Perante
a mudez dos livros, que não lhe respondiam, embora companheiros nas horas de
solidão e silêncio, decidiu passear pelos arquivos fotográficos, fugindo da
inércia do sofá e das imagens da TV. Foi observando os vários arquivos e suas
subdivisões. Ao fazê-lo reparou que “ela” se encontrava por lá, marcando seu
espaço, em quantidade e variedade. No entanto, agora, não sabia como
atribuir-lhe uma referência de identificação. As tomadas de imagem eram várias,
umas tiradas perto, outras mais distantes, umas coladas a sorrisos, algumas nem
por isso, umas mais vestida, outras menos. Algumas, conhecia a origem, fotografou-as
ele, muitas outras, alguém terá sido, isso também não lhe importava, eram
imagens. Nas imagens que ele fizera, sabia o que procurava, o momento que descreviam,
a estória que contavam, ou se um simples registo do corpo, realçado pelos
traços do lugar. Eram imagens pensadas para cumprir uma função, enriquecidas por uma hierarquia
baseada na qualidade do registo e da motivação. A ideia era ficar com elementos
de memória, que dessem suporte às vivências passadas, sem que a verdade e a
realidade dos acontecimentos fosse perdida.
Manteve-as no arquivo. São resíduos contra a amnésia.
dc