segunda-feira, 24 de abril de 2017

Vens..




A pergunta ficou no ar, tantas vezes, que ainda estou para descobrir onde mora teu coração. Do corpo já eu sei, navega entra a labuta do ganha pão, na manutenção da vida e de todos as coisas que não marcam a emoção. Mas o teu coração...será que se perde na imagem, na aparência, escondida debaixo de dois cacos de vidro escuros??... uma vez mais fica a pergunta...”você ainda....” Se tem a resposta...é só marcar o lugar...


dc


domingo, 23 de abril de 2017

Não só silêncio




Não só silêncio

Um inexplicável
Silêncio se instalou
E não só a voz se calou

Foi-se o sorriso
O olho brilhando
A boca mordiscando
As mãos inquietas
As vontades irrequietas
Os momentos instantes
Os cheiros dos amantes
O leito desarrumado

Foi-se a osmose pela pele
No desejo impreciso
No ciúme sem jeito
No exagero de juízo
Na usura das palavras


Silêncio trás a saudade

Nela o avivar da memória
E a dura realidade
De que acabou a nossa estória.

dc






sábado, 22 de abril de 2017

Uma aragem fria





Como chegaste
Partiste
Na frieza de sempre

Não sei se sentiste
A aragem fria
preenchendo o ar

Na verdade
Muito ficou por dizer
Neste ir e voltar

Fazes minha boca fechar
A verdade custa a dizer
E a mentira custa manter

Por isso não me espanta
Há pessoas que no seu viver
A verdade pouco as encanta

Nada resta que valha pena
Se a minha alma te é pequena
Para quê ouvir e falar

Seriam frases perdidas
Emoções contidas
Sem encontrar seu lugar

O bom não é eterno
Sempre haverá verão e inverno
E muito para escrifalar
 
dc





quarta-feira, 12 de abril de 2017

Sem ressentimentos




Sem ressentimentos, ficou feliz vendo seu sorriso de alegria, olhos flamejantes, num rosto sem sombras, sem nostalgia, Por fim, livre de todos os pesadelos, livre do peso de coisas más do passado e de outras boas que já não fazem sentido, avança para o novo.

Deixar partir, o outro, é importante para o nosso próprio bem estar, só assim ficaremos capazes de encontrar um caminho e aceitar a mudança.

O apego é, na maioria das vezes, aquilo a que chamam amor. Na verdade,
o amor não será antes, sermos desprendidos o suficiente para amar, mesmo quem deixou de nos amar? O nosso amor, é nosso, independentemente do caminho que o outro segue, não deixaremos de amar, se ficarem intocáveis os valores e o respeito mútuo. Amamos incondicionalmente alguém, pelo que é no seu todo, não pelo que queremos que esse alguém seja, Se amamos alguém, não procuramos nele a semelhança, o repetitivo, o igual a nós, mas quem nos aceita a dissemelhança e vice-versa. Amor um sentimento, um espaço de emoção, dentro de nós, do qual o resultado será o justo beneficio de cada um, em valores e qualidades individuais, e cuja soma será maior que a junção das partes. Na sua união se gostam, se respeitam, se encontram, sem perda da sua individualidade, que os tornam únicos perante si. Por isso..

...sem ressentimentos, aceitou a sua partida para um novo projecto, um outro viver. Importante é que, procurando ser, ou sendo feliz, impediu a manutenção de uma dupla infelicidade.


dc



terça-feira, 11 de abril de 2017

confidência




“Face lisa, sem botoque, umas pequenas rugas nos olhos, não da idade, mas pelo olhar intenso que faz ao cerrar os olhos, como se quisessem adentrar. Olhos belíssimos, negros, enormes, trazem vida à boca de lábios vermelhos cor de cereja.
Do resto, é melhor nem falar, é demasiado para ficar indiferente. Uma morfologia física a não desdenhar e uma capacidade intelectual acima da média.  Ela e seu encanto, trazem-me o sorriso aos lábios quando a vejo, seus dedos têm a leveza da borboleta quando me percorrem o rosto. As sua mãos, são macio veludo com que agarra meu rosto e me beija boca, como que sorvendo um fruto. Beijo molhado, corpo se enroscando, se aninhando em meus braços voando para dentro de mim.
Horas sem sentido falando, beijando, indo mais longe, descobrindo que o sabor da vida é um nós que se vai instalando, não deixando lugar a dúvidas, confiantes no que temos e conquistamos.”

Em jeito de confidência, foi assim que ele me descreveu o amor da sua vida. Numa alegria de criança, de voz agitada, mãos desenhando no ar arabescos, com agitação de uma performance em tela de Pollock*, Só não dava pulos no ar, mas voava, sentia-se que voava, mesmo de pés assentes no chão. Sentia-se a leveza na expressão do rosto, todo ele era felicidade.
Eu, que o ouvia, deliciava-me por perceber que a sua contagiante alegria era uma mensagem, um alerta de esperança, para os menos esperançosos, de que a qualquer momento, nesse caminhar dos dias, se pode dar uma topada e dali surgir o seu “ai jesus”.

dc


*Paul Jackson Pollock foi um pintor norte-americano e referência no movimento do expressionismo abstrato.