.....não ofereci amêndoas torradas, nem de licor, nem daquelas de chocolate, ou de espécie alguma. Também não ofereci um coelhinho, nem um ovo pintado, pão-de-ló, ou fios de ovos, e muito menos absolvição, não sou católico e menos ainda padre. Ofereci uma voz com palavras sentidas, opiniões várias, cultura diversificada, um ouvido atento, um sorriso na distância, um espaço para pensares. As outras coisas só na Páscoa se oferecem, o que ofereço tem todo o tempo e espaço estabelecido por ti, assim tenhas vontade.
DC
Tenho escrito algumas vezes procurando chegar ao centro de ti mesmo, e não consigo. Uso as palavras doces que tanto gostas, as frases que me revelam, só para ti, e mesmo assim não consigo abrir esse cofre onde te fechas.
Não mates a minha vontade de te escrever, não me coloques a dúvida do teu sentir, faz-me acreditar que “ouves” o que eu digo, e me abraças enroscado nas frases que elaboro, e me beijas com o acento circunflexo dos teus lábios.
Faz-me sentir que não corro o risco de a chave se perder, e de as minhas palavras desaparecerem, transformadas em letras desgarradas como grunhidos, puf ahg ih .
Não me troques pelo tempo no computador, ou pelo jogo de futebol do clube que adoras, porque um tem muita tecnologia e o outro, por vezes, é fanatismo exacerbado e ambos te robotizam, afastando-te do que eu escrevo.
Escrevo-te muitas vezes. As palavras fazem as frases e descrevem o que eu sinto. Algumas vezes sonho, que o que eu te escrevo te provocará resposta, e que nesta, as palavras virão para me assegurar de que “ouviste” as minhas emoções e o quanto receptivo a elas és.
Não demores, a escrever e a responder ao que eu escrevo, porque provocas em mim o receio de que é tempo de te perder.
Enquanto te espero, pinto os meus lábios com letras góticas, arranjo cabelo no melhor itálico, faço unha com todos os acentos e visto-me com a simplicidade duma arial regular, para quando chegares te receber com frases de poeta.
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Gaiola dos Papagaios |
Há uns pobres coitados que são comentadores de televisão que passam o tempo a fazer futurologia, sobre politica. Eles não serão certamente tão “coitados” assim, na prática eles sabem bem qual é o seu papel, e desempenham-no tão bem, que de facto parecem uns “coitados”. Quando acertam dizem “ EU não disse!”, quando falham passam ao lado e começam a falar de uma outra figura pública qualquer, ou de uma outra medida, económica e social, área na qual ainda acertam menos, assobiando para o lado. Agora o tema é o regresso do Sócrates, para disfarçar, dar protagonismo e obterem o efeito pretendido, arrasar mais uma vez os PS, antes das eleições, trazendo à liça o seu maior coveiro. Porra lá estou eu a comentar.
Alguns desses comentadores de “democracia” insuspeita, que andam a disparar para todos os lados, mesmo contra os partidos dos quais fazem parte, contra as medidas governamentais, de repente quando ouvem falar em moções de censura, ou que o governo pode cair, gritam aflitos, “ aqui del-Rei, porque precisamos do terceiro, ou quarto pacote da Troika...o país caía para o lado de esgotamento... que tudo seria uma catástrofe, a bancarrota, a banca cosida” e por aí fora.
Afinal para que servem os comentadores, que aparecem todos os dias a comentar, que comentam as acções dos outros e suas falhas, sem falar das suas opiniões e acções que não se concretizam, mas que com muita lata vêem dizer: “não era bem assim, era mais assado, e mais ao lado e depois prá frente”, e todo um chorrilho de asneiras que parecem ser de indivíduos dotados de inteligência acima da média, Assim fica o povo embasbacado, sem saber o que lhes chamar, se comentadores, ou comendadores, ao serviço da comenda dos “gajos da massa”.
Dizem-nos que esses senhores fazem parte da “liberdade de expressão e comunicação” de uma sociedade moderna. Fico confuso, porque não percebo a razão de só haver comentadores praticamente de um quadrante político e não se ouvem de outros sectores de opinião em especial da parte daqueles que são os mais lesados na sociedade.
Privatizaram-se canais televisivos e outros media, com a falsa perspectiva de que haveria mais escolha de programas e de opinião, pelos vistos como o governo, até obter o que queriam defenderam uma coisa, depois de a obterem e estarem no poleiro fazem outra.
Desgraçado povo que tão enganado é e que ainda lhes faz rapapés.
Devíamos fazer uma campanha de vinte e quatro horas sem ver Televisão, um dia sem comprar jornais, um dia sem comprar revistas e por aí fora a ver se estes senhores da comunicação percebiam, inclusive os próprios jornalistas que o povo é quem mais ordena e como tal é para ele e com ele que devem estar independentemente do accionistas.
Hoje os jornalistas já se auto-censuram porque têm medo de perder o emprego, se assim continuamos, vamos dar razão a alguns vendedores da banha da cobra que nos querem vender os jornais formatados da internet e de origem duvidosa.
Longo tempo passou desde a minha última viagem para longe da área onde habito. Todos temos uma área de conforto onde parece existir tudo o que necessitamos. A loja, o jardim, o transporte, o café, o restaurante, o amigo, o hospital, enfim tudo aquilo que nos torna a vida num quotidiano rotineiro, do qual muitas vezes reclamamos, mas que “nos fica tão bem”.
Sempre fui bicho do buraco, por insegurança? Por comodismo? Isso queria eu saber. Na verdade, uns adoram viajar, outros preferem não ter de se incomodarem a sair, porque não podem levar a casa às costas com tudo aquilo que pensam precisar e que são o seu “sempre à mão”.
Sair em viagem para mim é uma necessidade sanitária, preciso de limpar a mente e voltar a reencontrar o prazer do retorno à origem, quando ela finda. Gritar na entrada da porta dizendo; “cheguei, lar doce lar”. Tomar um banho, deslizar no sofá e reviver os dias finais da viagem. O restante será revisto de forma divertida, só, ou com os amigos e familiares, entre risadas alegres esquecendo até que não gosta nada de viajar e de romper as suas rotinas.
Vou fazer uma pequena viagem, não pelas razões do costume, e sim porque terei o prazer de encontrar um outro lugar, onde espero, o acolhimento seja doce, a cidade me seja apresentada com todo o seu esplendor, e as delicias gastronómicas caseiras sejam um prenúncio, de uma noite com pouco dormir e muito prazer, sentir, sorrir e viver.
Fico sentado olhando a mala, ainda com um pequeno espaço, onde caberão mais algumas coisas. A mala é pequena, mas grande o suficiente para levar o essencial para tão pouco tempo, dúvidas tenho se o meu recheio é o suficiente para preencher esse alguém que espera minha visita.
A viagem parecerá tão longa, como curto o tempo de estar, mas estou convicto, que as memórias que se desenharão naqueles dias, serão tão perenes que permanecerão como marcas na pele, como outras, com o sabor dos morangos com chantilly.
Entretanto, como é habitual antes de qualquer viagem pequena, ou grande, fico sentado olhando o espaço envolvente da sala como se temesse perder as suas referências, ou deixar abandonados os meus livros, pinturas, e outros elementos decorativos, que a preenchem. Assim vai a noite, lentamente adentrando, e eu no meu silêncio vou alimentando a expectativa, pensando no transporte, nos horários, se nada fica esquecido esperando que o sono surja e o dia traga alegria na partida.
DC
Entrou a primavera, que nem é prima nem vera. Entrou com o frio e sol intermitente. As plantas quase não se atrevem a florir com medo de enregelar e morrerem antes de nascerem.
Já nada é como dantes – saudosista ?– as estações do ano vão-se alterando como as nossas vivências, que se têm de adaptar aos novos ventos que sopram da Europa.
É pena que a alegria morra nos lábios, cerrados de raiva contida, de fome sentida, de impotência perante a violência moral social, politica e económica, com que somos premiados, neste cantinho plantado à beira mar.
Não entramos na primavera, porque a prima, é vera e não deixa. mataram-nos o amor, a alegria, e querem que os lábios se abram em sorrisos de plástico. Eles não sabem que se abríssemos os lábios escorreria sangue da língua trilhada pela raiva, dos pulmões doentes, do coração ferido, da contenção e da fome.
Esta seria a estação do ano em que gostaríamos de ver os pássaros em agitação, as plantas a florir, as crianças a encher o ar de gritos de alegria, os corpos a largarem as roupas pesadas do inverno, bebermos um café na esplanada do jardim, sentir a energia e prazer da vida. E porque não? O que nos impede, de gritar bem alto a nossa primavera para que se cumpra?
Abril está aí a chegar carregado de memórias. Aproveitemos para recapitular o que se passou, que nos fez sorrir, ter esperança e acreditar em cravos a florir. De nós depende semear e colher o seu aroma, a sua beleza e de com eles enfeitar novas vontades, nova esperança, uma outra alegria, uma Pátria que deve renascer.
DC
Já o escrevi, em outras alturas, que não me fixo nos dias, da mãe, do filho, da avó, do namorada, do pai etc. Todos essas efemérides, servem fins comerciais, mais do que uma celebração de alguns valores que devem emanar de um ser humana e socialmente capaz.
Celebrar estas “efemérides”, dá uma ideia de que já fomos para o “outro lado”, ou seja “estamos a fazer tijolo”, ou que já temos só lembrança. Cheira a mofo, a velhice.
Vai daí que aproveitei para dizer que embora o “dia do pai”, para muitos, seja hoje, eu continuo a ser pai há mais de trinta e sete anos e com muito gosto.
Fico feliz na verdade, que seja ela a dizer-me neste dia o que me diz, em muitas outras vezes: “Tu sempre foste um pai presente”. A prenda que me deu, e adorei, foi enviar-me um texto que lhe escrevi, tinha ela cerca de dezasseis anos e não foi no “dia do pai”.
Eu tenho de lhe agradecer ter me sido permitido ser seu pai, ter contribuído para a proliferação da espécie e ter orgulho por lhe ter transmitido valores que reputo essenciais a qualquer ser humano.
Nem sempre os nossos filhos seguem os nossos ensinamentos, não é grave, desde que saibam adaptar as qualidades e valores aprendidos, sem perder o norte, ao seu momento de vivência. Há valores que nunca sofrem mudança e estão na génese do ser humano e que nos distinguem das bestas. Alguns princípios como a honestidade ( não meio honesto, ou pouco honesto), respeito pelo seu semelhante em qualquer circunstância; preservar a amizade e a sua família e a família que representa o povo onde está inserido sendo solidário; fazer da aprendizagem uma necessidade permanente; proteger o ambiente; respeitar o trabalho, o seu e o dos outros. Se conseguir que assim acontece já me sinto feliz.
Como pais nos dias de hoje temos de ser mais exigentes no papel que vimos desempenhando. Hoje a sociedade de exploração capitalista em que vivemos, apela-se à ganância, ao egoísmo, ao desprezo pelo seu semelhante, ao dinheiro como mola de sucesso, à concorrência a qualquer preço, à desumanidade. Por isso exige de nós mais atenção e necessidade de incutir determinados valores e princípios.
Ser pai, obriga a ter capacidade de enfrentar a dor, de cada decisão tomada perante os filhos, mesmo que eles não a entendam. Importante é ter a consciência dos nossos saberes e experiência para os defendermos e preparamos, na obtenção de algo benéfico ao seu futuro.
Como diz o povo “as desculpas não se pedem evitam-se”, por isso não nos desculpemos deixando de assumir aquilo que, entendemos de forma civilizada, humana, afectiva, e importante como cidadãos e seres humanos, sermos pais.
Eu gosto de ser pai.
A curva que surgiu encontra uma outra que fugiu e de curva em curva seu corpo se desenhou. De curvas e contra-curvas de relevos bem pensados, de gestos mais abusados, foi assim que Deus fez quando a mulher criou.
Eu penso que ele não sabia muito bem o que fazer, andou entretido e com muita hesitação na forma a escolher, por isso, tanto relevo de prazer. Vitima foi o Adão deste deambular ébrio, que até hoje viveu com a mulher um caso sério.
Séculos passados, por anos divididos, em horas de muitos enganos, minutos sofridos, até ao segundo vividos. Sôfrego Adão se viu envolvido em preciosa figura, que Deus lhe atribuiu, que desde aí nunca mais lhe fugiu.
Nem todas as religiões vêm assim o princípio do mundo, eu que não sou crente, aceito que assim seja, pois a mulher é um ser que muito se pensa e deseja.
Mas não consigo deixar de pensar, que tudo isto não foi fruto do acaso de um Deus a divagar, ou se ele também pensava numa mulher para se casar.
DC