segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Dialogitar


Falam-se de experiências, cada um no seu canto, contos de perdidos e achados, que não é possível recuperar. Se libertam, criam espaço, na rede neurológica, para não mais se repercutirem, como perdas de tempo. Lembram indecisões, que se não devem repetir, sem esquecer, que no errar e acerto foi onde hoje chegaram. São coisas, como percursos políticos, ideologias, saudades, amores e fatalidades, são farrapos de uma existência longa, que se fixaram, em si próprios, sabe-se lá porquê. E agora numa catarse saudável, deixamos desenrolar, paulatinamente, sem ajuizar, boa de acontecer e desenvolver, numa partilha que nos torna mais leves. É um raciocinar, no decorrer da fala. É, um ir e voltar, nesse procurar de respostas, a perguntas, que se alongam em novas perguntas, num corrupio, agradável que alimenta o conversar. Que bom, encontrar um interlocutor válido, que não acena com a cabeça, em apoio conformado, que retruca, com inteligência, com outras práticas e outros exemplos, revela incongruências, mas também sabe aceitar outras evidências.
A tecnologia digital, aproveitada para servir o ser humano existe e é boa, e contribui, neste caso, para que dois distantes, se tornem próximos, é mais que evidente. Importante, é que o ser humano não seja preguiçoso, e se deixe na comodidade, de ser dominar pelo algoritmo, e se perca nas teias, de quem a domina tais tecnologias, e, passe a repetir padrões de pensamento e dominação.

dc


N: Dialogitar, é um palavrão composto. Dialogar digital


sábado, 10 de agosto de 2024

DIvagando


Desfiz as malas, pouco tempo após chegar a casa.
Olhei, o espaço, retomei os lugares, arrumei o que havia para arrumar e pus a lavar o que havia para lavar.
Seguiu-se um banho relaxante, enquanto o livre pensamento desfilava sobre o modo como corre a vida, abstraindo-me de entrar a pés juntos nas rotinas.
Tento fazer um esforço para procurar descobrir, que sintonias encontrar, que intuições saem de mim, para seguir com o pós férias. Cansa a repetição insuportável, que estabelece que as férias existem, para sossegar do trabalho, e que este serve para suportar as férias que sempre gozávamos. Cansa a ausência de energia, para trazer a paz necessária, para abandonar tudo, encontrar o voo certo, para derrubar, todas as regras absurdas que a sociedade nos impõe como único caminho para sermos gente. A natureza ensina muito com o seu desenvolvimento, como reage à interferência dos humanos, com a sua evolução ou paragem, regeneração e morte.
Se a energia domina a constituição do nosso corpo, como nos deixamos dominar pela imposição de estruturas contra-natura?

dc

 


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Um dia nas férias

Amanhece com o céu enublado, que fazer? Em tempo de férias é uma chatice, em especial para quem gosta de ir à praia. A areia está molhada. O sol não está lá, para podermos secar e morenar de papo para o ar, quando saímos do banho de mar. O que nos resta fazer? Quando vamos de férias, mesmo quando para usufruir da praia, devíamos ter um plano alternativo, para sair de casa, caso contrário é como se nos mantivéssemos fora de férias. Ir à piscina só para tomar banho? Será que na piscina municipal, não incomoda a falta do sol? Talvez, por causa deste clima incerto, nem apetece fazer exercício físico, como é meu hábito. Até que seria bom para espevitar. E, mais estranho ainda, que mesmo gostando de ler, com esta morrinha húmida e chata caindo, nem apetece abrir um livro. Ir para um café, ou passear, seria uma hipótese, mas como, se tudo está cinzento e desagradável? Resolvo sair. Na paragem do autocarro que circula pela zona, penso no que fazer; se vou tomar um café, tentando ler um pouco, enquanto deito o olho às pessoas que passam, muitas delas agitadas deslocando-se para os empregos, enquanto, outras tomam um café apressado, ou, os que, como eu, estão na reforma e fazem conversa de rotina. Como eu gostaria, de ser capaz de meditar, para fugir para o lado desconhecido da mente, do que se diz: nada pensar e tudo fazer fluir. A ser verdade, recuperaria deste cansaço e aborrecimento, que me vem a tomar o corpo, já há algum tempo, e que gostaria de afastar de mim, razão pela qual fazer férias era importante. Tenho dormido, e sabe-me bem, as férias também são isso, repouso, embora o acordar seja um pouco abstruso, e fique, como sem pé, à procura de mim mesmo, demorando a saber “o que faço aqui”, como diz a canção. É nesse despertar, que envolve o reencontro, entre o mundo abstracto da mente durante o sono e o retorno à realidade, que a ausência do sol brilhante e céu azul, me fazem mais falta.

 

dc


sexta-feira, 19 de julho de 2024

Férias. Até ao lavar dos cestos..



Amanhece-me o corpo com o calor. A preguiça que a noite trouxe, contamina o cérebro enublado, trôpego de gestos, sento-me na borda da cama, absorto tentando encontrar o caminho. Primeiro, saber do lugar onde me encontro, depois encontrar a coragem para me mexer e erguer o corpo. Obra difícil. Sabe bem, estar assim, olhando  os pés sobre o tapete, ainda sem os chinelos, que onde ajudar no caminho. É interessante como os dedos dos pés, nesta altura do dia, são motivo de atracção, mexemos um e outro como se quiséssemos através deles chegar ao cérebro emaranhado da noite que findou. Nem reparamos, se os pés são feios ou bonitos, mexemo-los simplesmente como se estivéssemos a tocar piano com eles. O vizinho do apartamento ao lado bate a porta dentro de casa, e as paredes, de cartão, fazem nos crer que está a acontecer na nossa cabeça. Fico desperto e começo a insultá-lo baixinho: como é que um cabrão destes, acorda tão cedo em plenas férias, e entra no mundo dos outros com esta bestialidade. Na verdade tenho de agradecer-lhe, deu-me o gás necessário para conseguir levantar-me e lentamente descer as escadas a procurar solução para a modorra que me trava os gestos. Coragem, penso eu, o dia está por tua conta, só tens que vestir uma coisa qualquer, umas chanatas nos pés e ir para a cozinha preparar o pequeno-almoço, depois, lá vais tu para a praia, tomar o teu sol, meter esse corpinho na água do mar, fria o suficiente, que parece que estás no Ártico. Regressas à toalha de banho, anteriormente estendida, que te espera, e começas a tua rotina de leitura, intercalada com um fechar de olhos, malicioso, que engana quem passa. Arregalas os olhos de vez em quando, com os passantes, que de calções ou biquini se vão mostrando e voltas à fluidez da pasmaceira da praia. Ler, fechar os olhos, ver quem passa, ler fechar os olhos e ver quem passa. Intervalo para molhar o corpo, que o sol é muito forte e voltar a pôr o protector(?) solar. Assim vai passando este ramerrame do ínicio das férias. Entretanto, lá chegará a hora ir almoçar, acompanhada de conversa ligeira e algumas vezes divertida, abrindo a porta à respectiva sesta, e por aí vai o correr do dia. Férias são férias. Até no lavar dos cestos é vindima e mais nada.

 

dc

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Diálogo invisível

 

Espantado com a claridade do seu olhar, transparente, puro. Um olhar que se adentra no meu, fixando-me na sua infinitude. Fala-me de amor sem que as palavras se soltem, mas ouço-a num sussurro dentro de mim, é um diálogo invisível, que só os dois entendemos. Tudo acontece, como se fora previsto, sem sobressaltos. Os corpos movimentam-se, convergindo, com um fio condutor que nos hipnotiza. Quando perto, o seu perfume sobressai, e o calor do seu corpo, faz-se sentir no aflorar da ponta dos dedos que se tocam, milésimos de segundos antes de as mãos se apertarem, e os corpos se enlaçarem na linguagem frenética do espanto. Movidos por certezas, que não sabemos possuir, que se afirmam nas letras que compõem esse sentimento, que alimenta a alma dos poetas, é tema de filmes, enriquece performances em diferentes palcos da arte e da vida. Somos possuídos por uma espécie de montanha-russa de emoções. É incrível a abstração pura do que nos envolve, ambos deitados num colchão de nuvens, inexplicável ao comum dos mortais.
Tanto tempo passado desde que acontecera. Quase em apneia, acordo assustado, procuro os teus olhos, e encontro a almofada vazia. Já não estás ali como eu me habituara, nos muitos acordares. Partiste com serenidade, no seio da dor que te magoava o corpo. Agora, só cheiros vários e objectos sinalizam a tua passagem. Encolho-me sobre o meu próprio corpo. Encosto os joelhos no peito. As lágrimas correm, afinal foi tão curto o nosso tempo de viver. Dizem que o Universo, planeia tudo, mas porquê ser tão frio e calculista ao atribuir-nos um tempo de partir, quando queremos ficar?

 

dc


terça-feira, 9 de julho de 2024

Abstração


Fala-me, eu escuto, mesmo que não conheça a tua língua, estou capaz de te entender. Tu falas por ti, e por mim, nesses gestos vagos de nada dizeres. São desenhos abstratos, feitos no ar, nessa imensa lousa onde existimos. Como explicar aos outros, que a nossa linguagem é subliminar, que só olhamos os movimentos, a agitação e clareza do olhar, o mover dos lábios mudos, dizendo para lá do espelho que nos envolve. A energia que se liberta, comunica e desperta a consciência daquilo que é intrínseco de cada um. As palavras não fazem sentido naquele permanecer, alguns sons, talvez, alguns cheiros, certamente. Ligados pela abstração de um sentimento, que não sabemos explicar, restamos sentados, próximos, marcando o compasso da respiração surda, serena no peito. As horas passam, o dia nasce e morre como se não existissem limites. Abrimos uma porta, que não sabemos onde vai dar, nem se pode ser fechada. E pouco importa que assim seja, nós somos a presença que queremos. Um para o outro, escrevendo o diário, com tinta transparente, em letras de uma língua desconhecida.

dc

segunda-feira, 8 de julho de 2024

A voz que me encanta

Sydnie Christmas um talento cantando

A voz me encanta, a boca desenha um sorriso, lindo, intraduzível. Os olhos sorriem e brilham, acompanhando os sons saídos dos lábios. Com a simplicidade, como se apresenta, assim o poema sai, fluindo na sua voz quente e límpida. Sinto que me afasto, torno-me etéreo naquela escuta. O mundo, é todo, uma nuvem, que me conduz para lugares desconhecidos. Sentimentos vários, nunca surgidos, se adentram e me arrepiam a pele. Afinal a arte, estética, a voz, a sua figura, nos arrebatam deixando-nos suspensos da realidade material. Sem adivinhar o porquê, enamoro-me do que vejo, ouço e aprecio. Fantástico quando alguém canta e tem presença, e a voz, que nos encanta.

dc

 

 https://www.youtube.com/watch?v=pjyy4tYZFDc