Choro convulsivo, dor de um amor ido que lhe enche os dias.
Cospe através da janela do quarto exíguo, onde vive num apertado desespero de sobrevivência. aquele gesto repulsivo traz-lhe à memória, aquele outro, aqui impulsivo, de custos elevados, que terminou na sua separação recente. A vitima é ele mesmo. Tenta sanear do corpo, não só da saliva, mas também daquilo que na sua mente o persegue. Qual o significado das unhas do gato semi-enterradas na pele do antebraço? Sono, sonho, realidade, medo? Porquê os dentes aguçados e o olhar felino centrado no seu rosto que não reage. Ele desconhece o saber do povo, “gato branco ( ou preto) dá azar”? Não vá o Diabo tecê-las. O Diabo? Não, o gato, não vá ele aborrecer-se e deixar-lhe no corpo rasgos, qual terra lavrada, semeada pela angústia que o assola.
O Sonho esvai-se no acordar, provocado pelo ar fresco da janela do quarto. O gato branco se esfuma libertando-o das suas garras e corpo reage, sobrevive. Ainda perdido, sem rumo quanto à origem daquele medo, daquele choro convulsivo sonhado. Se reencontra com o momento de sempre na casa preenchida por objectos sem vida. Recomeça mais uma semana sombria e de rotinas estruturadas.
“A auto-estrada no sentido Norte-Sul junto à Ponte da Arrábida, está interrompida devido ao despiste de um pesado junto à....”, diz o locutor de uma qualquer rádio. Assim se inicia o purgatório de mais um dia de chuva miúda, numa segunda-feira que todos os sete dias significa o começo de mais uma das muitas semanas que fazem parte da nossa vida.
Agora, encontra-se sentado num sítio onde pode observar a rua. No seio de um espaço físico onde o tilintar das chávenas, do café da manhã, são a sua companhia. Delicia-se a olhar as curvas e requebros dos corpos femininos, vistosamente aperaltados, que são laboriosamente preparados, para que, além do acto diário de cobrir o corpo, criem momentos encantatórios que deixam de rastos, no parceiro, que ainda não é, mas pode vir a ser, esteja ele onde estiver. O sonho, esse já não está lá, agora só resta a pressão a angústia de algo que não sabe mas que permanece desde que se iniciou o seu dia.
Não damos muita importância aos sonhos, no entanto, eles marcam-nos o dia que nasce, com tanta força como a realidade. É o sonho que nos comanda a vida....
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Entre o Sonho e o Acordar
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Foto: Diamantino Carvalho
sábado, 12 de maio de 2012
OS AMIGOS "INVISÍVEIS"
Sento-me na sala e olho os meus parceiros silenciosos que ao longo de tantos anos tenho tido como companhia.
Tem aquele seu estar silencioso, mas quando “abertos” contam-me as mais diversas histórias, dos muitos pensadores, artistas, sociólogos, políticos, enfim todo um manancial de gente e de informação nos mais variados âmbitos do conhecimento, necessários a um ser humano. Neste diálogo entre nós, usamos o silêncio, e privadamente com todo o respeito, conversarmos sobre o que cada um encerra nos seus pensamentos. Sinto-me enriquecido, acompanhado e feliz por serem meus parceiros de vida. São eles que me preenchem a ausência física dos humanos, falando-me de humanos interesses. Com a sua cumplicidade faço, por opção, dos momentos de silêncio e solidão, uma espécie de catarse das vicissitudes do quotidiano da vida, tornando-a mais leve e inteligível.
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quinta-feira, 10 de maio de 2012
COM A SAÚDE NÃO SE BRINCA
Quando doentes somos uns atrasos de vida. E quando a idade começa a pesar pior ainda. Ficamos piegas, com lágrima ao canto do olho, vendo a inutilidade em que nos tornamos. O mal estar sobrepõe-se a tudo. Não discernimos com correcção perante os que nos rodeiam. "Odiamos" os médicos que não acertam com o mal que nos consome, que mal nos ouvem começam a prescrever como se o que dizemos é o comum de todos os doentes que lhe entram pela porta dentro. Como se cada doente não tivesse as sua própria doença e idiossincrasia. Acho que, quando entramos no consultório do Centro de Saúde, os médicos já estão saturados e cansados de atender tantos doentes que nem capacidade têm para atender devidamente. Não é uma questão de incompetência, mas sim de excesso de trabalho e de empecilhos burocráticos, que por vezes lhes limitam as decisões.
Quando o Passos veio ao Porto, eu fui lá vê-lo e enviar-lhe uns piropos de agradecimento, altamente justificados pelo que aconteceu depois disso. Ao tentar fazer-me ouvir por ele, na esperança da sua simpatia, fiquei bastante rouco. Primeiro, para não incomodar os médicos, e porque o preço da consulta dobrou, tentei resolver com as mezinhas caseiras. Nada se alterou, o que me levou dias depois a ir ao Centro de Saúde da área da minha residência ver o que se passava. Resumindo, fui a primeira vez sem que os medicamentos fizessem efeito, mas como o médico dissera ser também uma questão de tempo, deixei passar mais uns dias e lá voltei ao centro, para ser visto por nova equipa de médicos que me disseram que, se não doesse nem tivesse febre, o tratamento seria eficaz. Assim fiz. Melhorou, piorou, melhorou piorou e agora, passados dois meses, a tão propalada febre chegou e, mesmo sem dor, terei que ir novamente ao Centro de Saúde. Com tudo isto gastei, em consultas, dez euros, mais os diferentes medicamentos, cerca de vinte e cinco euros. Como vou lá voltar, possivelmente terei de tomar novos medicamentos, esperar que acertem, e pagar mais um tanto. Se não resultar, possivelmente, por fim enviar-me-ão para um especialista, onde irei pagar mais não sei quanto, e esperando que ele tenha vaga nos próximos meses. Entretanto, continuarei com dificuldades respiratórias, a garganta com pigarro, que por vezes me leva a vomitar, e abençoar todas as medidas que o governo tem tomado para que eu possa morrer mais depressa, ou fique com uma doença crónica, ou ainda algo mais grave, que mais tarde dirão que foi por desleixo do doente em devido tempo não ter alertado os médicos. Dasssssss.
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quarta-feira, 9 de maio de 2012
O TEMPO E O UNIVERSO
Nem tudo na vida se explica, e nem sempre significa indiferença. O tempo e o Universo se encarregarão de responder no futuro, se o que hoje parece errado, é o certo, ou se é a paragem necessária, para que o que vem a seguir seja melhor. Há quem diga, que o tiver de ser será. Oxalá assim seja.
SOCIEDADE PROTECTORA DOS HUMANOS
“Jamais acredite que os humanos sofrem menos que os animais,
a dor é a mesma para os seres humanos para os animais!
Talvez pior, porque eles não se podem ajudar a si mesmos, dependem dos animais para isso...
Não abandones nem maltrates o teu melhor e mais fiel AMIGO.”
Tenho andado preocupado com os humanos abandonados na rua, que se sujeitam a ser atropelados, ou a levarem com um jarro de água quando escolhem um vão de escada para pernoitarem. Estes nossos fieis amigos humanos, nem sempre têm “ração”, nem os caixotes do lixo de alguns hotéis têm andado muito ratados, para escolherem o que comer. É lamentável os maus tratos que lhes dão. Em especial, quando existem donos que só se preocupam com o seu bem estar. Há imensos humanos sem lar, e a dormir nas ruas, abandonados e ao frio, que por vezes ao escolherem uma soleira de porta para fugirem do frio são muito mal tratados. Procure apoiar tirando-os das ruas, perfilhando um, dando-lhes a possibilidade de banho, e levá-los a um médico, a um SNS sem pagamento de taxas, que possa verificar se tem a pele em condições e se precisa de tratamento especial para pulgas e micoses, ou alguma doença infecto-contagiosa. Os humanos apreciam a companhia de animais domésticos e são seus fiéis amigos. Trate os humanos como o seu cão e ambos ficarão satisfeitos.
Criemos a Associação dos Amigos dos Humanos e demos apoio à Sociedade Protectora dos Humanos. Divulgue nos sites em que navega, todos os dias.
(Será que temos de chegar a isto?)
ADOPÇÃO URGENTE – Marineide é uma fêmea adulta, pele branca, que já está na rua há algum tempo. Meiga e sociável com outros companheiros. Adora festinhas e a companhia dos animais. Encontra-se esterilizada e não serve para criação.
Localização: Escada do Condomínio, mesmo debaixo do primeiro lanço. Na baixa do Porto. Adopte-a, é um caso urgente de sobrevivência .
ADOPÇÃO URGENTE – Manuel Botão é macho de pele morena. Talvez por não ter estudos, não serve para ter direito a um emprego, e foi descartado…. É adulto com cerca de 20 anos, porte atlético. É um ser humano carinhoso, simpático e agradável. Adora mimos e atenção. Pode acompanhar o Manel aqui: Localização - Escada do Condomínio, mesmo debaixo do primeiro lanço. Perto das Águas Tantas à Maia. Adopte-o, é um caso urgente de sobrevivência.
Posso ser mordaz, como já alguém me escreveu, mas na realidade, é que todos os dias vejo pessoas unidas na defesa da causa dos animais, com apelos e anúncios vários com a preocupação, E BEM, de proteger os animais. Há poucos dias, foram os srs. da CEE a se manifestarem, por causa das galinhas não terem espaço suficiente nos aviários , será que se preocupam, de igual modo, com seres humanos que vivem quase enjaulados. Pois então está na altura de proteger os humanos defendendo de igual modo os seus direitos, e apelando a todos, não para a caridadezinha mas para que usufruam do que qualquer ser humano deve ter. VIVER COM DIGNIDADE, não ser explorado, roubado, ou espoliado, de tudo o que lhe permite crescer em harmonia e felicidade com o seu semelhante. Paz, pão, saúde, habitação e cultura.
Juntemo-nos de igual modo, em apelos constantes, em todos os sítios, em todos os momentos, ajudando, uns e outros, para que aqueles que nos governam e os que por trás deles mandam, o grande capital, não façam de nós uma caricatura de Humanos.
terça-feira, 8 de maio de 2012
MORREU-SE DE SI
Ficou perdido no caminho quando atravessava as montanhas. Ele se arrastara na renúncia de si próprio, para chegar mais alto, adentrando, entre árvores, flores e espinhos, sentindo o apelo da terra.
Subira, subira, procurando dar tempo de espera, aceitando a distância, não percebendo as recusas, perecendo seu sentir pela indiferença, individualismo e desistência. Importante era chegar ao interior, ao centro da montanha, que se propusera conquistar, como se dum Everest se tratasse.
Plantou uma flor em seu peito, regou-a com o desvelo das palavras, das frases que se iam soltando nos seus dizeres, e procurou que seu cheiro não se perdesse, na rudeza da montanha. No entanto a imensa seca do nascer do novo ano, fez com que tudo se amadurecesse rápido de mais, sem que o sumo de outrora, que enriquecia todas as plantas e frutos, fosse vigoroso, abundante e permanente, sustentando os riscos que desenhavam diferentes quereres. Assim, Pedro Vagabundo, caminhador de profissão, se perdeu em mais uma terra, sem ter encontrado a musa dos seus sentires, nem o calor de seus braços, nem o caminho da montanha que se prometera conquistar. Morreu-se de si, abraçando a árvore que não conseguia abarcar com seus braços débeis, deixando-se escorregar lentamente pelo tronco e beijando a terra já com os lábios frios de quem partiu.
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Foto: Diamantino Carvalho
segunda-feira, 7 de maio de 2012
DIA DE...
Dia das mães, dos namorados, do pai, das tias, dos avós, de rócócós e inspiradas comercializações, que tentam de um modo ou de outro lembrar o que por si só já deveria ser lembrado todos os dias. No entanto em nome do “santo dinheiro”, invente-se, para que os parolos gastem as suas parcas economias em mais um consumo, que deveria ser substituído por carinho e amor às carradas na partilha da vida de todos os dias.
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