domingo, 12 de maio de 2013

EMOÇÃO NUM ABRAÇO



“Vou-te contar um segredo, hoje chorei.”

Contara-lhe o segredo de forma inesperada, no meio da conversa inacabada. “Hoje, dissera-lhe, eu chorei”. A emoção toldara-lhe o raciocínio.

Não chorara de tristeza mas de alegria, por ter sido tocado por gesto tão simples, Um abraço. Um abraço sentido, fraterno, sem mácula.

Abraçar, não tem idade, não tem cor, não tem preconceitos, mas contém um mundo de significados.

Ele vira a importância de um abraço, Um simples gesto e grande a sua dimensão, pela sua ternura, pelo conforto, pela esperança que dá à vida.

Sentira aquele abraço, como voz de um sentimento, como quando escutar é mais do que ouvir as palavras que constroem cada frase, como se fosse urgente que cada momento, mesmo que curto, fosse vivido com intensidade.

Chorou por não saber se esse abraço permanecerá, ou se irá vaguear na distância.

Chorou por não saber, se a promessa daquele outro abraço, que há muito espera, se realizará.


sábado, 11 de maio de 2013

A HISTÓRIA DE UM QUADRO VIII



Olhei o formato, pareceu-me demasiado pequeno para o tanto que queria dizer, para o tanto que o perfil sugerido merecia. Como podia transformar a ideia inicial em algo mais profundo, que dissesse muito mais? Resolvi rodear a figura de um vermelho vivo salpicado de amarelo, que falasse de paixão, de calor de sentimentos, e coloquei-lhe dois orifícios para que sugerissem “ver do outro lado” o azul cor de calma e serenidade. Dois estados fortemente temperamentais da figura representada. Preenchi o interior com tiras sinuosas entrelaçadas, de várias cores, desde as quentes às frias, e assim falei de também de diferentes formas de emoção, diferentes formas de reagir de viver, de amar. Procurava o ADN de mulher.
Perante isto, o tamanho interessa?
...

DC

sexta-feira, 10 de maio de 2013

AS dúVIDAS


Arrastam-nos as dúvidas para um mau caminho, sempre que não esclarecemos quando o devemos fazer. Questionar quando se tem dúvidas é um sinal de preocupação e de interesse perante o que se nos depara, em especial quando envolvem pessoas e seus comportamentos e não há que ter medo de o fazer. A dúvida rói-nos por dentro, fazendo-nos imaginar para além da própria realidade, criando cenários e situações várias.

Por vezes fazemos juízos de valor errados porque temos dúvidas e não procuramos esclarecer antes de tomar uma atitude.

Os amigos, colegas de trabalho, ou amantes que sejam, não devem ficar com dúvidas, não devemos temer as consequências por quererem ser esclarecidos. Perde quem não pergunta, perde quem não tem oportunidade de se explicar.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O PRESENTE, É SÓ ISSO MESMO




É de dentro, não é visível, vai-nos comendo sem nos aperceber-nos. A desilusão se vai instalando aos poucos nos interstícios, matando toda a crença de mudança. Não existe um fio condutor que torne o presente numa etapa. Vive-se como numa bolha de sabão que a qualquer momento nos explode na cara. Está tudo escrito em tinta transparente, da qual não há código, nem modo de tornar visível o que foi elaborado. Por vezes, se pergunta sobre que o está esperando e não encontra resposta. Os dias decorrem com um sol cheio de sombras, como o entardecer que adentra a casa.

Um grito enrola-se na garganta. A música, com som baixo, enche o espaço, atenuando o silêncio e trazendo uma maior intensidade nas emoções.


Os livros não trazem as respostas, fecharam as palavras nas suas páginas, e é difícil adivinhar, qual deles terá o conteúdo adequado ao momento, ter de memória o eles contêm, Os quadros preenchem as paredes, com toda a sua estrutura estética, o amor com que foram pensados, e o prazer na sua execução, Os móveis, são arrumos decorativos de restos de vida, cumprem a sua função, morrem nisso mesmo. O que resta afinal a não ser o silêncio, e pensamentos a fervilhar, sem encontrar respostas.


Não há projectos, nem distâncias temporais, tudo voga no vazio, na indiferença dos dias em que o presente, é só isso mesmo.


DC

domingo, 28 de abril de 2013

MEU NETO e eu NO MUSEU



De óculos escuros na cara, descia as escadas na minha direcção, Mãe sabes que quando desço, vejo o degrau das escadas longe?... Filho, tira os óculos de sol, são demasiado escuros e vês mal, dá um beijo ao avô e dá-lhe a mão”. Deu-me os óculos para guardar, um beijo, e de mão dada fomos para o carro.

Hoje ele atrasar-se. Na véspera estivera com a “Tia Natália” e as emoções tinham sido muitas.

Entrou no carro e sentei-o na cadeira, como do costume, e arrancamos de seguida. Tentando fazer conversa perguntei-lhe como tinha o Sábado, Bom, Sabes Vô o Óscar morreu, já não canta, Quem é o Óscar? Pergunto eu, Era o passarinho da Tia Natália, sabes ele morreu e foi para o céu, Quem te disse que ele morreu e foi para o céu? Foi a tia, E como descobriste que ele morreu? Porque tinha uma flor no sítio da gaiola, Era um canário, ou piriquito? Não sei, Mas ele era amarelo, castanho? Antes de ser morrido Vô, era branco, não como nós, mas era branco e tinha um bocadinho pouco de castanho, E agora como vai ser? Agora a tia diz que vai ter outro.

Ele reparou que o carro não seguia, como de costume nas nossas saídas, em direcção aos lugares já conhecidos, Vô, onde vamos? Quando lá chegarmos logo vês, Eu desconfio que sei, Duvido?...Vais aquele sitio que tem os jardins de flores, Só... Não também tem pinturas..., Já vi que me apanhaste, vamos a Serralves, está sol e pudemos ver as pinturas e ir até ao jardim, Está bem.

Serralves, aos domingos é gratuito e o sol tinha trazido imensa gente, não só turistas como tugas, A exposição do Alberto Carneiro e do José Martins também era espectaculares, de certeza que também tinha sido uma das razões daquele montão de pessoas.

Fomos caminhando ao longo dos salões, vendo obras de um e outro. Ele puxava-me pela mão como se quisesse ir para algum lado, Vô quando vamos ao jardim? É de seguida, vês as esculturas do Carneiro, são giras não são?, Sim, vamos, anda. Ele estava impaciente.

Não pude ver, em condições, a belíssima exposição que os dois artistas ali têm, foi um corre, corre, De repente, para ele não me pressionar, disse-lhe que estávamos quase a acabar de ver a exposição e íamos para o jardim, Para o jardim não, temos de ir ao café, Como, ao café, então não tomaste o pequeno almoço? Comi só chocapites, E então.. tens ai na sacola bolachas e àgua..., Mas é melhor irmos ao café para não fazer migalhas. Fomos ao bar de Serralves, eu sabia bem o que ele queria, Queres um queque de chocolate é isso? E um pinguinho, reponde rápido.

Deliciou-se comendo o bolo e bebendo o pingo
rapidamente. À saída do bar fui à máquina levantar dinheiro, aproveitei para escolher e trazer uns postais promocionais que se encontravam sobre uma mesa, ele escolheu uns com cores. Como ele disse.

No jardim, jogamos à bola com pequenas coisas que caíam das árvores e fomos brincando com a água, que existe, em pequenos lagos, nos diferentes desníveis que partem do edifício principal, até quase à entrada da zona agrícola, Aí ficamos parados apreciando os burros, potros e vacas, aproveitando para tirar umas fotos toscas do que víamos. De regresso à entrada do museu, já cansados, fomos apanhando pequenas flores para ele oferecer à mãe.

A manhã passou, sem que os minutos contassem. Ele divertido e eu pleno, de peito inchado pelo prazer de conviver com as suas pequenas coisas.

DC

sábado, 27 de abril de 2013

PINTAR CONTRA O SILÊNCIO



O espaço enorme e deserto da parede da sala era uma provocação. Era necessário quebrar o silêncio que ali se gerava, não o silêncio como ausência de som, mas o silêncio que se formava dentro de nós perante aquele vazio. Ele tinha de pintar algo que tivesse dimensão e que transmitisse uma ideia de vida. No branco das pranchas de platex escolhidas como suporte existia o mesmo silêncio. Havia necessidade de romper nos diferentes espaços o silêncio, falando com imagem e cor.

A parede existia cumprindo a sua função como limite de um espaço, sem comunicar. Algo teria de nascer como imagem, que fosse manifestação de vida, algo que teria de falar para que se quebrasse o silêncio, que fosse um convite às palavras conversadas, às divagações férteis, uma chamada ao conforto visual e espiritual. Por fora as pessoas estariam complementando a imagem

Sem pressas lentamente a tinta se foi depositando, sujando o espaço branco e progressivamente foram surgindo diferentes cores e imagens. A cada momento ele passeava os olhos pelos painéis e ia alterando repintando, procurando sempre ficar mais perto do que imaginara. Se o conseguiu, ou não, cabe aos outros avaliar, para ele, como sempre, a inquietação permanente de encontrar a forma de concretizar a ideia com que partiu e o acto de produzir era aquilo que lhe dava mais prazer.

DC

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ABRIL E "O AMOR SAUDÁVEL"



Nesta noite de Abril, não falarei de Revolução, mas de um sentimento importante em qualquer revolução. Não nas minhas palavras, porque elas não chegam próximo, nem exprimem suficientemente, mas nas de alguém muito sabe sobre o tema.

“ O amor saudável é um amor apoiado na dignidade humana, na convicção de que uma boa relação favorece o desenvolvimento do potencial humano e o fortalece. O amor saudável nasce de um sentimento prezado e vital que não se corrompe com facilidade. É fonte de alegria e de ternura, é desejo, admiração e companhia. Não é um amor perfeito, mas amor valorizado e ponderado, sem pretensões celestiais ou astrais. Um amor tão terreno como justo. Amor bem calculado, sem depreciações, apreciado por si só, próximo, precioso respeitado, mas não indestrutível.”

“ O amor saudável não é um amor completo e definido de uma vez por todas, trata-se antes de uma orientação que nos permite reinventar-nos junto da pessoa amada. É uma requintada união razão e emoção ao serviço de uma vida em comum pacifica.”


Walter Riso