quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Partilhar um Chá



Gostaria de partilhar contigo o meu chá. Chá, iniciado com toda a cerimónia e ritual da sua exigente preparação, numa quase meditação, como prelúdio de um degustar lento, deliciado, sem que o tempo conte nem as suas angústias.
Um chá sem ser condicionado à escolha, se é preto, se é verde, se de frutos, ou de outra qualquer diversidade gustativa e salutar. Importante é partilhar o chá fazendo disso uma forma de comunicação, um palestrar silencioso onde só falam os gestos e os olhares.
Fazê-lo num lugar especial, talvez como viajantes solitários sentados no pico dum monte, olhando o infinito horizonte marcado pelo fim da tarde. Cada um envolvendo com as mãos a sua respectiva chávena e sentindo as arestas frias do vento penetrando os olhos, enquanto o calor da bebida nos vai reconfortando, numa saudação de mente livre, sem mais nada que a grandiosidade do próprio momento e todo o envolvimento que nos fez chegar a esse lugar de estar. 
Manso o dia, este, que não te tenho se não no sonho possível de um chá imaginário. 
dc

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Uma Gata no Colo do Gato




Um gato
Um colo
Um sorriso
Um falar

São frases
São palavras
São olhares
São encontros

É um gato
Entre sorrisos
É um falar
Entre os olhares

Ronronar
Passar a mão
Sentir mornar
Bater o coração

Tudo certo
O gato não fala
É no concreto
"Mio" que embala
Ver uma gata 
No colo do gato
Num mundo abstracto
Pode ser um facto.

Se é normal...
(Falamos de felinos..?)

dc

sábado, 14 de novembro de 2015

Gavetas do tempo




Os traços de seu rosto se vão definhando, como os dedos perdendo memórias do toque dos seus lábios, do passeio pelo seu corpo que como um cego a procuravam nas noites em que consigo permanecia. 
A perda de alguém, que não morre é sempre mais lenta, a qualquer momento somos confrontando com realidade da sua existência, alimentando a ideia de que nada é definitivo, no entanto as mudanças, e o correr do tempo, mesmo com desgosto próprio, nos vai tornando difícil manter os principais traços, daquilo que outrora foi. A ausência instala o vazio, se vão esboroando as referências, como se fosse um retrato em tons sépia, que vai perdendo pormenor e ficando destruído pelo correr dos anos, como todas aquelas que enchem as gavetas do tempo, na tentativa de manter vivas as recordações. 

dc


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

ABSTRAÇÃO





Sempre há em nós
mais imaginação
além do visível,
daí vamos pensando
sonhando...
e com isso voamos
pousando
nos altos ramos.

dc


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Desnudam-se as árvores.




Árvores outrora “gadelhudas”, perdem agora a farta cabeleira, deixam-se refrescar, com o vento que vai levando os restos da sua roupagem. Algumas são como aquelas mulheres que rapam o cabelo, não por doença, mas por moda, dando-lhe um ar esguio e insólito, ficam com hastes esticadas como dançando ao sabor do tempo esperando mudança.
É uma angústia quase humana que delas se arrasta para dentro de nós, fazendo-nos sentir a nostalgia do verão, e esperando a sua rápida recuperação, na Primavera que ainda vem longe. Amamo-las e sentimos a sua falta, e a sua beleza no ambiente que nos rodeia.
Algumas árvores vão-se mantendo vestidas, Tem uma vestimenta perene que lhes permite a travessia difícil do inverno e suportam em seu corpo, forte peso de neves e tempestades, protegendo de algum modo as terras, as gentes e os animais dos ventos agrestes. Como se fossem pais defendendo a família das vicissitudes da vida.
A natureza engrandece-nos com a sua pureza e nos lembra constantemente a necessidade de ser protegida, pelo bem que nos fazem, iluminando a nossa estadia temporária aqui neste planeta. 
 
dc


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Difícil de esconder




Sabes que gostava de te escrever
Sabes que gostava de te ver
Sabes como sempre soubeste
Que isso é difícil de esconder
Sabes da cólera e da dor
Sabes da distância e seu tormento
Sabes quanto o amor
Vai para além do momento
Sabes das razões de não insistir
Sabes porque tive de escolher
Sabes como é difícil sobreviver
Ficando inerte sem decidir

E quero que saibas
Quanto é difícil esconder
Que te sonho a cada momento
E que a necessidade de escolher
Fez-me morrer por dentro.

dc 

sábado, 7 de novembro de 2015

pra ELA




Surge nos dias 

com seu fraseado
em poema 
encadeado

É seu ritmo 
um prazer 
no ler.
Rigoroso 
vinho. 
Perigoso
a beber 

O amor
desejos
beijos
abraçam
as palavras

Poeta 
maior
escreve 
palavras 
sentindo
o sentido

(Na realidade)

Ideias 
escritas
que dizem 
tanto
dai o ler
trazer seu 
encanto


dc