Dizem que a noite é boa companheira, ou melhor o dormir em
cima das coisas. Nem sempre isto é verdade, por vezes a noite é povoada de
fantasmas, de dúvidas, de angústias, que a escuridão adensa. Por vezes o nascer
do dia, torna tudo mais leve e fácil de concretizar. Daqui, se me gera a
dúvida. Será, que por causa das tais negritudes, que ensombram o nosso
pensamento, depois o dia seguinte nos parece melhor, ou de facto, a noite é
péssima companheira tornando tudo mais difícil e como consequência respiramos de
alivio quando de manhã acordamos? Será essa a razão para que se diga que é boa
companheira?
Uma coisa é certa, dizem os aturados especialistas que nos
devemos “deitar com as galinhas” e acordar com o cantar do galo - que chatice
se o galo está mal disposto, ou a galinha está com o TPM, porque de uma forma
ou de outra somos prejudicados - , ou outra expressão bem popular “deitar cedo
e cedo erguer dá saúde e faz crescer”. Na verdade, existe algo de verdade
nestas observações. A noite, normalmente, mesmo no centro da cidade, é mais
silenciosa, como tal, permite um maior descanso e maior facilidade no adormecer
e os ruídos de ambiente não continuam a martelar o nosso subconsciente enquanto
dormimos.
No entanto, tenho para mim, que a noite, ou o dia, são espaços
temporais, que têm características próprias, tornando-se escuros, claros, bons
ou maus, dependendo da nossa personalidade, educação, cultura, daquilo que
vivemos, como vivemos e do que gostamos.
Há momentos da noite que são lugar de veludo, deliciosamente
sentido.
Há noites de amor, onde a seda da pele, o tacto, os cheiros,
os sons, as palavras ciciadas prendem a nossa atenção e dão lugar ao sonho.
Outras, não menos numerosas, em que o prazer das palavras, que se nos deparam
aos olhos nos deixam extasiados na descoberta de outros mundos. E muitas
outras, que tornam a música mais sublime, ou fazem, com que a viva voz, pela
noite fora se diga da alma.
Tem noites, em que nos revelamos, seres excepcionais, amigos
incomparáveis, almas de aconchego.
Viva a noite, que nos torna sublime o dia, para que este
faça da noite um momento sublime.