados com o primo Outubro, que no cair da folha de Outono, estará muito atarefado a preparar o irmão Inverno, que se lhe seguirá na gestão, despindo de folhas as árvores e dando banho frio a todo o mundo. Tudo isto, antes que a madrinha Primavera se apresente ao serviço, com todas as suas forças, e comece a trazer há luz dos acontecimentos as novas cores, folhas e frutos nas árvores, que servirão de chapéu para nos proteger do sol, com que o seu afilhado Verão nos gosta de brindar.
Partimos dos milésimos de segundos para os segundos, horas, dias, meses, anos e séculos, entremeados pelas várias estações e os gritos de um mundo que julgamos conhecer.
Outono chega na repetição do ciclo, ainda sem folhas caídas, no entanto preparado para se despedir, com todo o cuidado, de um verão tardio que deixou nosso corpo torrado e terreno bravio de tanto secar.
DC
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Foto:Diamantino Carvalho. Fafe
sábado, 21 de setembro de 2013
NO SEIO DO MEDO
Ter medo antecipado
de algo que não foi dito
é sentir-se enganado
com o ruído do seu grito.
No seio do medo
vive a coragem, a vontade
de derrubar a dúvida
e o segredo da vida.
Do querer dum amor
que não se deixa morrer
pela vida a acontecer.
Amar não tem dor
nem trás o medo de viver,
é a gloriosa singeleza da flor.
DC
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Foto: Diamantino Carvalho
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