sábado, 25 de janeiro de 2014

Na cor do fim de tarde




Talvez não leias o que escrevo, por isso não saberás das memórias que tenho, nem saberás que ainda guardo como fotografias as imagens, dos muitos momentos em que éramos, isso, éramos dois ligados à máquina dos nossos sentimentos, como doentes, em estado vegetativo...

...sentados no banco, em pleno estio, num fim de tarde de Sábado, com a ponte desenhada no azul do céu, ficamos olhando o rio como uma linha de horizonte divide as duas cidades. O sol foi descendo até pousar lentamente sobre o mar, como se nesse devagar ele nos quisesse prolongar o prazer que sentíamos. Tu aninhada no meu abraço, que te protegia da brisa que ia ficando mais agreste, e a conversa se desenrolando na cor do fim de tarde...


É inexplicável, até indecente, pensar que há coisas mais importantes, que possam destruir esse sentimentos. Um momento que fica entranhado em nós, como aquelas nódoas que caem na roupa e não saem mais, como ficaram o perfume do teu corpo e o seu calor, as carícias, os dedos na pele, e a pele dos meus dedos, na pele dos teus dedos, e aquela dor fininha que atravessa o corpo a que se chama saudade.


Quando na rua, ela passou a meu lado, o seu perfume despertou-me... a imagem surgiu, e atrás dela as memórias, lembrando como foi bom o acontecer, naquela tarde de Sábado, em que um certo magnetismo, parou todos os relógios e nos deixou ser eternos.

DC

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Eu sereno, daqui os observo




Olho através da janela,
Olho vejo a gente que corre,
Olho, eu sereno sem me preocupar,
Olho e vejo, nos seus olhos a loucura,
De gente que sem pensar,
Corre, corre sem parar.

Eu sereno, daqui os observo
Deixando-os correr,
Eles pensam-me animal e servo,
E eu vejo-os, trabalhando até morrer.
Olho confuso com tanta agitação,
Fico contente pelas minhas sete vidas,
E por ser animal de estimação.

DC

DIA E NOITE, NOITE E DIA




Fujo da noite,
Não porque a recuse,
Sem ela não poderia viver o dia,
Só não quero que abuse
Tirando-me o sol e sua alegria

Falo dessa noite de escuridão
Dos pensamentos obscuros,
Das tristezas imensas,
Das horas de solidão,
Suporte dos nossos muros.

Falo do sol e seu augúrio
De verdade ao ser amado
Nas palavras em murmúrio
Ditas na sabedoria
De um amor encantado

Dia e noite, noite e dia,
tudo fazendo, futuro e passado,
Nas fases de uma mesma vida.
A noite sempre comprida,
O dia sempre acelerado.

DC

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um LIVRO Na minha HISTÓRIA



Li inúmeras vezes o livro por inteiro, ou aos bocados, sinto sempre que o faço algo de novo acontece, como se de todas as vezes que o li, só me tivesse concentrado em determinados temas do seu conteúdo, desleixando outros, Como se cada vez que o li não fosse de todo importante, mas todo ele importante nas diferentes parcelas, Como se ele contivesse uma lição de vida, uma novidade para me dar. Ao lê-lo, quanto mais não seja, faz-me reflectir um pouco mais, e da sua simples história, tirar quase sempre uma, ou várias conclusões.
“Deparo com um sólido muro de defesas e tu tens necessidade de erguer mais muros. Anseio pelos frutos, pela plenitude do desenvolvimento, e tu procuras meios de o evitar sempre que estamos juntos. Sentimo-nos ambos frustrados – tu incapaz de recuar, eu incapaz de ir em frente, uma luta permanente, com nuvens e sombras negras sobre o tempo limitado que nos consentes.

"Pág.164. A Ponte Para Eternidade. Bach, Richard. Publicações Europa América"
E seguem-se os raciocínios, errados, ou talvez não. “Na realidade, pôr fim a algo, alguma coisa, na maioria das vezes tem a ver com o defraudar persistente de expectativas. Significa desistir de lutar contra o que, ou quem, permanece criando remoinhos artificiais que tornam impossível o navegar. Significa, que o quê, ou o alguém, sempre está correndo contra a maré, mesmo quando esta é favorável.” Penso eu. E continuo. “Não se aproveitam os ventos, nem conjecturas favoráveis, não se defende o que nos agrada, o que queremos, mas agarramo-nos aos obstáculos mínimos para comodamente evitarmos de lutar e conquistar. Quando assim é, ou não sabemos bem o que queremos, ou como diz o povo “queremos dar uma passada maior que a perna” e como não conseguimos o possível, vivemos eternamente na conquista do impossível. Então perante isto o melhor é parar, e deixar de nos atormentarmos, não adianta meter os pés contra a parede, sabendo que não há evolução”. Concluo eu.

Mais uma vez, tirei partido da sua leitura, aprendi um pouco mais de mim mesmo e descobri algo, por vezes tão evidente, que não enxergamos. A tal verdade de “la Palice”.

DC


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Maravilhosa natureza



Caminhei largas horas, no meio do arvoredo, sentindo a terra fofa debaixo dos pés, Um autêntico tapete de folhas terra e areia.

Os galhos despidos, quase fantasmas, quase corpos sem roupagens, lembravam-me, tão nu quanto eles. Como braços esqueléticos desorganizados, pareciam reclamar o próximo renascer da Primavera. Enquanto olhava, pensava e reparava na sua capacidade constante de renascerem, Mais atentamente, olhava aquela árvore que possuía uma espécie de sóis, possivelmente carregados de sementes, para que a sua espécie sobrevivesse. Observava, mas tudo isto, como que hipnotizado. Como se explicava, aquela calma que ia entrando em mim, com o meu pensamento caminhando sempre para tão longe?
Eu procurava o sentido do mar, para mergulhar meus olhos no seu horizonte infinito, e deixar que as lágrimas com ele se confundissem. Queria mitigar a dor, que me oprimia, mas perdera-me no circulo enorme que fizera. Acabara por conseguir encontrar um pouco de mim que estava perdido algures há muito tempo, distraíra-me tentando agarrá-lo, para que também não me deixasse. Nesse angústia de fugir de mim, mais uma vez a natureza me fizera regressar ao local de partida, com o aroma dos pinheiros e o cheiro do mar como bússola.

Já não te encontrei na minha praia, partiras como outras tantas vezes, agarrada aos teus silêncios, e com a palavra saudade como reserva.

Maravilhosa natureza, que nos escreve imagens e momentos únicos. Nela encontramos alegria de estar, de viver e paz dentro de nós,
nela muitas vezes reencontramos a seiva necessária para retomar novos rum
os.

DC

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

E sabia que me perdia.



Ainda tenho nos dedos,
O caminho na pele do teu corpo,
Tantas vezes percorrido para te afastar os medos,
Outras tantas para te dar conforto.

E sabia que me perdia.

Perdia-me em ti, sem me conter
Numa busca deliciosa,
E assim cada dia me perdia sem saber,
Nem perceber, a tua alma silenciosa.

Os dias se perdiam nesse viver.t

E de tanto me perder deixei de te encontrar
Fiquei só, no meu abraçar, beijar, possuir,
Sem que tua boca soltasse, o que precisava ouvir.

Restei todo o tempo falando na lonjura,

Recebendo o eco de meus desejos e vontades.
Se perdido estava, perdido fiquei,
E ainda hoje penso, se por amor falhei.

DC

domingo, 12 de janeiro de 2014

O tempo que passa não regressa



Quantas vezes perdemos o tempo
Quantas vezes deixamos passar o momento
Quantas vezes o dia passa e a palavra não chega
Quantas vezes o amor se adia pela indecisão
Quantas vezes se afasta quem nos aconchega
Quantas vezes partindo o próprio coração
Quantas vezes acabamos por nos arrepender
E quantas vezes sonhamos e vivemos uma ilusão.


Amar não é ganhar ou perder, é viver,
É adivinhar antes de acontecer
Como uma voz que fala dentro de nós...
Falando pelos dois com uma só voz.


O tempo que passa não regressa
E a felicidade quando se vive não tem pressa.


DC