Sem sair do calor dos lençóis, o tempo frio não ajuda, olho o sol que entra pela janela e deixo que a vida decorra perante os meus olhos. Ouço trinar dos pássaros, a agitação do vento arrastando as últimas folhas das árvores, que ficam despidas da sua habitual vestimenta e como esqueletos se desenham no ar. Os esquilos, correm no telhado em grande agitação, foram eles o meu despertador matinal, como a lembrar-me que a vida existe lá fora.
Eu continuo, encostada nas almofadas, impávida, olhando através da janela o horizonte distante, vejo um pouco do rio que se encaminha pelas margens para a foz. As árvores e a cor verde reinante transmitem paz, No entanto, nada me demove da apatia em que me encontro.
Tudo se perdera em meia dúzia de palavras, um pouco mais sentidas, Nem sempre temos a grandeza de saber esperar, de dizer sem magoar, ou ter a compreensão necessária. A impaciência, e a pressa de voltar a nossa vidinha, tiram o discernimento e capacidade de entender as preocupações e sensibilidades diferentes das nossas. Mesmo quando o gostar, ou amar, é mais emoção do que razão, nos perdemos em labirintos de dúvidas e especulamos, com medo de assumir o que se avizinha como provável. Viramos as costas a esse provável, porque tememos ceder, partilhar, dividir espaço e atenção, agarramo-nos ao que chamamos a nossa independência, quando na realidade tememos perder as nossas rotinas absurdas... deveria ter lido Voltaire antes de ter dito alguma coisa, talvez agora não estivesse impávida e sim vivendo a vida.“As paixões são como ventanias que sopram as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens, nem aventuras, nem novas descobertas.” Voltaire
DC