
Árvores outrora “gadelhudas”, perdem agora a farta cabeleira, deixam-se refrescar, com o vento que vai levando os restos da sua roupagem. Algumas são como aquelas mulheres que rapam o cabelo, não por doença, mas por moda, dando-lhe um ar esguio e insólito, ficam com hastes esticadas como dançando ao sabor do tempo esperando mudança.
É uma angústia quase humana que delas se arrasta para dentro de nós, fazendo-nos sentir a nostalgia do verão, e esperando a sua rápida recuperação, na Primavera que ainda vem longe. Amamo-las e sentimos a sua falta, e a sua beleza no ambiente que nos rodeia.
Algumas árvores vão-se mantendo vestidas, Tem uma vestimenta perene que lhes permite a travessia difícil do inverno e suportam em seu corpo, forte peso de neves e tempestades, protegendo de algum modo as terras, as gentes e os animais dos ventos agrestes. Como se fossem pais defendendo a família das vicissitudes da vida.
A natureza engrandece-nos com a sua pureza e nos lembra constantemente a necessidade de ser protegida, pelo bem que nos fazem, iluminando a nossa estadia temporária aqui neste planeta.
dc
Sabes que gostava de te escrever
Sabes que gostava de te ver
Sabes como sempre soubeste
Que isso é difícil de esconder
Sabes da cólera e da dor
Sabes da distância e seu tormento
Sabes quanto o amor
Vai para além do momento
Sabes das razões de não insistir
Sabes porque tive de escolher
Sabes como é difícil sobreviver
Ficando inerte sem decidir
E quero que saibas
Quanto é difícil esconder
Que te sonho a cada momento
E que a necessidade de escolher
Fez-me morrer por dentro.
dc
Surge nos dias
com seu fraseado
em poema
encadeado
É seu ritmo
um prazer
no ler.
Rigoroso
vinho.
Perigoso
a beber
O amor
desejos
beijos
abraçam
as palavras
Poeta
maior
escreve
palavras
sentindo
o sentido
(Na realidade)
Ideias
escritas
que dizem
tanto
dai o ler
trazer seu
encanto
dc

Sente-se carne a abrir, a dor acerada penetra
numa ferida na qual o sangue não corre.
As palavras não cortam, as frases não cortam, mas o que seu significado, substantivadas,
ou adjectivadas, o modo e o
momento em são ditas tem um poder de produzir dores e feridas bem profundas.
Há momentos em que as palavras têm de ser fortes, suficientemente poderosas, e
algumas vezes sim, talvez duras e capazes de magoar, porque só assim, perante a
dor, acordamos. São as palavras ditas para abalar consciências, acordar
cérebros, desestupidificar gentes, transportá-las para a realidade das coisas,
para que não passem ao lado, quando são parte decisão perante as outras
violências, mais físicas, mais sociais, mais morais, mais afinal de valores humanistas.
Felizmente, no comum, as palavras usadas são sempre mais funcionais e, sorte
nossa, há muitas mais razões para usar as palavras com conteúdos mais doces, mais
melodiosos, mais profundos na expressão das emoções, como amor, alegria,
paixão, ternura, paz, que bem aplicadas nos momentos certos, ajustadas a cada
um, ajudam a enlevar e elevar a mente e o corpo, que nos ensinam, que
cicatrizam dores, que alimentam amores, que nos encantam.
Quero mais o sabor das palavras que não ofendem, ou quem as diz não ofende, ou
que o conteúdo nelas expresso não magoa, não fere. Gosto quando as palavras se
enrolam na boca, pronunciadas como se fossem flores a decorar pensamentos.
Palavras com a leveza da brisa, o calor da alma, e que acariciam as nossas
mentes reforçando o nosso saber e o prazer de as ler e viver.
dc
No meu barco e no meu mar
a oportunidade do nosso navegar
Com a confiança num lugre
resistente a navegar no mar bravio
Viajar em pleno nesse outros mares
onde se geram diferentes falares
Sinto-te de longe, nesse espaço sideral
das paixões adormecidas
Morrendo-te, companheira das agonias alheias,
no correr dos dias na incerteza das ideias.
dc
Na rede forjada fora
das emoções, caminhos se cruzam sistematicamente, no perfeito design com que a
natureza nos brindou, Somos, com toda a liberdade que nos arbitram, figuras
estruturais, com ritmos, ligados à sobrevivência, e nas quais as emoções são
parte aleatória que complicam e se vão lentamente alterando, se positivas reforçam,
se negativas degradam o sistema que nos sustenta. Difícil é saber reconhecer,
que a maior causa dos problemas físicos, está em nós próprios, pela forma
errada como nos servimos do próprio corpo, mesmo quando ele nos avisa, as
emoções ajudam a agravar esse estado. Resta-nos reconhecer nas dores, do
próprio corpo, que nos alertarem do que está errado e depois ter confiança em
saná-las com auxilio adequado.
dc

estás
lá permanentemente, no sonho, na vida, na memória, nada se desfez na neblina.
está
lá, e fica, nos olhos verdes, na coxa grossa e curta, no peito magro e pequeno,
na boca gorda e saborosa, na saia que te aperta, nas calças que te desenham, na
camisa que te desnuda, no sorriso malandro, no grito intempestivo, no beijo com
sabor a Porto, no calor do colo, nos passeios junto ao mar.
está
lá, até na vontade de me esqueceres, do mesmo modo que eu evito, tudo fazes
para viveres, para não ouvires o meu grito, não te queres abeirar de mim,
queres a intensa solidão, chorando por te perderes sem encontrares o chão.
estás
lá, no dizer do povo, em marés que se repetem os marinheiros são insuficientes,
e eu espero porque sou maré, que cumpro meus ciclos, sucessivamente, chova, ou
faça sol, no mar ou em terra, no ar ou no chão, longe ou perto. um dia, reconhecerás,
que se perdeu tempo demasiado nas inutilidades, por medo se perder o que na
realidade é menos do que nada, e nesse balanço sentir o tanto que se poderia
ter mais cedo e sem espera.
as
cabanas não trazem o amor, são construídas e recheadas dele.
dc