terça-feira, 19 de junho de 2018

Tem dias assim




Tem dias em que as estórias não acontecem, ou passam ao nosso lado.
Tem dias em que as palavras não surgem, e aliam-se à falta de estória.
Tem dias em que se perdem amores, por faltarem as palavras para contar a estória.

Hoje não tinha argumentos para falar da minha estória, esclarecer as razões dela existir. A estória passou à história, mal o pensamento nasceu, perdeu-se no labirinto de explicações prováveis e logo foi passado. É isso que magoa, nem tempo houve para que fosse vivida, morreu ao nascer.


dc


domingo, 17 de junho de 2018

O tempo urge




Ao rosto acrescentou-lhe o sorriso, quase esquecido, arranjou os cabelos, vestiu-se de leveza e caminhou com os sapatos de tacão fino, arredondando a anca, pisando o solo como se flutuasse.
Na incerteza, não sabendo que caminho o outro escolhera, decidiu partir procurando um outro lugar e outras gentes, para encontrar na diferença a calma necessária, para traçar novos rumos, novas experiências e encontrar respostas, aos passos dados, às emoções. Manteve a porta escancarada tempo suficiente para que ele entrasse retomando o seu lugar, ao não fazê-lo, assumiu a sua confissão de desistência, passando uma esponja de tinta invisível sobre que existira. Da sua parte abandonaria a casa de ambos, fechando as portas e tomando rumo em direcção ao horizonte desconhecido.
Há situações que pedem tempo para madurar, entender e perceber, mas após isso, não se pode ficar na eterna esperança, fechando-se à possibilidade e oportunidade de algo de bom que possa surgir. Carpe diem

dc

terça-feira, 12 de junho de 2018

Fragmentos




Só lhe conhece o sorriso, nada sabe da tristeza que o fez sumir.

Os olhos brilham como se tivessem mais para dizer. Segundo parece, foi um sorriso emprestado num momento agradável. Agora, só existe um retrato que esconde a desilusão, e um certo vazio para lá do visível, numa espera que não sabe de quê.
As lágrimas foram embora, levadas pela noite que findou um dia atípico. Amanheceu o novo dia. Meio aturdida ainda pelo sono, que lhe anestesiou os sentidos, sente um resíduo de sonho que não sabe definir. A mensagem no telemóvel alerta-a para sorrir. Está certo, fá-lo-á mesmo que se revire por dentro, com a certeza de que a figura meio tonta que fará, a divertirá, e tudo será melhor sem o peso da penumbra que passeia pelo meu pensamento. 


dc


sábado, 9 de junho de 2018

Encontro inesperado




Estava sentado na esplanada da praça, quando a viu do lado oposto ao seu, aconchegada a ele beijando-o. À distância, era impossível que ela o pudesse ver, daí o registar, à vontade, o que via. Muitos meses tinham decorrido desde a última vez que se viram e falaram, e outros tantos necessários de adaptação à sua ausência, no seu quotidiano. Sentiu o ciúme normal nestas situações, manifestado pela saudade de momentos semelhantes de outrora. A imagem tinha os mesmos elementos visuais, igual expressividade, conforme registo em seu arquivo. Tudo corre como tem de correr, não se consegue alterar, enquanto a vontade for de um só. Aquela cena funcionava em gesto mímico levado à mente, uma espécie de registo digital com os “píxeis” necessários para ficar visível com a mesma qualidade do arquivo na memória. Quando ocorrem estes encontros inesperados, pensamos, e repisamos, procurando encontrar as razões para nossa incapacidade de conseguir pensar com o coração e sentir com o cérebro, tornando perenes os sentimentos, que um dia, nos trouxeram o brilho da alegria aos olhos e o prazer de viver.

dc


quarta-feira, 6 de junho de 2018

Tu sabes...



Sabes....
faça o tempo que fizer
chuva ou sol
horas minutos ou segundos
vento ou tempestade
o mais que possa acontecer
eu estarei deste lado
para o que der e vier  

tenho
capacidade  para ouvir
paciência infinda
amizade para durar
um ombro para rir
um outro para chorar
ternura que não finda
e todo eu para te abraçar


dc