terça-feira, 17 de dezembro de 2013

SÃO ÁRVORES SENHOR..



Estão sós, como que perdidas. E mesmo assim desnudas, tem uma presença e beleza incríveis na paisagem.

Vestem e despem-se de acordo com a estação do ano, Tomam diferentes aspectos e riqueza, como seguissem a moda. Na sua maioria, mantêm a sua estrutura e crescem atingindo algumas grande porte, Outras há, que têm quem as cuida, alimentando-as e melhorando a sua qualidade, aparando e alterando a sua forma.
Seus troncos e pequenos galhos despidos, quando aparados, rasgam o espaço, desenhando-se contra céu como esqueletos, ou fantasmas...onde os pássaros não encontram, nem comida nem abrigo, por isso evitam-nas.

O nosso olhar e pensamento, tornam-se estranhos quando as observamos, Elas parecem transportar para nós uma certa nostalgia, como se a perda das suas roupagens fosse culpa nossa, e as quiséssemos aconchegar e proteger, até ao renascer da primavera.

Tão despidas e nuas, como nós quando perdemos o pé nas escadas da vida. Elas quase sempre renascem com mais vigor e com novas roupagens, Nós, os humanos, muitas vezes nos perdemos, sem nunca voltar a renascer.

DC

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A RAZÂO DO MEU PARTIR


Sim, carregado de enigmas, eu serei, perante outros de olhos tão abertos e de linguagem, simples. Esses outros, que meio do nevoeiro das suas decisões, está sempre tudo tão claro que nem se lembram como as tomaram, e por quê.

Não sei como diria de outra forma, na verdade não esperava que a reacção fosse outra, temendo o incontrolável fugiu. Rotular os outros, é coisa que, uns e outros, nos habituamos sem ponderar até que ponto magoamos.

No dizer de Clarice Lispector: Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia.

Foi por falar, ou dizer o que pensava e a forma como pensava, a razão de meu partir. Caso contrário, “por me perder eu te perderia”.

DC

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Foi assim que fui...



-->
......, cada vez mais longe perdendo as referências de ti.

Perderam-se os abraços, os beijos, as carícias, os momentos de conversa e as corridas à pressa no reencontro que a periodicidade dos dias nos permitia.

Voltaram os silêncios, as ausências, De forma incompreendida nos perdemos não sabendo bem, em que curva da vida isso aconteceu.

Hoje, olhando espelho, vejo um sombra difusa de alguém que não existe, um fantasma que se perde na bruma dos dias.

DC

“Se sou amado, quanto mais amado mais correspondo ao amor. Se sou esquecido, devo esquecer também... Pois amor é feito espelho: - tem que ter reflexo.”
Pablo Neruda

UMA FAMÍLIA...




É um conjunto de seres
de diferentes dimensões e amores
Vidas soltas presas pelo sangue
e pensamentos
que se afastam e se aproximam
em diferentes momentos
onde fala a tristeza e suas dores
ou risos muitas cores


DC


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

EXPECTÁVEL...


...sim, esperei que viesses quebrar meu silêncio, que trouxesses nas tuas mãos as carícias, as vontades e o conforto de amar...que me agarrasses o rosto e procurasses a minha boca, me beijasses como se fosse o princípio e não o fim, sem o medo de partir, que me afagasses o cabelo, me aclarasses os pensamentos fazendo-me acreditar ...sim sonhava com teus olhos brilhantes molhados pelas lágrimas de alegria de estarmos juntos... e percorreremos, como outras vezes, a margem do rio, de mãos dadas revivendo e amando nossas historias.

Sempre se pode esperar que se soltem no ar as nossa vontades e desejos... que mergulhemos no nós de cada um, marcando na pele dos dias, e não mais nos permitiremos destruir o que nos une, Não procurava encantadas princesas, nem rainhas, mas os teus braços envolvendo a minha cintura, disponível para uma caminhada cujo o fim só chegaria um dia em que natureza o determinasse.

Queria-te mais do que sonho, sem ideias preconcebidas, sem medo de deixar nascer.

DC

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

QUERER SAIR DO BURACO E FICAR..

 

Sem sair do calor dos lençóis, o tempo frio não ajuda, olho o sol que entra pela janela e deixo que a vida decorra perante os meus olhos. Ouço trinar dos pássaros, a agitação do vento arrastando as últimas folhas das árvores, que ficam despidas da sua habitual vestimenta e como esqueletos se desenham no ar. Os esquilos, correm no telhado em grande agitação, foram eles o meu despertador matinal, como a lembrar-me que a vida existe lá fora.

Eu continuo, encostada nas almofadas, impávida, olhando através da janela o horizonte distante, vejo um pouco do rio que se encaminha pelas margens para a foz. As árvores e a cor verde reinante transmitem paz, No entanto, nada me demove da apatia em que me encontro.

Tudo se perdera em meia dúzia de palavras, um pouco mais sentidas, Nem sempre temos a grandeza de saber esperar, de dizer sem magoar, ou ter a compreensão necessária. A impaciência, e a pressa de voltar a nossa vidinha, tiram o discernimento e capacidade de entender as preocupações e sensibilidades diferentes das nossas. Mesmo quando o gostar, ou amar, é mais emoção do que razão, nos perdemos em labirintos de dúvidas e especulamos, com medo de assumir o que se avizinha como provável. Viramos as costas a esse provável, porque tememos ceder, partilhar, dividir espaço e atenção, agarramo-nos ao que chamamos a nossa independência, quando na realidade tememos perder as nossas rotinas absurdas... deveria ter lido Voltaire antes de ter dito alguma coisa, talvez agora não estivesse impávida e sim vivendo a vida.

“As paixões são como ventanias que sopram as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens, nem aventuras, nem novas descobertas.” Voltaire
DC

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nem pela idade, Nem pela distância.



O Dezembro surgiu, trouxe mais frio, e um sol que brilha mas não aquece. As árvores hesitam entre o finalizar do Outono e o iniciar do Inverno, Folhas amarelecidas que não caem, outras que teimosamente se mantém verdes e um tapete amarelo torrado onde os pés se afundam num estalejar quase sinfónico para os ouvidos.

O casal ali sentado no banco de madeira, vestidos sobriamente e bem agasalhados, integram-se naquele cenário frio e matinal, De mão dada, conversam animadamente olhos nos olhos, entre sorrisos e beijos parecem dois pássaros arrolando paixão, no seu piu piu de acasalamento.. um olhar mais atento veria a mala de viajem pousada junto ao banco, Qual deles chegara?

Se nos pudéssemos aproximar sem sermos vistos, certamente ouviríamos as frases que trocavam e as razões do brilho dos seus olhos.....” a amor ainda bem que regressaste... pena foi, por saberes que estava doente?”... “ soube da tua doença quando me encontrava de regresso a casa.. Vim porque tinha saudades da mulher que eu amo..”.

O cabelo comprido, que surgia abaixo do chapéu, na cabeça dele e o cabelo solto descaído sobre os ombros, nela, relatavam a sua idade...branco de neve de acordo com a temperatura, mas longe do calor do seu amor que o decorrer dos anos não se diluíra ...nem pela idade, nem pela distância.

DC

desenho: Francesco Jacobello