sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

QUERER SAIR DO BURACO E FICAR..

 

Sem sair do calor dos lençóis, o tempo frio não ajuda, olho o sol que entra pela janela e deixo que a vida decorra perante os meus olhos. Ouço trinar dos pássaros, a agitação do vento arrastando as últimas folhas das árvores, que ficam despidas da sua habitual vestimenta e como esqueletos se desenham no ar. Os esquilos, correm no telhado em grande agitação, foram eles o meu despertador matinal, como a lembrar-me que a vida existe lá fora.

Eu continuo, encostada nas almofadas, impávida, olhando através da janela o horizonte distante, vejo um pouco do rio que se encaminha pelas margens para a foz. As árvores e a cor verde reinante transmitem paz, No entanto, nada me demove da apatia em que me encontro.

Tudo se perdera em meia dúzia de palavras, um pouco mais sentidas, Nem sempre temos a grandeza de saber esperar, de dizer sem magoar, ou ter a compreensão necessária. A impaciência, e a pressa de voltar a nossa vidinha, tiram o discernimento e capacidade de entender as preocupações e sensibilidades diferentes das nossas. Mesmo quando o gostar, ou amar, é mais emoção do que razão, nos perdemos em labirintos de dúvidas e especulamos, com medo de assumir o que se avizinha como provável. Viramos as costas a esse provável, porque tememos ceder, partilhar, dividir espaço e atenção, agarramo-nos ao que chamamos a nossa independência, quando na realidade tememos perder as nossas rotinas absurdas... deveria ter lido Voltaire antes de ter dito alguma coisa, talvez agora não estivesse impávida e sim vivendo a vida.

“As paixões são como ventanias que sopram as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens, nem aventuras, nem novas descobertas.” Voltaire
DC

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nem pela idade, Nem pela distância.



O Dezembro surgiu, trouxe mais frio, e um sol que brilha mas não aquece. As árvores hesitam entre o finalizar do Outono e o iniciar do Inverno, Folhas amarelecidas que não caem, outras que teimosamente se mantém verdes e um tapete amarelo torrado onde os pés se afundam num estalejar quase sinfónico para os ouvidos.

O casal ali sentado no banco de madeira, vestidos sobriamente e bem agasalhados, integram-se naquele cenário frio e matinal, De mão dada, conversam animadamente olhos nos olhos, entre sorrisos e beijos parecem dois pássaros arrolando paixão, no seu piu piu de acasalamento.. um olhar mais atento veria a mala de viajem pousada junto ao banco, Qual deles chegara?

Se nos pudéssemos aproximar sem sermos vistos, certamente ouviríamos as frases que trocavam e as razões do brilho dos seus olhos.....” a amor ainda bem que regressaste... pena foi, por saberes que estava doente?”... “ soube da tua doença quando me encontrava de regresso a casa.. Vim porque tinha saudades da mulher que eu amo..”.

O cabelo comprido, que surgia abaixo do chapéu, na cabeça dele e o cabelo solto descaído sobre os ombros, nela, relatavam a sua idade...branco de neve de acordo com a temperatura, mas longe do calor do seu amor que o decorrer dos anos não se diluíra ...nem pela idade, nem pela distância.

DC

desenho: Francesco Jacobello

sábado, 30 de novembro de 2013

REFLEXÃO...ou talvez não




Acontece sem se dar conta, não queremos, mas acontece, vamos deslizando ao correr de diferentes vontades e somos encaminhados para desconhecidos lugares e pensamentos. Envolvemo-nos em teias sucessivas de equívocos, mesmo pressentindo que o serão.

Estamos conscientes de que laboramos no erro, no entanto não recuamos, mesmo sabendo que depois de tudo começado já nada o fará parar, deixamo-nos ir no turbilhão dos acontecimentos.


E tudo isto, ocorre transversal às nossa vidas, nas mais variados situações, e quase sempre, onde falam mais alto as emoções.

Falta-nos, talvez por não querermos perder o comboio, a coragem de dizer não, ou interromper aquilo que nos molesta a integridade e valores que assumimos todo o sempre, Queremos acompanhar o “progresso” de que os outros falam, não queremos enregelar no nosso canto, acusados de estarmos ultrapassados e vamos caminhando pelos caminhos tortuosos de algo que nunca perfilhamos e sempre recusamos. Somos derribados todos os dias pelas debilidades e a perda de vontade, que as vicissitudes da vida nos submetem, acompanhados pelas as mais variadas vozes, que buzinando nos ouvidos nos encaminham para o erro, E assim vamos fazendo disparates e assumindo atitudes que mais tarde nos deixarão, provavelmente, desconfortáveis connosco próprios.


Como podemos deixar, que nos criem a ideia de que não sabemos escolher, nem sabemos o que queremos, quase nos considerando afásicos e incompetentes para viver? O que tememos perder, por não seguirmos o que os outros pretendem de nós? O que fica de nós pela incapacidade de dizer não, às solicitações e ao que nos quer submeter a sociedade, a começar pelos governantes?

DC

"Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse, e eu concordo, que o tempo cura, que a mágoa passa, que a decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua."

Simone de Beauvoir

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

UM DIA te levei..



... a caminhar pelas ruas da cidade, que já não se lembrava de ti.
Trouxe-te as memórias para o viver do dia.
Prendeste o olhar na arquitectura do passado, e aprendeste o presente renovado. Caminhaste pelas ruas da infância, viveste os afectos, exuberando emoções. O brilho nos teus olhos se alterou, entre o espanto e alegria, e o sorriso inundou teu rosto...e o regressar alimento de esperança.
Efémero foi esse tempo, entre o tudo e o nada se mataram os sonhos. Mesmo depois de muitos regressos e partidas, a vontade se perdeu, as memórias se enterraram e os afectos se relegaram naquela mole imensa de liberdades e necessidades, que se inventam no sarro da rotina e do medo.
A cidade que não se lembra de ti, continuará na sua evolução, enchendo as ruas com os que são seus filhos e muitos outros que não sendo, nem tendo memórias, a adoptaram como sua, todos eles cativados pelos “traços de carácter” que a constituem.


Neste acaso, que te converteu em história, não foi a cidade que perdeu, mas sim tu que “passaste à história” porque afinal o teu renascer não aconteceu.

DC

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

JÁ ME PERDI...





Já me perdi madrugadas dentro
com alegria e paixão
e noutras com grande desilusão.


Já caminhei quilómetros sem fim
de mão dada e cheio de amor
e muitas outras só, e com dor.


Já sofri o desencantamento
das promessas não cumpridas
de verdades escondidas,
para não causar sofrimento.


Já perdi dias vivendo tormento
em incertezas inesperadas
e outros viajando com o vento
em lindas jornadas.


A vida corre com pensamentos
com muitos “jás”, pelo meio
e até com princípio e fim
Na realidade a vida é mesmo assim
Uns dias de gloriosos deslumbramentos
Alguns carregados de escuridão
Mas todos eles são momentos
Vividos com a realidade e a emoção.

DC

domingo, 24 de novembro de 2013

Na Margem do Rio



Na margem esquerda do rio em direcção à foz, pequenos barcos ancorados e algumas pessoas se espraiam pelo areal. Uns sentados nas toalhas, outros de pé, ou tomando banho, e alguns casais a sós, ou com crianças brincando, gozam o remanso daquela tarde de verão...o mundo parece ter parado.

O rio corre lento na direcção do mar, os barcos de recreio deslizam carregados de turistas, que tudo olham de curiosidade atenta aos sítios habitados, ou arborizados, que preenchem as margens, Alguns fixam seus olhares na margem distante, onde se vislumbram de forma difusa, no espaço aberto entre as árvores, duas figuras que se agitam como estátuas vivas, como se fosse um cenário pensado para lhes espevitar os sentidos e as emoções.


Na realidade, na margem esquerda, só aqueles dois parecem existir, perdidos nas delicias da paixão, O rio bem próximo é testemunha, Abraçados se olham, se beijam ininterruptamente, sofregamente, como se fim do mundo fosse já ali. Ela sentada no seu colo, parece querer adentrar no corpo dele, como se querendo unir num só...Mãos se mexem agitadas entre eles, se procurando, se tocando, Assim ficam, tempo ilimitado, absortos em si próprios fora do mundo, vivendo o seu amor.


As árvores, que sombreiam o local, se agitam suavemente com a brisa quente da tarde, trazem o pano sonoro do seu enlevo, abafando, para além de si próprios, as juras murmuradas.


O fim de tarde se aproxima e com ele a necessidade de partirem, Poucas horas lhes restam antes que cada um tenha de seguir o seu destino... a distância voltará a trazer a dor da ausência e a necessidade do reencontro.

DC

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

....Colado ao sol da manhã




Te acordo com beijos suaves, sinto as tuas costas coladas no meu ventre. Delicio-me com o cheiro morno que o teu corpo exala, A pele do teu pescoço é suave, aquece meus lábios a cada beijo depositado. Começas a agitar-te acordando do sono profundo em que estavas, e rodas o corpo lentamente...teus olhos semicerrados temem a luz, se vão abrindo, como o teu sorriso se vai alargando, Te espreguiças levantando os braços acima da cabeça arqueando o corpo para trás... e rodas totalmente colando teu ventre no meu de modo inconsciente...Respirando fundo relaxas e me beijas na boca trazendo todos os sonhos e desejos....o dia começa com o fulgor do êxtase do nosso amor, colado ao sol da manhã.

DC