Eu sei que precisas de mim, que não vives
sem a minha presença na tua vida. Quando, por alguma razão me ausento, ficas
frio incomunicável, vazio, silencioso. Os teus olhos perdem o brilho, a tua
boca é uma linha que não se desmancha, as tuas mãos ficam geladas, os teus
braços não reconhecem o prazer dum abraço. A tua criatividade esmorece, nada do
que produzes tem alma, nada te satisfaz, és uma página de rascunho permanente.
Sem mim não destrinças, na guerra dos sentidos, a paz da agitação. Tem vezes
que te desculpas, justificando, não quereres mais sofrer, sendo preferível a
abstracção. Dizes para ti próprio, que assim, evitas a tristeza, que a minha ausência
traz ao teu crescimento. Covardemente, foges daquilo que eu te dou, tens medo
do engrandecimento e da nobreza dos sentimentos que desperto em ti. Esmagas-me
com a mesma fúria com espezinhas as folhas secas, que no chão o outono deixou,
nessa raiva de saberes o quanto sou importante. Temes ouvir o meu nome, evitas que
seja pronunciado e o que ele representa, mesmo sabendo tu, quantos o usam, na
sua forma de estar neste mundo, partilhando-o e sentindo a felicidade de o
possuírem. Contrariando esse teu pensamento, procuro que reflictas, se vale a
pena fugir de mim, eu tão simples, como as quatro letras que fazem meu nome, mas
que não deixará de te motivar, surgindo no deitar das noites, como um mantra
que se repetirá e te ajudará a adormecer, colando-me assim aos teus sonhos, como a tua sombra até
que novamente, faça parte intrínseca de ti e do teu vocabulário de existir. Talvez seja dor, talvez seja pieguice, talvez seja amor
dc