Ela estava ali desafiadora,
provocando-o, pondo à prova as suas capacidades. O silêncio em volta era
tentador para avançar. Aparentemente estávamos sós, podia estar à vontade e
aceitar o desafio sem rodeios. Ele sentia-se meio temeroso. Se em tempos o fez
com duas e sem hesitações, porque não agora só com uma? A idade, um pouco de
peso a mais, faziam-no temer o seu desempenho. É certo que cuidava do seu corpo
diariamente e sentia-se bem. Não parecia haver, razões, para que objectivo não
fosse atingido com sucesso. Hesitava na necessidade de preliminares, para fazer
o sangue afluir às partes do corpo que seriam submetidas à tensão. Aproximou-se
devagar, encarou-a de frente, depois, olhando bem para cima, avaliou de si,
avançou de mãos estendidas até sentir o seu contacto nas palmas da mão.
Agarrou-a à bruta, com as mãos bem firmes, começando a envolvê-la fortemente,
enquanto ouvia na sua mente os incentivos: tu és capaz,
solta a cinta, eleva as pernas, ginga o corpo com vontade, força, vai, vai. Era
como se uma força interior enorme o comandasse, enquanto ela se deixava
submeter. De repente sem quase se aperceber o clímax aconteceu. Sentia-se no
topo do mundo. Não sabe como, de repente libertou-se, soltou-a e sentiu-se a
aterrar, mãos quentes como nunca, o corpo esparramado, ofegante com o sabor a
vitória. A vida. A vida, tem de ser subida a pulso, nada nos é dado, pelo menos
para todos aqueles que não nascem num berço de ouro. Ele, ali naquele ginásio,
subindo aquela corda, sentira-se um campeão vencendo o desafio a que
submetera o seu corpo e vontade.dc
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
DESAFIO
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domingo, 19 de novembro de 2017
E...se pudéssemos
E.. se pudéssemos repetir o caminhar,
de mão dada, pela cidade, debaixo do mesmo guarda-chuva aconchegados pelo amor?
E.. se pudéssemos, lavar as
mágoas, com as lágrimas e a chuva, deixando fluir o que nos une nesse caminhar
tão doce?
E.. se pudéssemos deixar para trás os tempos mais difíceis, de arrufos carregados de frio, folhas secas, de “entretantos” desavindos?
E.. se pudéssemos agarrar esse tal algo, forte, que nos amarra, trazendo consigo sentimentos de diferentes intensidades e importância, mas que se conjugam e se transformam nessa força maior a que chamamos amor?
Ah.. se pudéssemos, desapareceria o futuro e viveríamos um presente contínuo.
dc
E.. se pudéssemos deixar para trás os tempos mais difíceis, de arrufos carregados de frio, folhas secas, de “entretantos” desavindos?
E.. se pudéssemos agarrar esse tal algo, forte, que nos amarra, trazendo consigo sentimentos de diferentes intensidades e importância, mas que se conjugam e se transformam nessa força maior a que chamamos amor?
Ah.. se pudéssemos, desapareceria o futuro e viveríamos um presente contínuo.
dc
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quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Longa é a espera
Parada, com
a parede colada nas costas, fico olhando pela janela o luar que se vai
pronunciando na noite, procurando descortinar entre as sombras que se colam nas
paredes da rua, se algures estarás tu. O relógio estabelece o
ritmo sinalizando as horas com o seu tic tac, ban ban, passou uma hora,
tic tac, tic tac, tic tac, ban ban, outra hora que se foi, até que o sono
e o cansaço me tomem e me levem para o leito vazio onde não estás.
Espero-te
noites sucessivas e não chegas. O meu corpo, desde que te ausentaste, arrefece
um pouco todos os dias perdendo o calor intenso do amor com que me tomavas por
inteira, premiando-me os dias, como se cada dia fosse o último. Tenho medo, a
tua imagem vai-se diluindo e as memórias se vão reduzindo, ou sendo alteradas,
instalando a dúvidas naquilo que fomos. Tenho medo que seja um pesadelo
repetitivo, onde me encontro à deriva, confundindo a minha necessidade de amar
com realidade que tu és.
dc
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domingo, 12 de novembro de 2017
Um beijo espontâneo
Foi um beijo espontâneo,
benzido pelo tom rubro do vinho tinto. Com ele o tontear da ironia do destino, que
marcou o deslumbramento e como tudo evoluiu. A loucura de corpos se
conhecendo, com dedos e bocas se percorrendo no mais diminuto espaço, no registo
da demografia corporal, na superfície da pele, apimentado pela mistura de
cheiros e sabores que nos faz diferentes, e, hoje, registos de carácter definitivo
nas memórias que afloram.
Um beijo como princípio, um fim desabraçado, distante, calado, abruptamente instalado, colorindo de roxo, a desistência, a covardia, o permanecer do vazio, a solidão esmagando com os pés todas as flores que tinham debruado os 'entretantos' que entremearam o tempo vivido.
Rasgado o princípio e o fim, nada mais resta, que alguma esperança, de que não seja o ácido da amargura a corroer o pensamento, a trazer ao enrugar da pele a desistência, o medo de voltar a acreditar que vale a pena ter via aberta ao novo, ao diferente, ao que por ser desejado e não cumprido, poderá ser uma realidade mais forte e jamais imaginada. Esquecer “o poderíamos ter sido felizes” é importante, há mais vida para além do ontem, e viver o hoje construindo o estamos bem, nem sempre felizes, mas bem!
Um beijo como princípio, um fim desabraçado, distante, calado, abruptamente instalado, colorindo de roxo, a desistência, a covardia, o permanecer do vazio, a solidão esmagando com os pés todas as flores que tinham debruado os 'entretantos' que entremearam o tempo vivido.
Rasgado o princípio e o fim, nada mais resta, que alguma esperança, de que não seja o ácido da amargura a corroer o pensamento, a trazer ao enrugar da pele a desistência, o medo de voltar a acreditar que vale a pena ter via aberta ao novo, ao diferente, ao que por ser desejado e não cumprido, poderá ser uma realidade mais forte e jamais imaginada. Esquecer “o poderíamos ter sido felizes” é importante, há mais vida para além do ontem, e viver o hoje construindo o estamos bem, nem sempre felizes, mas bem!
dc
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segunda-feira, 6 de novembro de 2017
Achas que vale esperar?
Sim, tinha razão
é preciso mais do que esperar,
é preciso falar, acreditar
na vontade existir,
de continuar, de esperançar
é preciso mais do que esperar,
é preciso falar, acreditar
na vontade existir,
de continuar, de esperançar
Sim, é preciso esperar
esperar de esperançar
esperar de esperançar
quando ambos querem dar,
sem nenhum ficar fadado
à sem esperança, desolado
sem nenhum ficar fadado
à sem esperança, desolado
Sim, é melhor não magoar,
amar é mais do que gostar
dum coração bandido
de algo que não tem sentido
e se perdeu em algum lugar
amar é mais do que gostar
dum coração bandido
de algo que não tem sentido
e se perdeu em algum lugar
Sim, aproveita o tempo,
ganha-o no teu bordejar da vida
sem nada esperar, goza só o momento
no amor à vida que deve ser vivida
ganha-o no teu bordejar da vida
sem nada esperar, goza só o momento
no amor à vida que deve ser vivida
dc
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Foto:Diamantino Carvalho
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