sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Onde os leva o coração





Ele gordo bonacheirão
Ela gorda bonacheirinha
Ambos se davam a mão
Com sorriso na carinha

Caminham o dia à dia
Sem qualquer direcção
Fazem-no com alegria
Vão onde os leva o coração

Quando por mim se cruzam
A ternura neles transparece
Amores destes não abundam
E quem os sente se engrandece

Os anos por eles não passam
Sempre o brilho no seu olhar
Vê-se que não se cansam
Daquele seu modo de caminhar.

dc

domingo, 16 de outubro de 2016

Seja por um só instante




A dúvida sempre ocorre na tomada de decisões, mau seria se não a tivéssemos,  mas se não decidimos, para o bem ou para o mal, arrastamo-nos deixando o “pélo debaixo da ferida" que impede a cura .  Temos, na dúvida, de tirar esse pequeno obstáculo do caminho e esperar o resultado, porque, seja ele qual for, será sempre positivo. Se a decisão for errada poderá ser emendada ou, pelo menos, evitará que cometamos erro semelhante no futuro. Se correcta tudo ficará bem.
Dói tomar decisões, mas dói muito mais a agonia da indecisão, ela divide-nos, no tem-te-não-caias, que se prolonga indefinidamente. Se a viajem é curta, para quê prolonga-la na indecisão de não arriscar? A indecisão não está, no ser curta ou longa a viajem, está na vontade, está no caminho, na bagagem, no veículo que se escolhe para a viajem, nos que se querem, ou não como companhia, nos custos emocionais ou económicos. Então, a decisão está no que é importante e queremos para nós, para o euzinho que somos.
Muitas vezes indecisos, porque nos preocupamos excessivamente com o que à volta nos rodeia. No entanto é bem possível, que ninguém repare em nada do que fazemos, nem se preocupe minimamente se somos felizes, esses outros estão preocupados com o seu bem estar e com o seu próprio euzinho.
Durante muito tempo, julguei a felicidade perceptível, em momentos raros das nossas vidas, como contraponto dos momentos menos bons. Entretanto fui aprendendo e percebi que a felicidade é vivenciarmos momentos únicos que nos alegram, que nos dão prazer, que não trocaríamos por coisa nenhuma e que gostaríamos de prolongar. Todos temos isso, quase diariamente, e nem reparamos nesses pequenos nadas que fazem a nossa vida ser melhor. Se tomarmos uma decisão que nos dê esse momento, por curto que seja, teremos vivido, teremos sido felizes, nem que seja por um só instante.

Momento
Saí-me do comodismo e caminhei na direcção da Foz do Douro, para captar imagens, procurando distrair-me com esse meu “vício”. Quando ali cheguei, fiquei vivenciando cada segundo até que o sol se escondesse no horizonte. Momento raro de felicidade, em que tudo se conjugou em meu benefício. Captei as imagens do que via, como criança comendo guloseima, e assim fui alterando meus pensamentos e alegrando o meu silêncio.

dc




sábado, 15 de outubro de 2016

Nunca o tempo foi tão pouco




Nunca o tempo foi tão pouco,
para o muito que havia para viver,
a indecisão sempre travou o acontecer.     
Não me apercebi da forma do teu corpo,
porque não tive tempo,
nem momento para me aproximar.
Não senti teu cheiro, nem teu hálito,
porque nunca te pude beijar.
Nunca te afaguei os cabelos,
porque sempre estiveram
afastados dos meus dedos.
Não pude aproximar-me,
porque te fechaste nos teus segredos.
Tudo se resumiu a um sonho,
de longe vivido e permanecido,
sem a confirmação
se na realidade da pele fazia sentido.


dc

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Um olhar oblíquo




O cansaço se espalha pelo corpo, como a água nas cheias se vai assenhorando da terra nas margens do rio. Entra lentamente e vai aumentando o caudal, até que o seu deslizar e intensidade vai arrastando tudo consigo. Assim é este cansaço longo de viver, de esperar, de não saber o rumo que dar. O corpo pesa, a mente pesa, a vida pesa neste correr de anos de experimentar, tentar no erro e acerto, no acerto e erro, sempre se esvaziando mais, deixando cada vez menos tempo de acerto, aprendendo cada vez menos, azedando, e sem espaço para errar sequer mais uma vez.
O teu olhar torna-se oblíquo de acordo com os livros e revistas que na estante te desafiam. Já não inclinas a cabeça. São os olhos que se entortam na azáfama de encontrar algo que te faça levantar do cadeirão, que te provoque a curiosidade e te faça empenhar em mais uma viagem que não a tua. Tal a preguiça, a ausência de vontade de partir, de fazer cacos, de lutar, de conversar e discutir conhecimento.
Escreves algumas palavras, “botas” sentimentos em letras redondas, em folhas de papel transparente que ninguém tem curiosidade de ler, nem saberiam a fórmula capaz de tornar legível o que expressas.
Tantas vezes como lagarta na couve, vais roendo pedacinhos e entrando no miolo do que em teu redor vive e se agita, correndo o risco de morrer sufocado nesse adentrar no tormento de procura sem resposta. Ninguém quer saber do que queres. Todos têm demasiado, de preocupação e chatice para reparar na tua normal incapacidade, perante a frescura dos que
recorrem à ignorância e se deixam levar pela superficialidade das coisas. Crítico? Talvez, demasiado de ti próprio, temendo a insensibilidade e passar ao lado dos que esperam o teu apoio, mesmo que signifique a dureza das palavras, o sofrer por eles, o de viveres, sem que te vejam e saibam, as dores que lhes ensombram os dias.
Deixa-te ir, lentamente, os dias tornar-se-ão menos pesados. O entardecer assumirá seu caminho, e depois, depois que se lixe, já ninguém saberá quem é quem e tudo irá parar ao caixote do lixo dos objetos amorfos.


dc

terça-feira, 11 de outubro de 2016

No silêncio me interrogo





No silêncio me interrogo ...

Tantos foram os silêncios que já vivi,
Tantos foram os silêncios procurados,
Tantos foram os silêncios não desejados
Tantos foram em palavras desenhados.

Percorre-se-me a vida nesse limbo
Nessa forma de aprender e sonhar
Nessa forma de sofrer e desejar
Nessa forma de ausência e de ruído.

...sobre todas as coisas
 e digo...

Gosto do silêncio quando ele não me quebra
Gosto quando me dá força, me inspira e alegra,
Quando não precisa de palavras para o definir
Quando funciona como notas música
Em melodias que na alma tocam
E fazem sorrir no silêncio de as ouvir.

Assim é o silêncio, um não ouvir relativo
Que acontece enquanto o sentir me faz vivo.


dc