Sempre sonhei, dobrar uma esquina, às vezes pensando ser “super-homem”, deixando para trás, rapidamente o que já era.
Dobrar para deixar de ver o que me persegue, dobrar, para me livrar de ter o passado colado às costas. Tem vezes, que fico mesmo tão aborrecido, que me apetecia dobrar os sinais que nas ruas indicam aos peões e aos automobilistas as regras a cumprir, pois nem uns nem outros cumprem, Até aqueles das informações horárias, na paragem doa autocarros, para me entreter, para diminuir a fúria de tanta demora.
Dobrar da esquina, como se fosse o “Homem de borracha”, das estórias aos quadradinhos, adaptando -me ao ângulo de noventa graus, colocando a cabeça e os olhos salientes, para lá da esquina do meu corpo, espreitando primeiro, antes de dar o passo para o outro lado, como num esconde, esconde, no qual a única diversão é não ser surpreendido pela burrice humana.
Às vezes sabia bem dobrar a esquina da vida e encontrar a outra rua, aquela onde ainda existem sorrisos e que ainda nos faz pensar, que vale a pena viver e lutar. Aquela rua onde se caminha de cabeça erguida, olhando, olhos nos olhos aqueles que como nós são força da vida.
dc
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
NO DOBRAR DA ESQUINA
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Foto: via internet - Natalia Baras
domingo, 13 de setembro de 2015
Ele Ía Dançando
Ele ia dançando
Como Zorba, na rua
E ia pensando
Que vida era a sua
Ia trocando os passos
De braços abertos
Ia descobrindo
Seus caminhos incertos.
Dali não saia a razão
Do tanto perder
Desde agora homem
Ao seu nascer.
E continuava dançando
Atordoando a procura
Não queria saber
Temendo a loucura
Quando caiu exausto
No meio da rua
Ele descobriu
A verdade tão crua.
Todo o homem
É fruto da circunstância
Se deixa que o tomem
Morre pela ganância
E se procura o amor
Dando a pele
Acaba se perdendo
No sabor do fel.
Acabara-se a dança
A alegria e a esperança
No chão tombou
E não mais se levantou.
No chão se restou tombado
seu corpo se enrolou
e não mais pensou
ficou para sempre gelado.
dc
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Foto. (internet) - Roberto Ojeda
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
IRONIA...talvez
Acre, doce e nem por isso,
tem os pensares da vida
e nos sorrisos, ou rebuliços,
encontram sua guarida.
Enquanto tudo dei,
por amor e prazer,
somente eu é que sei
o fiz por tanto querer.
A falta de esperança,
somente tem o tolo,
porque já diz o povo:
“quem espera sempre alcança”.
“Não há bela sem senão”
e dai o meu partir
não pode um coração
passar o tempo a carpir.
Fico-me por aqui
senhora que bens já tem,
agora que para si
sou um citado, Alguém.
dc
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Foto. Diamantino Carvalho
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
reamar tardio
Tapas-me a boca
com a marca do Outono,
e tocas-me o ventre
no calor de seu verão.
Beijas-me a boca
desaparece o inferno
e se treslouca
o sol de inverno.
Teu corpo é tempestade
que me assola
a bonança que trás o estio.
Alimentas minha fome
de esperança
neste reamar tardio.
Corro no fogo
que em ti acontece
e deixo-me queimar
nas chamas de novo.
Brisa, sol, vento,
gelo, água, fogo
tudo vale o momento
de te amar de novo.
dc
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Fotos internet (desconheço autor)
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Um dia, se não nos perdermos...
Só, como ele estará certamente, desde que eu vim para este outro lado do mundo. As noites e as manhãs se confundem, somente perante a chávena de café, reflicto os dias.
Penso na sua ausência que se vai adentrando em mim, e como esta sociedade que me rodeia me vai deixando cada vês mais desnuda de sentimentos, nesta confusão da sobrevivência diária, na qual a manutenção do emprego, exige de nós, não só trabalho, mas humilhação como seres humanos. Se a minha profissão é privilegiada e me permite ter trabalho, também é dura, porque além de cuidar dos doentes e suas doenças, me deparo todos os dias com a miséria humana, nas suas mais derivadas expressões. E falta ele, sempre, com o seu aconchego, o seu abraço que me tocava no fim do dia, e o beijo caloroso com que me recebia na porta do hospital.
Aqui desterrada, nesta terra de língua diferente, onde aprendo a comunicar, A seriedade das palavras me impedem a riqueza expressiva com que me entendia na pátria.
Nesta vida dura que tenho de suportar, tentando sobreviver. Tudo está difícil e trabalho a desoras para poder aguentar o meu lugar, nesta máquina trituradora da sociedade chamada de liberal. Uso o trabalho como terapia excessiva, para me atordoar e, por momentos, me esquecer que existes, em algum lugar ainda esperando por mim. Um dia, se não nos perdermos um do outro, espero relatar-te enfrente a uma chávena de café, toda esta dor de ter emigrado, para podermos ter uma vida em comum, e do quanto, em momentos como estes que agora descrevo no meu diário, a tua presença me seria mais do que necessária.
Espero sempre, que o pessimismo que me ensombra, nesta hora da madrugada, desapareça e que tudo o que sentimos não se perca na voracidade dos dias intensos, para podermos dizer que valeu a pena e nos voltemos a amar, com a mesma, ou mais, intensidade do que hoje...
Londres, Setembro XX
dc
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Edward. pintor americano do séc. XX,
Pintura de Hopper
domingo, 6 de setembro de 2015
As mãos. Porque hoje é domingo
Foi sempre assim, lembras-te? Nunca se percebia onde acabava um corpo e se iniciava outro, as mãos que se apertavam, ou soltavam, com a expressão das emoções e os cheiros somavam informação ao que fazíamos e como nos amávamos.
Era pouco o tempo de estar, mas longo o prazer naquele chegar de reencontro, como se fôssemos redescobrir cada poro da pele, cada pequena forma da morfologia do corpo, cada brilho do olhar, o sabor de cada beijo molhado ou simplesmente corpos se roçando ao de leve. No entanto eram as mãos se agitando, a melhor expressão e assinatura do momento, sondando cada espaço, como se cada toque farejasse cada pedacinho de nós. E eram elas, mais tarde, que nos amarravam um ao outro, um dentro do outro, cada um se perdendo no outro, cada vez mais fundo, mais longe, atordoados naquele retomar do tempo perdido. Nem mesmo, quando temporariamente saciados, elas se afastavam, permaneciam coladas, como se procurassem manter todo aquele momento, como prisioneiras presas por perpétuas grilhetas.
O domingo, habitualmente o espaço da partida até nova chegada, O silêncio marcava a angústia da despedida, os olhos brilhavam, mais do que nunca, e o beijo tinha o sabor da ausência que se avizinhava, a dor da distância. Por vezes, ficava-me a pensar de forma egoísta: “não deveria haver dias da semana, mas só domingos” ou então, “poderíamos ter o livre arbítrio, de alterar o que nos impede de que todos os dias sejam domingos”. É, o domingo era já no dobrar da esquina do tempo, mas parecia uma eternidade até acontecer..
Nesse fecho do dia, as mãos voltavam a se aprisionarem até ao adeus temporário, em que o aceno era o remate final.
dc
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sábado, 5 de setembro de 2015
Limito-me a ser
Fecho-me na rede que cobre uma parte de mim, como se estabelece-se assim os limites de usufruto, ou descoberta, do que existe para além das aparências. Sem ser uma estratégia de provocação, em que o esconder pretende ser o contrário, eu revelo até onde vão os meus desejos e pensamentos. Rede e chapéu, não são mais do que adereços das dúvidas em que me escondo, em relação aos meus desejos, e ao que pretendo dos outros, na observação que possam fazer do que lhes é exposto. É evidente que a timidez existe, marcada por aquilo que faço, enconcho-me na forma, diminuindo a dimensão das coisas, para que não vejam mais do que pequenas nesgas de um corpo que permanece confinado aos limites do socialmente correcto. Perdi a oportunidade de declarar-me suficiente e livre, para ir mais longe que a limitação exposta. Limito-me a ser.
dc
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