Desde que nascemos, dão-nos a
cenoura da esperança. A mãe engana-nos com a chupeta, para que se cumpram os
horários entre refeições, ou aproveita, para calar o choro com que nos manifestamos
contra o engano. Crescemos com a promessa de que evoluiremos no padrão e
qualidade de vida, se conquistarmos “coisas”, se nos esforçarmos por atingir
objectivos, que nem sabemos a razão da sua existência. Assim fazemos o ensino
básico, o secundário, o superior, o mestrado, o doutoramento e por aí fora, já
na esperança de que quando findar nos abrirá as portas para um emprego, onde
iremos subir escadas sem fim, e talvez, se nos deixarem, atingiremos o topo de
carreira, na idade da reforma. Colado a isto tudo, vêm os filósofos da vida,
falarem-nos karma, na auto-estima, no esoterismo, na inteligência emocional,
etc. etc. tentando travar a revolta, de acabarmos de cabelos brancos, a urinar
pelas pernas abaixo, a dormir de pijama caduco, olhando o espelho com olhos
cansados, de um percurso de não nos lembramos bem afinal qual era o objectivo.
Ou seja, procuramos mais conhecimento, crescimento, qualidade de vida, amar,
estar com a natureza e morremos aos poucos nas etapas que durante o caminho nos
vão engolindo, deixando-nos endurecer e sem viver, aquilo que certamente, sem
nada dessas cenouras, teria decorrido, aos solavancos, talvez menos
promissores, mas livres para sermos gente. São vários os especialistas que
abordam este tema e lamentavelmente, a maioria de nós, só ao fim de muitos anos
nos apercebemos da sua verdade. Afinal quem lucra com o desenhar destes
caminhos que a sociedade envolvente faz questão de nos apresentar?
dc