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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A MEMÓRIA DE TI



Não coloco aqui o teu retrato encabeçando o texto, sim a flor que te dá o nome e que talvez melhor te explique. Tem o branco da paz que transmitias; tem o amarelo sol, calor do teu aconchego; tem as múltiplas pétalas da tua partilha.

Partiste Margarida, e como mulher terra à terra que sempre foste, não acreditas que irás para o paraíso, nem que farás uma viagem para o desconhecido, mas a nós que cá ficamos sem a tua presença e, com mágoa da tua partida, é-nos conveniente acreditar que assim seja. Até porque achamos que merecias pelo teu exemplo de ser humano.

Durante todo a tua existência foste um exemplo como trabalhadora, como esposa, mãe, avó e sogra. Foste uma revolucionária, como a maioria dos alentejanos, activa e militante comunista trabalhando e participando enquanto as forças, e a tua atenção para com o teu filho, com deficiência, tu permitiu.

Quando te conheci e foi amor à “primeira vista”. Dizer isto de uma sogra, para alguns, é quase blasfémia, no entanto é a verdade. Quase quarenta anos passados desde que falamos a primeira vez, sempre existiu sintonia entre nós, como se duas almas nascidas do mesmo berço. Foste sempre de uma simpatia extrema, disponível e sempre acolhedora nas mais diversas circunstâncias.


Tenho para todo o sempre na memória as muitas horas passadas a conversar, quando vinha da caminhada matinal e saboreávamos o pequeno almoço, tu com um pedaço de peixe frito da véspera e eu com um tira de pão alentejano cheio de manteiga e café acabado de fazer, ou à noite, com a casa em silêncio, degustando a nossa “ceia”, sentados com a uma caneca de café e queijo de cabra. Conversas intermináveis, que iam dos problemas familiares, políticos até aos mais vulgares e comuns do dia à dia. Era o nosso momento preferido, onde todos os desabafos eram possíveis.


A todos sempre dizia que “eras como uma mãe para mim”, e sempre te vi assim, mesmo quando nos últimos anos, deixamos de nos ver. Não porque não quiséssemos, mas por razões circunstanciais assim foi acontecendo. Nunca por esquecimento, ou falta de vontade, como sempre sabias.

Por isso, mesmo agora que partes, a memória de ti será sempre grata e permanente.


O teu genro.


FALECEU A PIONEIRA DA CIDADE DE SANTO ANDRÉ


Foi a enterrar, no dia 27 de Fevereiro de 2015, no cemitério da freguesia de Santo André, aquela que foi considerada a primeira habitante da Cidade.
Assim começa a nota sobre a tua morte.

“Margarida Gomes Matias Jones nasceu em Aljustrel, a 15 de Junho de 1928. Aí constituiu família. Ainda antes do 25 de Abril de 1974, o seu marido era um anti-fascista acérrimo, contra o regime e a favor de uma sociedade de progresso e democrática. Por este motivo, a família de Margarida Jones foi muito perseguida e reprimida pela PIDE/DGS, aumentando sobremaneira a sua angústia e o seu sofrimento. Com a Revolução dos Cravos abriram-se novos horizontes. Em Novembro de 1975, a família Jones rumou a Santo André, tendo sido, segundo várias testemunhas, os primeiros moradores do bairro da Lagartixa e do centro urbano. O seu marido f ez parte da primeira e única comissão de moradores deste bairro.

Margarida Jones desde sempre organizou iniciativas no Dia Internacional da Mulher e associou- se a todas as iniciativas do bairro. Por tudo isto, amou a Cidade de Vila Nova de Santo André.

Orgulhosa pela memória histórica desta Cidade, que não quer perder e em homenagem aos seus pioneiros, a freguesia de Santo André atribuiu a Margarida Jones, no dia 1 de Julho de 2012, a Medalha de Mérito da Freguesia.

Paz em sua memória!”




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O SILÊNCIO E O TEMPO

 

O silêncio abraça-me o peito,
sufoca-me o pensamento.

A data celebra um nascimento
de alguém que já não reconheço,
e acorda-me para as misérias que não esqueço,
verdades que não me escapam,
sonhos que não se realizam ...

Na família, incompleta,
faltam os afagos dos ausentes
e de outros presentes que não os libertam.
Foram-se pela noite.

Um novo dia nasce,
com ele o outro tempo, mais ontem.
Tempo mais rápido, mais lento...
depende de quem vive o tempo
como preenche o tempo.

No tempo em que o amor existe, cresce, se alimenta...
o tempo... não faz parte do tempo.

dc

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SE eu fizesse anos..


Se eu fizesse anos, que não faço, amaria que eles fossem a celebração, num dia, dos muitos anos de amor e alegria contigo na minha existência. Festejaria na intimidade como se fosse a primeira vez, sem dúvidas ou nuvens, com vontade de me dar-te. Seria sempre o nosso aniversário, vivido de ternuras, de beijos húmidos, de carícias e palavras doces.

Celebraria a data como marca de vida. Apagaria as velas e pediria desejos, Beberia champanhe comeria uma fatia de bolo e celebraria um amor sem mágoa, eternizado, tão forte reconfortante e sem idade. Um amor para além da morte.

Se eu fizesse anos, que não faço, nunca por nunca, deixaria que nada perturbasse, o amor do “meu amor”.

Eu não costumo dizer: eu te amo! mas se fosses o meu amor dir-te-ia a toda a hora como se sempre festejasse o teu aniversário.

Bem, eu hoje não faço anos, mas pensei em ti e quis deixar-te uma lembrança, para que acredites que às vezes o amor acontece.

dc

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Fevereiro ... e a memória



Presa na tristeza de tanto te gostar, olho o chão enquanto o corpo se me fecha, não quero que sintas meu sofrer, nesta dor que me machuca.
Senti-te a correr no sangue, na pele e no beijo, senti-te por dentro do nosso desejo.Viveste o meu viver, foste o amor primeiro, estiveste comigo por inteiro.
Hoje, restam as lágrimas
correndo como rios no leito, fazendo o mapa dos cansaços vincando meu rosto. Não morrerei de amor. Matar-me-á o desgosto.

dc

sábado, 31 de janeiro de 2015

O sol me abraça



Quando o dia nasce
e o sol me abraça
o dia se esclarece
e toda a minha angústia passa.

dc

domingo, 25 de janeiro de 2015

PESADELO..



A noite decorre no silêncio do quarto vazio, a febre, o corpo dorido, e a pequenez, de todos nós, perante a enfermidade que nos toma. Nesse delírio, o silêncio é feito desse exército de batidas nos tímpanos, de rios que nos molham o corpo e dos arrepios que um vento que não existe nos trás.

Ouço a voz que não existe, falando-me como se ao meu lado estivesses, sinto teu cheiro de forma nítida, o seu sorriso, e sou trespassado pelos pesadelos que se afastam ou aproximam conforme o meu corpo reage. Falas de forma agreste, afastas-me. O coração bate desordenadamente, a sobrecarga é demasiada, parece querer explodir. Lentamente tudo se esvai não chego a acordar, ouço quem não existe, falando como se estivesse presente, tudo se mistura, pesadelos atrás e pesadelos e o corpo flutuando no limbo, talvez aqui como em outros lugares, tudo se cura ou “até que a morte nos separe.”

dc

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A ESPERA




Gostava que chegasse mais cedo
do que a minha partida.
Gostava de te poder ver e dizer
mais do que algum dia disse.
Gostava de em pouco tempo viver
mais do que alguma vez vivi.
E se ainda por aqui fiquei e não parti
não foi por medo
Foi por ser ter a certeza de que é cedo
para me perder definitivamente de ti.

dc



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

UMA BRISA DE MUDANÇA


O frio era acentuado, mas não estava sozinha na sua caminhada, alguns de mão dada, talvez namorando as suas vidas, outros individualmente como ela, percorriam a linha marginal ao mar, que servia de repouso ao olhar. Enquanto as pernas se mexiam inconscientemente, ia pensando nas últimas decisões que tomara para a sua vida e que não tinham sido fáceis. Ali naquele lugar, na chamada época baixa, não havia a enchente dos turistas sazonais habituais. E embora se sentisse algum frio, era bastante mais quente que no norte, o sol ali era companhia diária.

Estava bastante longe do lugar de nascença, trocara o norte pelo sul do país, precisava de fazer um intervalo, ou paragem, nas rotinas que na sua terra de origem a incomodavam. A vizinhança pouco simpática, a procura de trabalho, as saídas para se distrair que não resolviam o que sentia dentro de si, a falta de partilha de algo mais sério e reconfortante, a luta diária contra o vazio que sentia dentro de si levaram-na a partir.
Ali, naquele lugar, a vida calma que levava permitia-lhe afastar-se o suficiente para se esclarecer a si própria e encontrar soluções para tomar decisões, a idade começa a marcar a urgência de encontrar um caminho mais assertivo que lhe trouxesse a alegria dos dias. Talvez até encontrar o tal príncipe encantado, quem sabe. Há quem diga “não faças planos para a vida, que ela tem planos para ti”, mas ela preferia fazer os seus.

DC

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Uma Tarde na Conversa



Raras vezes se encontram, e quando acontece, o tempo, esse enorme papão da existência, acelera o momento deixando muito por descobrir.
Tem um brilho nos olhos quase diria entre o irónico e interessado que fazem esquecer a cor que os domina, Observa como se analisasse cada partícula do que vê, como se quisesse interiorizar ou memorizar tudo, como um espião em serviço mede todos os detalhes no ambiente que o envolve.
Um olhar que se gosta porque não é neutro, motivado, expressivo, que não se esconde, até por vezes altivo, revelando confiança em si própria, ou alguém que possui um auto-estima elevada. A boca, sem ter lábios grossos e exuberantes, é bem desenhada e dela saem as palavras que melodiam com os dentes brancos e bonitos. Estes dois elementos, constituem parte relevante da construção dum rosto agradável e que dá prazer de observar. Fala em voz baixa, calma e fluente prendendo a atenção entre a visão da sua imagem e os temas que aborda. Existe nela algo perturbador e indefinido, entre o sonhador e o filosófico.
Comentavam um texto que ela escrevera e, nas falas que vão trocando, marca um discurso inteligente, sagaz sem medo ou hesitações, como se tivesses uma experiência de vida que não condiz com a idade jovem que aparenta. Com convicção defende o ponto de vista do que escreveu, não valorizando excessivamente determinados pontos do tema. Revela ambições muito próprias quanto a desafios futuros. Com facilidade saiu do tema do texto, e outros surgem com rapidez, sem se perder no excesso de palavras, contrariando um pouco o seu discurso escrito, que é prolixo, arrojado de adjectivação e no qual se sente o prazer de querer ser diferente, de encontrar uma outra linguagem e vocabulário menos comum.
A lisura da mesa do café e as chávenas são o separador natural da identidade das emoções, criando a distância necessária. Vão trocando opiniões, divergindo, condescendendo, dialogando, evidenciando projectos perdidos, encontrados, pendurados no tempo, com o mar e o sol testemunhado, para memória futura. A tarde tornara-se inesperadamente agradável e valera a pena aquele momento. Afinal dois, de sexos opostos, com idades e discursos de algum modo diferentes, conseguiram entender-se conversando largas horas. Pela primeira, vez em muito tempo, ele fora ouvinte atento falando menos, o que considerou óptimo para si. O fim do dia chegara, a noite rapidamente caíra e o frio, mesmo dentro do café, começou a acentuar-se, urgia partir. Pouco tempo depois cada um seguiu seu destino, sem saberem quando surgirá nova oportunidade para uma outra conversa.
Já no caminho de casa, lembrou-se do livro, Elogio da Conversa de
Theodore Zeldin, em que diz:
"Falar é bom! Converse! Conversar é uma forma superior de inteligência, e uma arte que se pode ensinar e aprender"
Era isso que ele também pensava e sempre esperava de uma boa conversa.

DC

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

DUAS CHAPADAS NA ROTINA



A água corre-lhe no corpo, quente, constante, tenta afastar o frio entranhado, A pele aquece, mas por dentro continua gelado. O tempo corre, sem se aperceber dele, não tem ideia há quanto minutos está ali, Deixou-se tomar pelos pensamentos, que seguem uns atrás dos outros como a água sobre seu corpo. A água corre profusamente pelo ralo, Fixa-se naquela imagem como se naquele orifício se esvaísse a tristeza, as preocupações, as frustrações, o julgamento constante de si próprio. Toma consciência que aquele banho quente, é como uma meditação, uma catarse não escrita, vivida no calor da água que corre, Quanto mais ela corre, mais os raciocínios se vão sequenciando, se afastando da origem tornando tudo cada vez mais breve, mais fácil, mais leve... Sabe que com o correr dos dias, tudo se vai diluindo, levando de dentro a lixarada, começando a surgir os equilíbrios, formas e razões para serenar....Tem de parar, deixar de lamber as feridas, estas se vão cicatrizando e a esperança volta, há sempre algo porque lutar e viver, Mau seria não ter razão para esperar.

A água bate na pele, ele se descobre de repente relendo a vida, tornando tudo menos negro... Sente a coragem regressar de forma consciente, percebe que perder, ou errar, faz parte do crescer, A dor, essa se vai mitigando, e com ela a certeza de que não desistiu, simplesmente optou perder para não se perder.

Enquanto se enxuga, o sorriso vai-se instalando no rosto, a dureza e os pesadelos da noite vão-se, Fica uma sensação agradável, como se a limpeza do corpo também tivesse sido feita por dentro. Muitos mais banhos generosos, de água correndo sobre o corpo, irão acontecer na terapia dos humores e emoções, O tempo não pára a sua marcha, rapidamente chegarão  "climas" mais amenos e tudo se tornará mais fácil. A sua hibernação, por si próprio estabelecida, terá um fim, e então de peito aberto enfrentará novos desafios agora mais rico de experiência.

Veste-se, dá duas chapadas na rotina e salta para rua, o dia está a começar e o sol brilha.

DC
NOV14

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

FIOS de Vidas

 

Olhei e voltei a olhar.
Deixei-me reter nos fios
que se cruzavam criando estradas
tecendo mundos na minha imaginação.
O que via, era mais do que via.
Era um mundo de mãos
mãos operárias se mexendo
concretizando no labor do dia
o salário de que iam sobrevivendo.

DC

Nota:
A Empresa Fabril do Norte ou Efanor é popularmente conhecida por Fábrica dos Carrinhos por ter sido a primeira em Portugal a produzir carrinhos de linha. Fundada em 19071 , esta fabrica têxtil, pelo gigantismo das suas instalações que viria a revolucionar completamente a paisagem e o ritmo de vida da Senhora da Hora2 . Situava-se na Avenida Fabril do Norte.
A EFANOR seria uma das pioneiras no processo de desenvolvimento industrial português, esta empresa de fiação, para além do peso que teve na economia nacional, constituiu ainda um exemplo muito positivo e inovador no apoio social facultado aos seus trabalhadores, possuindo para além de um bairro, uma creche1 , dormitórios, complexo desportivo, na altura da sua construção dos mais atraentes e até um corpo privativo de bombeiros.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 > 2015 ...será que alguma coisa muda



A meia noite se aproxima em galopante caminhada, duros dias passados, são agora memórias esbatidas perante a alegria fraterna do abraço familiar.

Nada supera, nada superou nunca os laços da família, são por demais fortes para que se percam, São ainda a resistência à modernidade, à individualidade, à persistência do egoísmo, ao pulo nocturno na procura de encontrar numa noite, aquilo que durante um ano não conseguiram. Triste recompensa.
Se há alguma coisa que nos segura neste mundo moderno individualista, é a capacidade de manter os valores que nos tornam seres de partilha, de companheirismo, de humanismo.

Não é suficiente lembrar o sem abrigo, importante é saber como contribuir para uma sociedade, onde todos tenham o direito ao seu abrigo e à liberdade de discordar sem punição.

Como disse, o fim do ano está por minutos e não será a passagem curta em que se efectuará essa nuance que tudo mudará. Escrever-se-ão frases e desejos que não se cumprem, ou que artificialmente se desejam, mais por hipocrisia do que efectivamente porque tenham a convicção que se realizem.

E assim se darão as baladas da meia noite e o padre na missa fará o seu discurso de desculpa aos explorados e exploradores que de igual modo, se encontram no mesmo espaço.
Todos rebentarão garrafas de champanhe, ou outra qualquer zurrapa e durante segundo todos ficaremos extasiados na mentira de um novo ano melhor. Só espero que me engane e todos os outros tenham razão e seja um pouco mais do que isso.


DC

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Simples peças...


..... de tecido que existiam no baú das memórias, amarravam-no, não deixavam esquecer nem mesmo agora, o corpo que as possuíra. Hesitou, olhando-as, a mente pensava, mas era o coração que apertava, desaparecendo elas desapareciam todas as suas estórias.
Desfez-se delas, no contentor do lixo, para que ninguém ousasse vesti-las. Deixou-as ir levando consigo tudo o que restava. Era tempo de começar de novo, refazer o roupeiro, ano novo... vida nova. Não poderia deixar que simples pedaços, simples farrapos, simples peças de roupa o tolhessem. Aquela sua atitude era o começo, uma aposta de confiança de que o presente não se fazia de esperas, nem o futuro de simples quimeras.
Como tudo na vida, temos de enterrar o passado, para que o dia à dia aconteça com nova chama e, o futuro seja ao virar da esquina. O passado é somente experiência e memórias, boas ou más, que não se repetem, mas o hoje está acontecer para que se desenhe o novo amanhã.

DC

domingo, 28 de dezembro de 2014

Beijamo-nos infinitamente...




Beija-me com o sabor das lágrimas da alegria do regresso
Beija-me com a carícia das noites dos amantes
Beija-me, nosso amor é mais do que simples instantes

Beija-me pele, faz-me sentir o teu hálito quente
acordando meu corpo num desejo premente

Sente-me nos lábios as pulsações do meu coração
a bater desordenadamente de emoção

Beija-me como estivesses a soletrar
para que as palavras ditas nunca mais possam acabar

Beija-me de manhã ao anoitecer
e continua pela noite até um novo amanhecer

Beijo-te como tu me beijas, com a mesma intensidade
Com a mesma alegria força e vontade

Beijo-te, beijo-te sem parar com medo de te perder
como se o fim do mundo estivesse para acontecer.

Tu beijas-me, Eu beijo-te. Os dois nos beijamos
num beijo sem tempo, onde nos recriamos.

Beijamo-nos infinitamente, muito infinitamente
na certeza de um amor para sempre.

DC

sábado, 27 de dezembro de 2014

NASCIDA DE ABRIL


 

Há trinta nove anos, ainda eu viajando no interior da revolução, nasceste para seres a flor que marcou o meu Abril para sempre. Plantaste sorrisos no jardim da minha vida, deste-me alento nas horas menos boas e, foste motivo para maior empenho na construção de um país que conquistara a sua liberdade.
Foste e serás sempre a minha flor de Abril, não me deste somente a cor vermelha dos cravos mas também completaste o jardim da minha existência com as cores do arco-íris, que são a alegria da tua presença.

Mil beijos envolvidos na fragância das flores da esperança, para ti Iva nascida de Abril.

DC

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

MUDAR DE LUGAR


Podemos brincar com o sorriso emoldurando o rosto, até lhe podemos acrescentar alguma ironia, no entanto não poderemos esconder o que dentro de nós acontece, porque os olhos nos atraiçoam, e a nossa face diz tudo o que não queremos que se saiba.
Podemos até lançar foguetes deixando-os estalejar no espaço e, até corrermos apanhando as canas, mas na verdade só nos enganamos, é um fogo de artificio mundano, Mesmo quando usamos o ritmo da música e o ondular do corpo em participado maneio, não apagamos a tristeza, nem o medo ou angústia do tempo que corre sem que nada aconteça. Na realidade não conseguimos afastar, nem quebrar, o silêncio da nossa casa vazia.


Nem todas as respostas são fáceis, mas algumas estão escritas há muito dentro de nós. Daí, que seja importante, saber formular as perguntas para saber as verdadeiras respostas.


Ouvimos com frequência que temos de mudar, mas nem sempre sabemos, o quê e por quê? Talvez precisemos primeiro de nos consciencializarmos dessa necessidade. Uma coisa é certa nem sempre resulta mudar de lugar, mais importante do que isso, será mudar por dentro.

DC

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não se quer, acontece




Não se quer, acontece, as memórias aparecem mesmo quando não nos esforçamos por elas. De forma traiçoeira, pé ante pé, nos vão surgindo, misturadas com as questões quotidianas, uma fruta que se escolhe, uma regueifa com manteiga, um perfume que nos entra pelo nariz, um tossir, uma voz, e tudo se altera, o cérebro começa a trabalhar, tudo o que parecia controlado se desmorona. É como uma ressaca depois de uma bebedeira, deixa-nos um mau gosto na boca, neste caso no corpo e no nosso saudável bem estar. Volta-se a morrer por dentro, sentindo e revivendo novamente, Nega-se o evidente, esconde-se debaixo de um sorriso, toda a angústia que nos possui. Este ciclo se repete até que um dia o rastro se perca definitivamente, pelo menos as suas referências mais latentes, para dar lugar a um entendimento, que se torna o comum, no dizer das pessoas, O luto foi feito e afinal com razão ou sem ela “os lobos uivam e a caravana passa” e tudo fica bem. Até lá... o melhor é ir ao circo e ver os palhaços que sempre nos alegram, mesmo quando também eles sentem a tristeza.

DC

domingo, 30 de novembro de 2014

PERIGO! PISO ESCORREGADIO

 

Sempre escorregaremos nas armadilhas que nos montam pelo caminho. Tem ocasiões nas quais o tombo tem repercussões desastrosas, em outras nem por isso, importante, importante é a rapidez com que nos levantamos e superamos a queda sacudindo a roupa olhando em frente, sem que os outros se apercebam o quanto estamos todos partidos por dentro. Como tudo na vida, são fases de aprendizagem e evolução. Assim conseguimos ficar mais fortes, superando os muitos tombos que levávamos desde que nascemos até que findamos.
Uma certeza temos é de quem nos lançou a casca de banana, vai ficar
frustradíssmo por que não obteve o que pretendia e, para ele, também servirá para crescer e aprender que nem sempre se tem êxito, nem as vítimas são todas iguais.

DC

sábado, 29 de novembro de 2014

OPÇÃO OU PRIORIDADE...



Num fim de tarde outonal fui aprendendo os vazios, aquele espaço entre o nada e o acontecimento. Ia captando as imagens, carregadas de cores quentes, que se não fosse a fria brisa que corria dentro de mim, e as árvores meio despidas, julgaria estar em pleno verão. O sol desaparecia rapidamente no horizonte e o tempo era escasso para gozar e registar as imagens; entretanto os pensamentos se envolviam na noite que se aproximava, como aquela voz distante, que permanecia nos ouvidos definindo prioridades. Vinha-me à memoria aquela frase, “não trates com prioridade quem te trata por opção”, surgindo quase como por magia, como se fosse uma imagem subliminar existente nos textos dos reclamos de publicidade que na estrada se exibiam, o despoletar daquele pensamento. Pensava na crueza da sua realidade, procurava encontrar o contexto que a descomprometesse, procurava uma justificação para que ela se mantivesse. Não conseguia, a realidade era forte de mais, surgia crua como a frase. Efectivamente por vezes somos tratados, ou tratamos os outros como opção, esquecemo-nos do quanto a prioridade dos outros, foi importante para nossa auto-estima e a concretização das nossas próprias prioridades. Para onde vamos se seguirmos esse caminho... Será que nos vamos transformando, variando como o clima, trazendo-nos um Outono antecipado que por sua vez se divide em inverno precoce e uns laivos de estio tardio?

DC

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tudo se reduziu a folhas caídas


 

Piso-as, gosto do estalejar das folhas quando sobre elas ponho o peso do corpo, lembram-me os gemidos de quando rolávamos pelo chão. Quando se acumulam em tapetes macios, gosto de chafurdar com os pés arrastando-as com uma alegria especial, quase infantil, Como quando no jardim do museu, marcávamos com as nossas passadas o saibro do caminho e alongávamos os dedos ao apontar o que nos deslumbrava, quebrando silêncios e rindo de alegria.
Tudo se reduziu a folhas caídas, num Outono à muito adivinhado, as falas se foram, como nas folhas o verde forte se perdeu, juntamente com o seu viço, como as palavras se foram perdendo do sentido. Agora as folhas, já mortas, tem cores lindas adquirindo tonalidades amarelo torrado, vermelhos alaranjados, ocres puros, tal qual o papel envelhecido onde já não moram textos legíveis, quase diria a morte fica-lhes tão bem.

DC