segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Lá, na imaginação



No segredo, do nosso encontro de palavras, se descobre a beleza das rosas, sem a dimensão do seu cheiro nem o sentir dos espinhos que as protegem. Nelas a noção de como agarro teu sorriso e fico com ele, passeando nos meus pensamentos, dando cor aos dias, limando as arestas de momentos difíceis, aceitando que traga aos meus olhos brilhos de alegria. 
Faço-te princesa do meu reino, mesmo não sendo príncipe, servo, ou rei, és personagem principal do meu conto, ilustrando meu coração. Imagino-te, na espera do meu regresso, vindo da floresta distante, destruídos os obstáculos e eliminados os inimigos, trazendo a paz ao teu regaço e esperança renascida. 
Sei-te sabedora de corações doridos, de sentimentos feridos, de vontades e desejos capazes de grandes batalhas, Certamente a distância existe como um factor de distracção, somente isso, do toque da realidade física, mas prova que os sentidos e emoções são fonte de proximidade.  
Na verdade, rosas, sorrisos e brilhos, são acessórios neste nosso conto de fadas, mas que nos fazem tão bem, que até a distância, a espera e a realidade física, se esbatem, com o calor das palavras e seus sentidos, tornando-nos a realidade possível...

dc.
 
 
 


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Como folhas caídas



O verde acastanhado das folhas, a terra coberta por diferentes matizes, húmida das primeiras chuvas, o fumo saindo das chaminés das casas, como se fossem comboios parados na estação esperando ordem de partida, O balir dos animais, pastando, A brisa tirando as folhas que ainda subsistem em alguns galhos, vão-no carregando de nostalgia e uma melancolia enorme se apossa de si. 
O olhar se perde na planície a desaparecer da vista, num observar de dentro, em que se confundem, realidade e sentir, olhar cego que não vê, vive da memória do que reconhece, agarrando tudo o que se liga ao que decorre no seu pensamento. Como folhas caídas, despindo as árvores, criando o húmus da terra, também vai rasgando, páginas sucessivas, dos registos que se foram construindo, entre dores e alegrias, deixando correr o filme até ao The End, que o permita regressar à realidade e plantar em terra fresca novas ideias, esperança e força para novas batalhas. 
Saber quanto tempo decorreu, entre a chegada e a partida, é secundário, importante foi o que aprendeu e amadureceu nesse estar... frente aquela imensidão, integrado, como elemento indiferenciado e constituinte da natureza, lhe permitiu se redescobrir dentro da sua própria natureza.

dc



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

CHUVA DE OUTONO




Cai vertiginosa deslizando, nesses montes e vales, regando a terra fértil, refrescando seu ardor. Ela se deixa possuir por aquele, algo, sem contorno, que revela sua forma e liberta seu espírito para voos inesperados. Corre, escorre e percorre, massajando, leve, docemente, num êxtase inexplicável, como se num deserto, encontrasse a fonte da vida.
Ali, completamente só, despida de tudo, submete-se à sua limpidez, lavando sujidade ou pecados maiores, por vezes resíduos de um amor não desejado.

dc


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

PENSEROS




A boca se mexia
Num vai e vem
Deliciado
Ele se encantava
No seu ventre rosado

Ela lambia
E a boca arredondava
E ele absorvia
A frescura do ventre
Molhado...e gostava

Nela o brilho nos olhos
Do prazer que findava
Ele todo se perdia
E mais se deliciava
Na boca que se mexia

Quando o creme escorria
Ela com o dedo limpava
E quanto mais ela fazia
Mais ele gostava
Do prazer que sentia

Ela do êxtase suspendia
O gelado que lambia
Ele se repousava
Exausto de comer
Toda aquela melancia

Ambos com alegria
A sesta foram fazer
(Até ao findar o dia)
E nela usufruírem
Dum outro amor e prazer

dc

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Segredo entre lábios



Quando os lábios se misturam, nesse beijar de bocas inquietas, de línguas conversando, de sabores se cruzando, tudo em nós se altera, deixando-nos a mente vazia, o sangue afluindo à superfície da pele, e o coração se acelerando em desejos e emoções que as palavras escasseiam no descrever.
Como se explica a maciez dos lábios, uns se encontrando nos outros, o calor que emanam, a mordida leve, a sofreguidão e ansiedade na procura, querendo, cada boca, saber da conversa invisível que ali acontece. Comportam-se como invisuais, tacteando na descoberta, querendo memorizar a existências dos contornos e prender os sabores no temido findar. Não existe ampulheta, mecanismo que estabeleça o tempo, nem quando finda. Sabe-se, por vezes, as bocas são atrevidas, se afastam percorrendo caminhos mais alargados, indo mais fundo, surpreendendo-nos nessas outras experiências, no entanto regressam sempre ao princípio, nesse selar de amor e paixões que ficam no segredo entre lábios.

dc

domingo, 27 de setembro de 2015

No Banco do Jardim



Quero sentar-me naquele banco de jardim, meu braço sobre teus ombros falando dos nossos sonhos e projectos, Sentir a brisa agitando as árvores, o chilrear intenso dos pássaros no seu recolher do fim de tarde, e ver o sol avermelhado se escondendo na linha do horizonte.
Quero ficar naquele sem tempo, Sentindo o calor dos nossos corpos, que se aconchegam, no arrefecer do fim de tarde, vendo a noite entrando pela cidade, recebida pelas as luzes dos candeeiros.
Esperar que os ruídos dos carros vá desaparecendo, e as nossas vozes se tornem tão nítidas como os nossos desejos. Gozar o prazer de sentir os meus dedos brincando no teu cabelo, vendo-te fechar os olhos no embalo, procurando colar as costas no meu peito, enquanto vou moldando as palavras, junto do teu rosto. Até que aconteça o beijo, selo de vontades, assinatura de gostar, testemunhado pela natureza que nos envolve. Depois...depois deixar que tudo vá evoluindo, no curso normal, registado no corpo e na pele, para lembrança futura.. e depois, esse outro depois mais longo e saboroso, de sorriso na boca, olhos brilhantes, no regresso ao calor da casa e ao descanso, num caminhar pela noite, que já foi tomada pelo luar e os gatos.
dc 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Todas as vezes..





Todas as vezes
Tantas vezes

Na partida
Ou na chegada
Na janela fechada
A mão se abria
Como sinal de alegria
Ou de um adeus
Que se repetia.

Só no fim da espera
Dum comboio que partia
Ou dum outro que chegava
O beijo acontecia
E a saudade começava.

dc