.... e prendia-se
nos pequenos pormenores da sua figura. Não eram os traços de beleza que
chamavam a sua atenção, sim os gestos que traziam à memória, a superfície dos
seus dedos que falavam da pele, o movimento dos lábios nas frases saindo-lhe da
boca, os olhos brilhando, os trejeitos do rosto, as mãos que se agitavam no
dialogar. Numa aparecia um sorriso vincado, na outra um olhar profundo, o corpo
em cabriola, a blusa voando na brisa, as calças rasgadas no joelho, os braços
se levantando deixando o peito desenhado, as orelhas bem delineadas e
ornamentadas. Algumas havia em que da palma da mão soprava um beijo, em outras,
uma careta e um sorriso maroto, outras até com olhar e boca, vincados de zanga
na pose forçada, tudo imagens desafiando a objectiva que na sua frente a
observava.
A nostalgia, surge num repente, trazendo com ela o desconforto e pensamentos
contraditórios. Qual a razão por que guardámos imagens que sabemos nos trazem
memórias, que entristecem pela ausência de quem nelas aparece, ou, porque com elas
vem colada a dor. Muitas delas representam efectivamente momentos, que quando
foram captados, se pensavam para uma estória que ficaria para sempre e o
registo fazia parte, mas depois, se não resultou, por que razão não as cortamos
ou colocamos no caixote do lixo? Talvez sejam importantes como registo, não para
nós próprios, mas para que outros, um dia, façam a história de forma
documentada. Centenas de imagens relatando acontecimentos, sentimentos, estados
de espírito, lugares, em resumo, vivências, mas já deixaram de fazer sentido
nas nossas vidas do agora. Se assim é, melhor será deixá-las no baú “até que a
morte nos separe”.
dc