Somos um intervalo, no tempo que decorre na
vida de alguns. O intervalo, em que preenchem as dúvidas, enquanto o tempo
corre apressado. Um espaço aberto, dado como certo para o desabafo. Espaço de
excelência, onde descansam e dividem a consciência. Um depósito onde deixam as
suas angústias e as suas dores.
Somos quem querem que mude, porque não modificam quem queriam que mudasse, laboratório de experiência, das suas análises, das suas dúvidas, das suas
crenças.
Somos tudo e nada, perante as suas razões, que estão acima de todos.
Nós somos, quem somos, nesse intervalo de todos, sem que procurem saberem nada
de nós. Alguns chamam a isso confiança, porque lhes convém, outros chamam-lhe
afinidade para tentar chamar-nos para o seu campo de interesses. Alguns até nos
chamam irmãos, primos, pais, amigos, anjos, e todos os adjectivos colados para o
justificarem. Na realidade esses muitos, para quem “somos”, não são mais que
uns quantos indiferentes, incapazes de assumirem os seus próprios erros,
virtudes e defeitos, que procuram sobrecarregar as nossas consciências, com as
preocupações que os acometem, assim dividindo.
Cansamos de ser espaço morto, no tempo que
decorre na vida de alguns que se lembram de chorar no ombro as putices que
cometem para aliviar a sua própria carga. Cansamos de ser um intervalo, das suas
memórias, quando à sua volta, já nada nem ninguém abre o seu peito e os seus
ouvidos, às suas dores desgraças ou alegrias. Cansamo-nos de ser tão maus como
eles próprios, passando por compreensivo, experiente, social, amável, bom
escutador, ou até cofre de segredos.
Os meus amigos verdadeiros são menos que os dedos de uma mão, para esses eu sou
o que existe, visto a pele do que são e vivo as sua vidas como se da minha
fosse. Esses outros, os tais outros para quem somos, que vão à merda nem no
Natal têm perdão.
dc