Maria, vive assim todos os dias, se deita e levanta,
com a mesma a certeza da noite e do dia. Tem um trabalho diário intenso, responsável,
comum é o horário por turnos, que quase fica com tonturas no momento inicial da
adaptação a cada turno que varia. Vive o casamento, pela rotina dos dias e com
os desencontros que o horário de trabalho traz, contribuindo para o esgotamento
do amor que os uniu. Raro existe outro espaço em que o tempo permite a distracção.
Não pensa muito em futuro, o presente já é tão confuso de resolver.
Tudo seria mais fácil se tivesse agora um alguém, que fosse o seu verdadeiro amor,
com quem partilhasse, uma espécie de braço suplementar da sua vida. Quando
assim acontece, tudo é mais fácil, para suportar as noites e dias incertos e encontrar
horas, minutos, ou segundos, para o sorriso espontâneo que surge, para o prazer
de estar, ser e existir. Nesses momentos gratificantes, onde os abraços do
companheiro, dão conforto, são o carinho e atenção, necessários a uma harmonia,
na vivência. Sentir nos seus braços, o acolhimento, o beijo apetecido, a carícia
certa. Aquele beijo que sem demora, dura o tempo que se quiser, e deixa surgir
mais amor, na manhã que desponta, na tarde que se amorna, ou noite de luar que
chega. Esse amor que é o intervalo necessário para que a vida valha a pena ser
vivida. Maria é um ser partido, filhos crescidos, e um casamento sem norte,
talvez por ter morrido, na rotina de uma vida tirada à sorte.
dc