domingo, 2 de fevereiro de 2014

A TARDE...



.... se aproxima do fim. O frio, o vento e os aguaceiros, gelam os ossos. As nuvens carregadas aceleravam o surgir da noite. Saí de casa sem destino, e nem a intempérie me atemorizava. Fugia do silêncio, queria perder referências, encontrar espaço para meditar, fugir das rotinas, libertar-me. Peguei na minha pequena máquina fotográfica e saí.

Na maioria das vezes quando se caminha, com as preocupações carregando o espírito, os olhos procuram o chão, ou se de cabeça levantada, olhamos sem ver, não reparando nem no que nos rodeia, nem do passar do tempo. Fazendo isso, não meditamos nem encontramos respostas. Tentei contrariar isso, levantei a cabeça, e enquanto caminhava, olhando para tudo o que ia surgindo, Ruas, casas, carros, pessoas e as árvores que delimitavam alguns espaços, sem me fixar em nada, deixando tudo fluir. De repente, sem saber como, nem porquê, as árvores despidas com os seus galhos, de diversas formas e dimensões, como que braços e dedos apontando o céu, me iam prendendo o olhar. Fui fotografando, tentando deixar-me levar pelo que via, fixando as suas imagens.
A meditação acontecera, a minha mente perdera-se naquelas formas estranhas que se iam desenhando aos meus olhos, e enquanto focava, enquadrava e disparava, o tempo decorria, a mente ia ficando limpa e a serenidade voltava.
Algumas horas depois regressando ao ponto de partida, a sensação calma mantinha-se, certamente, por hoje, a noite seria mais serena, sem pesadelos, e as preocupações não me iriam perseguir.

DC

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

PORQUE SERÁ?




Será que fui eu que me perdi
No labirinto das emoções?
Será que não soube descobrir em ti
Quanto sofrias debaixo do silêncio...

ou
Será que me fui eu que me distraí
E me deixei levar pelas ilusões?

ou
Será que só eu me penitencio
Pelo que não fiz?

Será que me distraí, que não vi, não fiz
ou...
Terias tu espelhos, paredes silêncios
Para que eu olhasse e não visse...
ou
não te sentisse?

Será?
Sempre será uma interrogação
E agora não podemos obter uma conclusão.

O tempo foi passando dia após dia.
Agora mais um mês se finda,
Sem saber ainda a razão
das distracções, do que se perdeu,
do que se não fez, e o que criou a ilusão.

Porque será?

DC

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O FRIO CORRÓI..



Chove e faz frio
Faz frio e chove
Chove e dói
O frio corrói
Gela os ossos
Gela a alma
Como destroços
Frios sem vida.
Na tarde calma
Nós dois perdidos
Entre a chuva
Vento e dor
Procurando
Sem encontrar
Motivo ou solução
Para degelar
A dor no coração.
Será a chuva
O frio e o vento
Razão para tanto
Sofrimento?

sábado, 25 de janeiro de 2014

Na cor do fim de tarde




Talvez não leias o que escrevo, por isso não saberás das memórias que tenho, nem saberás que ainda guardo como fotografias as imagens, dos muitos momentos em que éramos, isso, éramos dois ligados à máquina dos nossos sentimentos, como doentes, em estado vegetativo...

...sentados no banco, em pleno estio, num fim de tarde de Sábado, com a ponte desenhada no azul do céu, ficamos olhando o rio como uma linha de horizonte divide as duas cidades. O sol foi descendo até pousar lentamente sobre o mar, como se nesse devagar ele nos quisesse prolongar o prazer que sentíamos. Tu aninhada no meu abraço, que te protegia da brisa que ia ficando mais agreste, e a conversa se desenrolando na cor do fim de tarde...


É inexplicável, até indecente, pensar que há coisas mais importantes, que possam destruir esse sentimentos. Um momento que fica entranhado em nós, como aquelas nódoas que caem na roupa e não saem mais, como ficaram o perfume do teu corpo e o seu calor, as carícias, os dedos na pele, e a pele dos meus dedos, na pele dos teus dedos, e aquela dor fininha que atravessa o corpo a que se chama saudade.


Quando na rua, ela passou a meu lado, o seu perfume despertou-me... a imagem surgiu, e atrás dela as memórias, lembrando como foi bom o acontecer, naquela tarde de Sábado, em que um certo magnetismo, parou todos os relógios e nos deixou ser eternos.

DC

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Eu sereno, daqui os observo




Olho através da janela,
Olho vejo a gente que corre,
Olho, eu sereno sem me preocupar,
Olho e vejo, nos seus olhos a loucura,
De gente que sem pensar,
Corre, corre sem parar.

Eu sereno, daqui os observo
Deixando-os correr,
Eles pensam-me animal e servo,
E eu vejo-os, trabalhando até morrer.
Olho confuso com tanta agitação,
Fico contente pelas minhas sete vidas,
E por ser animal de estimação.

DC

DIA E NOITE, NOITE E DIA




Fujo da noite,
Não porque a recuse,
Sem ela não poderia viver o dia,
Só não quero que abuse
Tirando-me o sol e sua alegria

Falo dessa noite de escuridão
Dos pensamentos obscuros,
Das tristezas imensas,
Das horas de solidão,
Suporte dos nossos muros.

Falo do sol e seu augúrio
De verdade ao ser amado
Nas palavras em murmúrio
Ditas na sabedoria
De um amor encantado

Dia e noite, noite e dia,
tudo fazendo, futuro e passado,
Nas fases de uma mesma vida.
A noite sempre comprida,
O dia sempre acelerado.

DC

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um LIVRO Na minha HISTÓRIA



Li inúmeras vezes o livro por inteiro, ou aos bocados, sinto sempre que o faço algo de novo acontece, como se de todas as vezes que o li, só me tivesse concentrado em determinados temas do seu conteúdo, desleixando outros, Como se cada vez que o li não fosse de todo importante, mas todo ele importante nas diferentes parcelas, Como se ele contivesse uma lição de vida, uma novidade para me dar. Ao lê-lo, quanto mais não seja, faz-me reflectir um pouco mais, e da sua simples história, tirar quase sempre uma, ou várias conclusões.
“Deparo com um sólido muro de defesas e tu tens necessidade de erguer mais muros. Anseio pelos frutos, pela plenitude do desenvolvimento, e tu procuras meios de o evitar sempre que estamos juntos. Sentimo-nos ambos frustrados – tu incapaz de recuar, eu incapaz de ir em frente, uma luta permanente, com nuvens e sombras negras sobre o tempo limitado que nos consentes.

"Pág.164. A Ponte Para Eternidade. Bach, Richard. Publicações Europa América"
E seguem-se os raciocínios, errados, ou talvez não. “Na realidade, pôr fim a algo, alguma coisa, na maioria das vezes tem a ver com o defraudar persistente de expectativas. Significa desistir de lutar contra o que, ou quem, permanece criando remoinhos artificiais que tornam impossível o navegar. Significa, que o quê, ou o alguém, sempre está correndo contra a maré, mesmo quando esta é favorável.” Penso eu. E continuo. “Não se aproveitam os ventos, nem conjecturas favoráveis, não se defende o que nos agrada, o que queremos, mas agarramo-nos aos obstáculos mínimos para comodamente evitarmos de lutar e conquistar. Quando assim é, ou não sabemos bem o que queremos, ou como diz o povo “queremos dar uma passada maior que a perna” e como não conseguimos o possível, vivemos eternamente na conquista do impossível. Então perante isto o melhor é parar, e deixar de nos atormentarmos, não adianta meter os pés contra a parede, sabendo que não há evolução”. Concluo eu.

Mais uma vez, tirei partido da sua leitura, aprendi um pouco mais de mim mesmo e descobri algo, por vezes tão evidente, que não enxergamos. A tal verdade de “la Palice”.

DC