segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A INSÓNIA



A desoras acontece-me pensar nas coisas, Não nas coisas, coisas, mas naquelas coisas que mexem connosco por dentro, que ultrapassam a superfície da pele e vão fundo na carne e na mente, que espalham interrogações, anarquizam emoções, tiram racionalidade, que nos confundem quanto ao sentido da existência. Um estar em que tudo é posto em causa, as emoções, o trabalho, poesia, pintura, escultura, anarquia, sociedade e até a procura do momento em que perdemos a alegria. São momentos em que vemos a vida como numa imagem digital desproporcionada e desfasada da realidade, Nem as proporções, nem as cores, correspondem aos factos. Vemos a cópia, imaginamos o resto, ganhamos conhecimento truncado da própria realidade.
A noite nem sempre é boa conselheira, deixa-nos presos às análises das incoerências, que se foram plantando ao longo do percurso das nossas vidas, mas também nos permite o silêncio que não escolhemos, para pausadamente tirarmos partido dessas experiências e encontrar novas soluções e crenças, quando à nossa capacidade de evoluir, modificar e aproveitar os aspectos positivos das situações erradas. É o tempo dos balanços e de dar mais um passo encurtando os quilómetros necessários ao êxito.
Valeu a pena, dessa insónia que me manteve nesse adentrar na noite, Tirei os tais aspectos positivos que me trouxeram para o acordar, o sorriso, a cabeça limpa de problemas e a confiança de que o importante é viver cada dia, sempre lutando para cumprir o projecto a que nos devotamos sem vacilar e sem cortar etapas, mesmo que difíceis.

Assim começou este primeiro de Agosto, onde todos pensam em férias e eu me devoto, à limpeza, da arrecadação, do escritório, das roupas que já não se usam, pondo uma nova ordem higiénica, confiando que o futuro trará as coisas novas.

dc

sábado, 1 de agosto de 2015

CADA UM SEU RACIOCÍNIO



GG- Sei que me olhas, como eu te olho, fixamente, eu querendo saber o que fazes, o que procuras ao fazeres essas coisas, todo agitado. Que queres tu, tirar-me a alma? Alguma vidas, das sete que dizem eu tenho? Estás a pensar se gosto de flores? Afinal, o queres tu de mim homem, que apontas essa coisa brilhante encaixada numa caixa escura? O tipo é ridículo, ajoelha, levanta, mexe na caixa, puf aquele ruído, Se aquela gatinha do quinto esquerdo, me visse aqui a ser admirado pelo homem, se calhar saía comigo para ver o luar...hummm como seria bom. Bem pelo menos alguém me admira para além da minha dona”

> O raio do gato é bonito, tem aquele olhar fixo...como se estivesse a interrogar-me sobre o meu papel aqui, perante ele. Tem um olhar intimidante, sério, talvez um pouco curioso, mas felino, sem medo. Regulo, disparo e ele fica registado. Um “retrato”, de cinzas e branco, que se realçam no meio das flores desfocadas e a relva. Talvez um dia adopte um destes, é uma gato com aspecto respeitável...ah ah ah.. lá estou eu a divagar enquanto fotografo, Às vezes canto, agora falo sozinho, raio de gato está pôr-me maluco.”

GG- O tipo tem bom aspecto deveria tratar-me bem, se eu não tivesse um dona poderia ser uma boa opção, experimentar viver com um dono, pelo menos parece interessado em mim...bem acho que vou embora antes que ele se entusiasme.

> Bom, parece que fiz um “boneco” interessante, vou deixar o gato em paz, estes bichos têm uma aspecto, de independência e personalidade que faz com que os admiremos e respeitemos, faz-me lembrar aquele texto do “Atentamente Gato”.
Vou parar por aqui, antes de começar a miar , ou a ronronar...kkkk

dc

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Nem sempre juntos, nem para sempre juntos.


Perdeu-se o hábito de eternizar o viver a dois(?). Torna-se difícil, nos dias de hoje, no mesmo espaço conviver, com mais um, por vezes, mais dois ou três, que vêm por arrasto. A materialidade, a individualidade exacerbada a que nos fomos habituando pela modernidade, contingências económicas, sobrevivência e tecnologia de comunicação que nos agarra à voz do mundo e nos afasta do ruído dos mortais, São tudo condicionantes para que na hora da verdade se hesite, surgindo o medo de perda da liberdade(?) globalizada.

Bem vindos aos tempos modernos onde “oh, é tão bom... não foi”, mal se começa já findou. Somos formatados para sociedade de acordo com quem tem o poder, e de nós quer, como dos nossos filhos e vindouros, seres egoístas, individualistas, à procura de sucesso a qualquer preço, de bens materiais e deslocalização para que se não criem raízes.

Produzem-se revistas, programas de TV, arranjam-se opinadores e outros processos de comunicação e contágio. A treta do “cada um que se safe”, o melhor que puder, mesmo que galgando nas costas uns dos outros. Quanto mais a sós, melhor, retiram-nos os filhos do quotidiano, a vivência em família, perdendo raízes e fazendo melhores escravos modernos. Talvez aqui a razão dos muitos fracassos de entendimento e comunicação entre as pessoas que se gostam.

Contudo, mesmo assim, a tudo isso, de forma quase inconsciente, tentamos fugir e deixar que os instintos primários da vivência em comum tragam à superfície o amor ao outro, o partilhar um pouquinho das nossas vidas, como nos recorda o romance de um livro que lemos, ou um filme que nos expõe a um “amor e uma cabana”. E quando se vislumbra algo parecido, teme-se tanto, que se quer que tudo aconteça rápido - como a modernidade nos habituou - sem tempo de conhecer, vivenciar, aceitando de bom grado algo híbrido incompleto, não correndo o risco de “ser agora o momento” e perdermos a oportunidade...depois....mais um “tiro no porta-aviões”.


dc

sábado, 25 de julho de 2015

Atentamente Gato


Atentamente leio uma história de humanos, Não me arrepia que sejam entre si muito ingratos, só me assusta que ataquem a minha calma e serenidade, só porque não sabem viver com os próprios factos.

Aqui estou eu fazendo o meu juízo.
      (Olá...estes tipos são tão complicados, escrevem de desamores e desencantos, vivem guerreando fazem desacatos piores do que gatos.)

Na verdade não há comparação. Eu sou amigo do meu dono e nunca o deixo ao abandono. Nunca abuso da hospitalidade nem perco independência, temos em comum autonomia em consciência, Sou frugal na alimentação como qualquer tipo de ração, Não dou problemas de saúde, pois tenho sete vidas, Na higiene sou cuidado usando o local adequado, banho-me todos os dias de forma profícua, sempre de unhas tratadas num qualquer pedaço de ráfia, sei aproveitar o sol, fazer equilibrismos vários até sou culto lendo alguns breviários,

Dou meu pêlo ao conforto das suas mãos, Ronronando em seu regaço disfarço seu cansaço e afasto-o da tensão, Roçando em suas pernas, o afasto da solidão que nele se atravessa, lembrando que existo na sua vida à pressa, Por vezes salto e brinco, para seu contentamento, mesmo quando penso que se comporta como um jumento.
É verdade que tenho uma vida santa, sem muito com que me consumir, mas sou eu quem o encanta e até o faz sorrir. Por isso meu amigo, trata-me como deve ser, que eu sou um gato letrado que te ajuda a viver.

dc

PS: porque hoje acordei gato sem humano querer ser.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Usufruir o momento



seduziu-me
o desenho dos lábios
a humidade da sua boca
a agitação do beijo


línguas se movem
bocas se cruzam
roçando a pele
se dando ao prazer


o beijinhar se prolonga
sem percurso definido
na lonjura dos corpos


lentamente
na memória dos cheiros
fugindo da rapidez ansiosa


vão mais longe e fundo
no prazer de usufruir
o momento
de possuir sem tempo.


dc

DESENCONTROS




Olhamos sem ver, o chão que pisamos,
envolvemos de esperança a incerteza
e nela a prisão onde nos acorrentamos.

Tão simples este acontecer, que me perdi
nesses demónios que me atormentam,
cada vez que a indecisão se toma de mim.


E na escuridão silenciosa, fico-me pelo pensar,
não nos sonhos que na mente me povoam,
e sim na violência dos desencontros.

dc

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mal...bem me quer





Agora juntos
logo separados
O que começa
logo se acaba
O riso surge
logo morre
A palavra falada
acaba calada
A esperança
renascida
Logo morre
no vazio
Se ficar
logo quer partir
Definido
o projecto
É abandonado
ao deserto
As decisões
nascem
Logo morrem
O constante
se torna ausente
Por vezes
amantes
Outras seres
distantes
Um sim assim
indefinidamente.


dc