terça-feira, 27 de novembro de 2018

Como lágrimas saindo da terra




Saindo da cidade grande, procurei as terras do interior, onde a natureza nos toca mais dentro, onde se sente mais. O ar puro e os campos verdes ainda humedecidos pela chuva, criam maior recorte às imagens e maior definição às tonalidades. Ali estava aquela imagem suspensa esperando por mim. Como lágrimas saindo da terra, crescendo ao encontro dos fios, quase escala musical, numa sinfonia de encanto aos sentidos. Terra, plantas, céu e ar num cenário quase etéreo da natureza e os seus elementos, adentrando e arrefecendo o sangue das vibrações nefastas. A natureza ajudando na catarse das tensões, preocupações e sentimentos, que exacerbados, se tornam maléficos no entendimento da realidade dos dias.

dc

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Folha Seca




Seca na árvore
a folha, na sua cor quente
não sente a morte fria.

A terra dura amolece
com a chuva se humedece
enquanto a árvore se esvazia

A folha cai dá húmus à terra
e quando nela se desvanece
logo se precipita e outra floresce

dc

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

No tempo das sombras




No tempo das sombras tudo era indeterminado, qualquer hora servia. Se amanhecia de um lado, do outro ainda noitava, não havia problema, os pensamentos evoluíam no discurso, embora enrolado numa torre de Babel, de atrapalhada fluência. Foi assim, que atravessaram montanhas de sentimentos em voos rasantes, especularam viagens, viveram encontros e dançaram ao som do Danúbio Azul, sem ainda conhecerem a história do rio que separava a cidade. Tempos superlativos, de segredos contados, de acervos outrora fechados. Tudo foi dito escrito e comentado num para sempre, registado, como força de argumento de não voltar a ser divulgado. Em todo o fraseado, sempre, era uma palavra que entremeava, todas as outras faladas, tirando a força às particularidades do tempo que as limitava. Curioso, foi que o para sempre, ficou no registo de cada um, e nele a memória se calçou, para fazer caminhadas às profundezas do pensamento.

dc

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Há dias de manhã ...




O dia só podia trazer luz e força. Os projectos, que povoaram a noite, apontavam um caminho com solução à vista e até o timing certo para tudo se realizar. O sol trazia a luz e calor na manhã de outono, a ideia de desejos realizados trazia o optimismo. No entanto, há sempre um, mas, que estica a sua perna à nossa correria e nos faz espalhar pelo chão. A vida, essa tal coisa, que justifica tudo, que nos mantém à superfície da terra, nos surpreende, nas suas láminas frias e afiadas, nos golpeia, destruindo todo o sonho, todo o projecto, toda a crença e nos deixa com feridas, que curadas deixarão cicatrizes profundas e que matando por dentro, nos definham. Então pensamos e justificamos que isso é crescimento. Crescimento? “Há dias de manhã em que um homem à tarde não pode sair à noite nem voltar de madrugada

dc


domingo, 18 de novembro de 2018

Bocas de Espuma




Na promessa, não se contém, e do amor diz que é para sempre.
As mãos dadas celebram a união, comunicam-se no silêncio
O areal extenso é testemunha de um beijo que se prolonga
Bocas que parecem desfazer-se em espuma, no roçar e pousar dos lábios
O pôr do sol no horizonte coloca no mar as suas cores quentes.
No areal, as sua pegadas deixam o trilho num caminho sem fim à vista.

dc


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A coisa (des)necessária




Antes que a mente se perca, no desvario de sentimentos, adopto o silêncio conveniente, para não sentir, a ausência inconveniente.
O silêncio é a minha escolha, quem decide pela ausência é uma outra.
Talvez estejam ambos certos, cada um quer a sua preferência, seja qual for o julgamento e proveniência.
Há coisas que se podem dar como certas, é sempre melhor a duvidosa solução, de que a dor permanente da indecisão.

dc