domingo, 5 de maio de 2019

O relógio está a contar



Sim, porque não se espanta pela sua espera, tão longa, dura e vazia? Que fazer para que acredite nela, como uma espécie de celibato assumido, como um retiro onde deixa que a vida decorra, em meditação e memória, até que se torne a realidade que a fez esperar. Às vezes, senta-se no sofá e tenta fazer uma espécie de apneia para se sentir sufocar, procura através dessa sensação de limite, que algo de inesperado aconteça que a ajude a descobrir a resposta se vale a pena, ou não, continuar nesta espera. Desta vez, não correu ao encontro da aventura, arduamente ocupou, com o trabalho, o cérebro e o físico, e nos descansos ficou-se pelo silêncio cuidado, pelas leituras várias, pelas caminhadas longas na areia do mar, pelo horizonte e seu pôr do sol desenhado naquele tapete verde, onde encontra a companhia das suas reflexões. Escreve vezes sem conta, com tinta invisível, com medo que leiam o seu segredo, porque não tem a certeza de que se a mensagem se revelar, terá a resposta que espera.


dc

sábado, 4 de maio de 2019

Os dias ..acontecem



Há dias em que a acordamos e a tristeza está instalada em nós
Há dias que vivemos no meio de muitos e não temos voz
Há dias que tudo escorre por cima da pele impermeável
Há dias em penamos sem saber o porquê de acordarmos
Há dias que tudo em nós, é o que perdemos e já não o sonhamos.

dc


terça-feira, 30 de abril de 2019

A flor tEm um rosto



Uma avalanche de sentimentos escorre por dentro de mim. Não sei se me perca olhando infinitamente nos teus olhos claros e transparentes como água, ou siga cada curvatura do teu rosto, como se elas fossem uma estrada continua, onde o mundo se desdobra, para ser apreciado e descoberto. Que dizer desses teus lábios carnudos, húmidos e sedutores, que se movem e falam sem o som das palavras, nessa língua própria de quem sabe do valor de si. As minhas mãos se agitam, os dedos se soltam sem ordem na procura do teu cabelo sedoso, solto, que serve de pano de fundo ao desenho do teu rosto. Não falo do corpo que me embriaga, nem da sua forma, ou aroma com marcas a tua passagem. Tudo isto é muito pouco, para comparar com a grandeza que dentro de ti existe e me atordoa todos os dias em que te encontro. Seduzido, fui pela tua beleza, preso fiquei pela doação generosa, inteligência, capacidade de entender, mesmo que seja entre silêncios. Quero-te muito, mesmo quando não estás por perto.

dc

segunda-feira, 29 de abril de 2019

O tempo corre



Onde estão as tuas mãos que já não me tocam, a tua boca que já não me beija, esse teu sorriso que já não acompanha as minhas palavras, nem o meu olhar sobre ti. Sabes, quando o amor que sentimos é tão forte que magoa, a saudade é um rasgão no corpo que não fecha. Tudo tem uma dimensão maior, o pequeno gesto transforma-se numa grua gigante que movimenta toneladas de emoções. São os pequenos nadas, desse teu todo, que movem a engrenagem que no meu coração se movimenta na tua direcção. Tudo o que não aproveitarmos agora, serão como água correndo debaixo das pontes e perderemos coisas boas do acontecer. Não quero desistir-me de ti, não importa quanto dure, nem avaliar o seu futuro, deixa que a estória se desenrole no correr da pena e logo se verá como acabará.
dc

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Aos "Tóxicos"


Somos um intervalo, no tempo que decorre na vida de alguns. O intervalo, em que preenchem as dúvidas, enquanto o tempo corre apressado. Um espaço aberto, dado como certo para o desabafo. Espaço de excelência, onde descansam e dividem a consciência. Um depósito onde deixam as suas angústias e as suas dores.
Somos quem querem que mude, porque não modificam quem queriam que mudasse, laboratório de experiência, das suas análises, das suas dúvidas, das suas crenças.
Somos tudo e nada, perante as suas razões, que estão acima de todos.
Nós somos, quem somos, nesse intervalo de todos, sem que procurem saberem nada de nós. Alguns chamam a isso confiança, porque lhes convém, outros chamam-lhe afinidade para tentar chamar-nos para o seu campo de interesses. Alguns até nos chamam irmãos, primos, pais, amigos, anjos, e todos os adjectivos colados para o justificarem. Na realidade esses muitos, para quem “somos”, não são mais que uns quantos indiferentes, incapazes de assumirem os seus próprios erros, virtudes e defeitos, que procuram sobrecarregar as nossas consciências, com as preocupações que os acometem, assim dividindo.
Cansamos de ser espaço morto, no tempo que decorre na vida de alguns que se lembram de chorar no ombro as putices que cometem para aliviar a sua própria carga. Cansamos de ser um intervalo, das suas memórias, quando à sua volta, já nada nem ninguém abre o seu peito e os seus ouvidos, às suas dores desgraças ou alegrias. Cansamo-nos de ser tão maus como eles próprios, passando por compreensivo, experiente, social, amável, bom escutador, ou até cofre de segredos.
Os meus amigos verdadeiros são menos que os dedos de uma mão, para esses eu sou o que existe, visto a pele do que são e vivo as sua vidas como se da minha fosse. Esses outros, os tais outros para quem somos, que vão à merda nem no Natal têm perdão.

dc