domingo, 19 de novembro de 2017

E...se pudéssemos



E.. se pudéssemos repetir o caminhar, de mão dada, pela cidade, debaixo do mesmo guarda-chuva aconchegados pelo amor?
E.. se pudéssemos, lavar as mágoas, com as lágrimas e a chuva, deixando fluir o que nos une nesse caminhar tão doce?
E.. se pudéssemos deixar para trás os tempos mais difíceis, de arrufos carregados de frio, folhas secas, de “entretantos” desavindos?

E.. se pudéssemos agarrar esse tal algo, forte, que nos amarra, trazendo consigo sentimentos de diferentes intensidades e importância, mas que se conjugam e se transformam nessa força maior a que chamamos amor?

Ah.. se pudéssemos, desapareceria o futuro e viveríamos um presente contínuo.

dc


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Longa é a espera




Parada, com a parede colada nas costas, fico olhando pela janela o luar que se vai pronunciando na noite, procurando descortinar entre as sombras que se colam nas paredes da rua, se algures estarás tu. O relógio estabelece o ritmo sinalizando as horas com o seu tic tac, ban ban, passou uma hora, tic tac, tic tac, tic tac, ban ban, outra hora que se foi,  até que o sono e o cansaço me tomem e me levem para o leito vazio onde não estás.
Espero-te noites sucessivas e não chegas. O meu corpo, desde que te ausentaste, arrefece um pouco todos os dias perdendo o calor intenso do amor com que me tomavas por inteira, premiando-me os dias, como se cada dia fosse o último. Tenho medo, a tua imagem vai-se diluindo e as memórias se vão reduzindo, ou sendo alteradas, instalando a dúvidas naquilo que fomos. Tenho medo que seja um pesadelo repetitivo, onde me encontro à deriva, confundindo a minha necessidade de amar com realidade que tu és.

dc

domingo, 12 de novembro de 2017

Um beijo espontâneo




Foi um beijo espontâneo, benzido pelo tom rubro do vinho tinto. Com ele o tontear da ironia do destino, que marcou o deslumbramento e como tudo evoluiu. A loucura de corpos se conhecendo, com dedos e bocas se percorrendo no mais diminuto espaço, no registo da demografia corporal, na superfície da pele, apimentado pela mistura de cheiros e sabores que nos faz diferentes, e, hoje, registos de carácter definitivo nas memórias que afloram.
Um beijo como princípio, um fim desabraçado, distante, calado, abruptamente instalado, colorindo de roxo, a desistência, a covardia, o permanecer do vazio, a solidão esmagando com os pés todas as flores que tinham debruado os 'entretantos' que entremearam o tempo vivido.
Rasgado o princípio e o fim, nada mais resta, que alguma esperança, de que não seja o ácido da amargura a corroer o pensamento, a trazer ao enrugar da pele a desistência, o medo de voltar a acreditar que vale a pena ter via aberta ao novo, ao diferente, ao que por ser desejado e não cumprido, poderá ser uma realidade mais forte e jamais imaginada. Esquecer  “o poderíamos ter sido felizes” é importante, há mais vida para além do ontem, e viver o hoje construindo o estamos bem, nem sempre felizes, mas bem!


dc

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Achas que vale esperar?




Sim, tinha razão
é preciso mais do que esperar,
é preciso falar, acreditar
na vontade existir,
de continuar, de esperançar

Sim, é preciso esperar
esperar de esperançar
quando ambos querem dar,
sem nenhum ficar fadado
à sem esperança, desolado

Sim, é melhor não magoar,
amar é mais do que gostar
dum coração bandido
de algo que não tem sentido
e se perdeu em algum lugar

Sim, aproveita o tempo,
ganha-o no teu bordejar da vida
sem nada esperar, goza só o momento
no amor à vida que deve ser vivida


dc


sábado, 4 de novembro de 2017

Melhor seria nada ter


“Fui atrás do que procurava recuperar e que julgava certo. Encontrei um labirinto de portas que se fechavam e abriam sem encontrar a saída. Sempre evasiva temendo as amarras, fugindo quando me sentia presa ou envolvida. Perante isto, dei-me tempo, isolando-me num lugar onde me podia curar, pensar e perceber a própria ausência; aí encontrei solidariedade, conforto, amizade. e, quando por fim me pensava curada, livre para me reencontrar com tudo o que pudesse acontecer, enganei-me, ao conhecer aquelas duas “figuras”: uma, se assumia livre, segura de si, em aparente autodomínio e que, de repente questionada, se perdeu ensimesmada de incertezas, quanto ao seu desejo e forma de viver a vida; a outra, deprimida, tomada por doença misteriosa, talvez mal da alma, meiga, carente e pretendendo aconchego. De uma senti a sua presença no meu regaço, da outra o calor intenso dos seus lábios na ponta dos meus dedos, que me fizeram derreter de ternura. Optei de forma errada, quando temendo tanta doçura de uma, me deixei levar para ser regaço, julgando não poder ter o melhor de dois mundos. A percepção do erro foi imediata, não estava preparada para decidir. Melhor seria nada ter, e partir de novo ao encontro daquilo que efectivamente me encheria de alegria e felicidade, A paz de espírito que as fugas sucessivas não me davam. Teria de deixar passar mais tempo, dar a mim própria o conhecimento necessário para me redescobrir e decidir como escolher quando serei o regaço de alguém que me faz sentir o calor de seus lábios, mesmo que na ponta dos dedos.“


dc