Olhava o espelho, como a Rainha Má da Fábula da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais “velho” do que eu?”. A frase vem-nos à mente, quando nos observamos a envelhecer. Olhamos o espelho e não vemos as rugas, nem as pregas da carne espalhadas no corpo. Ou, porque a luz é insuficiente, ou os nossos olhos só enxergam o que sentimos por dentro. A idade é uma marca de calendário, que o corpo assume, mas dentro de nós, está muito aquém da outra realidade, que é a forma como vivemos os dias. Quando alguém nos pretende fotografar, fugimos da objectiva recorrendo a diversos estratagemas. Pensamos: não vai captar o nosso melhor lado; não usa uma luz adequada, vai evidenciar as marcas no rosto; apanhou-me perto de mais, não trazia a melhor roupa, hoje não era o meu dia, e por aí vai, de modo indeterminado. É-nos difícil aceitar, que o nosso corpo, normalmente, não obedece a quem o sustenta, vai acontecendo de adaptação, em adaptação, à natureza da vida. Ao andar nas ruas, não nos apercebemos do tamanho e da rapidez das nossas passadas, só quando nos cruzamos com alguém, verificamos que são mais lentas e mais curtas, de que a nossa mente nos sugere. Ficamos com a ideia de que essas pessoas andam, num corre, corre, exaustivo. Se, por acaso, paramos junto de uma montra, ou janela, vemos reflectida uma imagem estranha, quase como se víssemos um Extraterrestre. Quem é aquele pessoa, ali reflectida? É um drama inconsciente, que nos faz olhar para além das nossas possibilidades e tropeçar na estória de engodo e engano, quando nos oferecem, o que nem em sonhos imaginaríamos.
dc