terça-feira, 21 de agosto de 2018

Quero-te muito





Só queria ser amado, com a espontaneidade do sorriso, com brilho claro, nos olhos cor de mel, de quem não teme, com a serenidade de quem não cobra e se dá como sol, o vento ou a lua. Sentir nessa emoção, a mesma inocência dos pássaros no seu voo primaveril. Apreciar-lhe as diferentes tonalidades da cor do arco-íris, e viver a sonoridade das palavras quando pronuncia o seu nome e ao dizer: quero-te muito. 

dc



domingo, 19 de agosto de 2018

Na PRAIA em A'GOSTO




É sua sina, correr contra o tempo. Todos os dias tenta finta-lo, nessa tarefa difícil de se manter à tona, nesse riacho, sujo e descomandado, da sociedade onde habita, das emoções que a arrastam deixando-a sem forças para ir contra a corrente ou encontrar margem de sobrevivência. Encurta-se a existência e aumenta a dolorosa percepção, de que cada vez é mais complicado, superar a irascibilidade que isso comporta na sua relação para com os outros. O que fazer para desenhar novos objectivos que satisfaçam as diferentes questões e que a afectam no seu comportamento com o ambiente social em que interage?
Como gosta de fazer, seus pés percorrem o areal a perder de vista, o vai e vem da água do mar é a sua companhia, enquanto vai pensando: os lamentos pouco me servem, tenho é de enfrentar os dias, procurando a qualidade do presente e, se necessário, tanto partindo a louça como beijando o sol e a lua.

dc


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Na página do dia



Ela abre a página do meu dia. As repas sobre os olhos realçando-lhe a sua cor de mel e um sorriso, doce e prometedor, fazem o resumo dum rosto cuja beleza nos diz que vale a pena acordar para o dia. Nada poderá perturbar o encanto, a que me sinto preso, ao olhá-la pela manhã. Sei dela como estrela de um outro planeta e nem isso me perturba. Que perdure no tempo, quanto baste, sem que a rotina aconteça, sem que o relógio fale. Quero sentir a emoção, quando trocamos olhares, de a ter por perto todos os dias alegrando o meu viver.


dc


domingo, 12 de agosto de 2018

Tempo das flores





Como celebrar depois de tanta ausência, tanto vazio, nesse desaparecimento total, sem volta, se não ir ao mar lançar as flores como oferenda e agradecimento, por me teres permitido acordar da tua dúbia existência.
Ali, arrastando os pés descalços sobre o areal, já não sentia a angústia da tua partida, nem a dor que tinha ficado.  A paz lentamente se ia instalando. Nada se perde tudo se transforma, é um facto. O tempo dá cor à verdade e ajuíza a sua justeza. As flores serviam para te agradecer, por teres um dia passado pelo portal da minha experiência e me teres enriquecido, ao viver a existência tendo-te por perto. Quanto mais não fosse, para perceber que nem sempre a primeira impressão é a que marca os dias que se seguem ao primeiro beijo, ao primeiro abraço, à primeira vez que fizemos amor. Foi o tempo, aquilo que menos aproveitamos, que melhor desenhou o destino do que vivemos. Não existe arrependimento, tudo o que vivemos tinha de ser vivido, ponto.


Beijo. 

Um dia nos encontraremos, se houver o outro lado do mundo, onde dizem já não termos percepção do tempo, nem da sua duração marcada pelas horas do relógio, e então poremos a conversa em dia.


dc





sábado, 4 de agosto de 2018

Ao Nascer do dia




E porque hoje é sábado e o tempo é nosso, e para que a vulgaridade não se instale, revoluciona-se começando no nascer do dia, antes de haver lugar ao descanso. Prazeroso rosa carne, nesse centro do universo, na oralidade desse jeito de amar. Deixar a rotina do exercício samaritano, procurando outras formas de leitura e compreensão do corpo, enriquecendo a diferença, libertando os sentidos, alimentando trejeitos, arabescos, odores e zonas tórridas, aglutinando tudo desde a maciez aveludada que se degusta, à vibração da alma no cume materno.
E por gostar, se repete o ciclo do fazer, até que a exaustão nos consuma, e nos deixe letárgicos perdidos de memórias e tempo de existir.

dc



Recordar





Perante a mudez dos livros, que não lhe respondiam, embora companheiros nas horas de solidão e silêncio, decidiu passear pelos arquivos fotográficos, fugindo da inércia do sofá e das imagens da TV. Foi observando os vários arquivos e suas subdivisões. Ao fazê-lo reparou que “ela” se encontrava por lá, marcando seu espaço, em quantidade e variedade. No entanto, agora, não sabia como atribuir-lhe uma referência de identificação. As tomadas de imagem eram várias, umas tiradas perto, outras mais distantes, umas coladas a sorrisos, algumas nem por isso, umas mais vestida, outras menos. Algumas, conhecia a origem, fotografou-as ele, muitas outras, alguém terá sido, isso também não lhe importava, eram imagens. Nas imagens que ele fizera, sabia o que procurava, o momento que descreviam, a estória que contavam, ou se um simples registo do corpo, realçado pelos traços do lugar. Eram imagens pensadas para cumprir uma função, enriquecidas por uma hierarquia baseada na qualidade do registo e da motivação. A ideia era ficar com elementos de memória, que dessem suporte às vivências passadas, sem que a verdade e a realidade dos acontecimentos fosse perdida.
Manteve-as no arquivo. São resíduos contra a amnésia.

dc