domingo, 29 de dezembro de 2013

SOU FOLHA..



Caída,
Perdida,
É o chão
Sua guarida.
Morta
Ganha vida,
Beleza
estética,
Ascética.
Natureza,
Desígnio,
Significado,
Presente
E passado.

DC

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Deixei a bicicleta


Deixei a bicicleta
Perdida nas ruas,
Não queria ser da secreta,
Nem tão discreta
Como as palavras cruas.


QuerIa ser eu,
Vogando ao meu prazer,
Pelas ruas da cidade
Que um dia me viu nascer,
E te encontrar de verdade
Num Natal a acontecer.

DC

domingo, 22 de dezembro de 2013

A TUA FACE RAIZ DAS SOMBRAS






A tua face raiz das sombras
A tua face memória de escombros
A tua face resto de uma partida
A tua face agora descolorida
Nela minha noite era dia
E era nela que o meu amor acontecia.
Hoje, tua face é a sombra
Da árvore, que no Outono
Se perdeu ao abandono.
Perdeu-se no correr dos dias,
Como o amor que aconteceu
E que pela dor esmoreceu.
Resta a sombra da árvore
Na parede branca,
Marca das raízes de um sonho meu,
De que na vida tudo o que encanta,
Pode não ser mais do que um sonho,
Que um dia aconteceu.

DC

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A Sério Vô...




Na nossa saída domingueira, lá vamos nós mais uma vez ao shopping, Não sem antes lhe perguntar, se poderíamos ir a Serralves ver se havia uma nova exposição, ao que ele, com ar de criança sabida, me respondeu - É seca avô...

Já sentados numa das mesas na zona dos restaurantes.
- Sabes vô trouxe marcadores na minha bolsa para desenharmos!
- Trouxeste marcadores... e o papel - digo eu?

Ele arrancou de dentro da bolsa um pequeno bloco de folhas brancas,
-Eu trouxe este, é pequenino....deveria ser um grande...

Olha para o caderno da capas pretas que tenho nas mãos com ar matreiro e fica, pacientemente, esperando a minha decisão, enquanto escolhe um dos marcadores em cima da mesa.
Tiro duas folhas de papel quadriculado formato A4 e dou-lhe.
COmo interregno antes de começar, desafia-me a saber quem trás mais canetas, ou marcadores, para desenhar, pois sabe que eu sempre trago várias.
Começa a desenhar linhas e enchendo os espaços vazios com cor, concentra-se no que faz, entretanto vai dizendo para eu também desenhar.

Ficamos desenhando os dois. Umas vezes cada um fazendo o seu desenho, outras vezes colaborando.
Cai um marcador.
- Miúdo apanha o marcador..
- Estás a chamar miúdo a quem vô? Pergunta ele todo empertigado nos seus cinco anitos.

Desenha barras de cor e diz que está a fazer uma bandeira.
Questiono:
- Bandeira e sem símbolo..sem emblema?..
- Está bem – condescende ele – vô.. faz-me então uma daquelas coisas que se usam para estar no campismo..
- Não estou a ver rapaz?
- A sério vô, não estás a ver?
- Uma tenda?
- Sim isso - e ri-se.

A conversa desenvolve-se num trocar de palavras com perguntas e respostas num discurso inesperado, com expressões que me fazem sorrir.
- Oh vô, não brinques comigo, nem pensar – diz ele.

Assim vai decorrendo o nosso encontro... As frases saem-lhe em discurso fluido, entre risos, riscos e cores, O tempo voa...não parece haver ali, duas gerações tão distantes.
Não sei se é, no remate das nossas vidas, o regresso à criança que fomos no passado, ou o prazer de o voltarmos a ser, que torna estes momentos tão deliciosos. Uma coisa é certa, são imperdíveis.

DC


SÃO ÁRVORES SENHOR..



Estão sós, como que perdidas. E mesmo assim desnudas, tem uma presença e beleza incríveis na paisagem.

Vestem e despem-se de acordo com a estação do ano, Tomam diferentes aspectos e riqueza, como seguissem a moda. Na sua maioria, mantêm a sua estrutura e crescem atingindo algumas grande porte, Outras há, que têm quem as cuida, alimentando-as e melhorando a sua qualidade, aparando e alterando a sua forma.
Seus troncos e pequenos galhos despidos, quando aparados, rasgam o espaço, desenhando-se contra céu como esqueletos, ou fantasmas...onde os pássaros não encontram, nem comida nem abrigo, por isso evitam-nas.

O nosso olhar e pensamento, tornam-se estranhos quando as observamos, Elas parecem transportar para nós uma certa nostalgia, como se a perda das suas roupagens fosse culpa nossa, e as quiséssemos aconchegar e proteger, até ao renascer da primavera.

Tão despidas e nuas, como nós quando perdemos o pé nas escadas da vida. Elas quase sempre renascem com mais vigor e com novas roupagens, Nós, os humanos, muitas vezes nos perdemos, sem nunca voltar a renascer.

DC

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A RAZÂO DO MEU PARTIR


Sim, carregado de enigmas, eu serei, perante outros de olhos tão abertos e de linguagem, simples. Esses outros, que meio do nevoeiro das suas decisões, está sempre tudo tão claro que nem se lembram como as tomaram, e por quê.

Não sei como diria de outra forma, na verdade não esperava que a reacção fosse outra, temendo o incontrolável fugiu. Rotular os outros, é coisa que, uns e outros, nos habituamos sem ponderar até que ponto magoamos.

No dizer de Clarice Lispector: Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia.

Foi por falar, ou dizer o que pensava e a forma como pensava, a razão de meu partir. Caso contrário, “por me perder eu te perderia”.

DC

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Foi assim que fui...



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......, cada vez mais longe perdendo as referências de ti.

Perderam-se os abraços, os beijos, as carícias, os momentos de conversa e as corridas à pressa no reencontro que a periodicidade dos dias nos permitia.

Voltaram os silêncios, as ausências, De forma incompreendida nos perdemos não sabendo bem, em que curva da vida isso aconteceu.

Hoje, olhando espelho, vejo um sombra difusa de alguém que não existe, um fantasma que se perde na bruma dos dias.

DC

“Se sou amado, quanto mais amado mais correspondo ao amor. Se sou esquecido, devo esquecer também... Pois amor é feito espelho: - tem que ter reflexo.”
Pablo Neruda