quarta-feira, 25 de julho de 2012

UMA ESTÓRIA DE BOIS E VACAS


Nesta estória de silêncios que frequento, vou divagando e pensando em coisas que não lembra o diabo, como aquele aforismo (argumento dos idiotas) popular que diz algo parecido com isto: “casal sem cornos é como um jardim sem flores", que eu julgo ter a ver com os bois e as vacas.

Esta afirmação fez-me projectar para a estória dos bois e as vacas e muitos outros animais, que já nascem com cornos e gozam da erva. E que têm personalidades e “estar social”, que vale a pena realçar.
São livres não ficam corados quando mentem e nunca olham nos olhos.

São afáveis e mostram sempre a sua admiração, mummmm mummmm um pelo outro, sem grandes discussões ou argumentos.


Não são envergonhados, são até um pouco exibicionista pois não têm vergonha de fazer sexo em público.


Fazem amor à canzana sem preconceitos, e só não dão beijos para não ficarem de línguas enroladas.


São muito simpáticos um para o outro, marram, e marram bem. No entanto, por vezes o façam, para porem na linha um macho atrevido que aparece fora de tempo, ou na fêmea quando abusa da liberdade de andar de cornos ao alto.


Embora em algumas raças, as vacas tirem os cornos bem cedo para não se incomodarem umas às outras quando em casa, ou quando saem as compras no meio das pastagens e para não ficarem com complexos desde pequeninas.

As vacas andam sempre umas com as outras, a não ser quando comem ou são comidas.
São uma ternura, aqueles olhos de bovino, parados, as orelhas a mexer tipo ventoinha para afastar as incomodas moscas. Tem um traseiro cinco estrelas. com um rabinho todo mexido sempre que sentem algo a roçar-lhes o pelo.
Os bois também tem o seu ar interessante, normalmente não lhe cortam os cornos, machos que são, gostam de assumir os enfeites. Alguns são bravos, e é entendível com um peso nos cornos daquele tamanho deve custar um pouco, embora se conste que são muito liberais. Ultimamente andam preocupados pois as vacas andam meias loucas e não sabem o que lhes fazer.

E aos bois não há medicamento que chegue, desde que se lhes meteu na cabeça que são de sangue azul.

Ainda há dias a AAPVBT*, teve de aprender tudo o que havia no talho porque as vacas presentes estavam todas loucas. Tudo isto em tal alvoroço que estragava a meditação e tornava meu silêncio em vão.

DC

AAPVBT*- Alta Autoridade Para Vacas e Bois Tresmalhados

terça-feira, 24 de julho de 2012

SILÊNCIO INTERIOR



Como explicar o mundo que se gera dentro de nós quando estamos horas em silêncio? Vemos o mundo que gira e vive fora de nós como num filme em câmara lenta. Pensamos em tudo sem que aqueles que nos rodeiam se apercebam, ou sintam as nossas vibrações.

Por vezes penso será o mundo de silêncio dos surdos? Como viverão eles o dia à dia, sem os ruídos, que o nosso silêncio não tira? Nós temos mais propriamente mutismo. silêncio porque estamos calados. Silêncio, porque estamos atentos precisamente ao que ouvimos fora e dentro do nosso cérebro.

Há quem diga que o silêncio “fala”, substitui a resposta que se não quer dar. Se assim for não é silêncio, pois comunica-se algo nesse silêncio. O silêncio, silêncio a que me refiro, é aquele que não pretende falar, mas que é vivido por dentro de nós, e não existe som mas pensamento.

Sentimos um silêncio dentro de um outro silêncio do qual tememos o caminho para onde nos leva.

Só e silêncio, duas formas de estar perante o universo que nos rodeia, tentando a todo o momento passar para o outro lado desconhecido, que gera os sonhos e nos leva para uma outra dimensão, que não sabemos se avançada ou atrasada em relação ao presente. Navegamos sem mapa nem bússola de uns temas para os outros em nanossegundos. Sem nos fixarmos muito tempo num único assunto, vamos entrando numa espécie de transe.

Os ruídos são perfeitamente distintos entre si, como se uma orquestra com os seus diversos instrumentos produzisse uma sinfonia dentro da nossa cabeça. Um pássaro, o ruído de fundo da estrada, o barulho das pessoas nas escadas, conversas distantes das quais não estamos interessados, gritos e choro de criança, o frigorifico e o seu ronronar. se fecharmos os olhos quase sentimos o sangue a circular no corpo.


“ Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. ” Antoine Lavoisier

Assim é o nosso viver, seja ele de silêncios e emoções. A alegria de ontem a tristeza de hoje, a miséria de uns enriquece outros. O cérebro não pára o clique é constante, Sim a temperatura está agradável... não sei para que escrevo isto. se calhar ninguém está interessado no silêncio, ou no que eu penso sobre o silêncio... será que pensamos bem nos outros, nas nossas atitudes... quem são os outros que não tenho na equação...os amigos..sim existem.. embora distantes e nem sempre disponíveis... pois sim, mal me conhecia e julgava-me...será que conhecia...saudade, gostar...amar?... porque será que o António se pega comigo, serei eu o ranhoso o chato, se calhar sou...tenho de me corrigir...é bom por vezes não ouvir as mesmas pessoas...ah como é difícil conviver...conviver não é difícil a sociedade é que nos lixa..sim torna-nos egoístas a todos... um pouco.. olhamos mais para nós próprios...porque será que somos tão impacientes e não temos tempo para os outros???... a vida precisa do dinheiro como diz o outro “ o dinheiro não trás a felicidade mas ajuda”...a merda deste governo que nos deixa sem dinheiro.. lixa-nos a vida...os cabrões dos bancos é que se safam...tem de haver outra revolução....pois.. como será o silêncio dos outros, será igual ao meu, ou mais confuso, e será que têm estes momentos de silêncio... bem tenho de preparar o almoço...chiça sempre a mesma merda de rotina... e comer ouvindo na nossa cabeça o ruído dos talheres batendo, a boca mastigando e o vinho a ser sorvido, o cheiro dos alimentos.. quando comemos acompanhados não nos apercebemos...sim está cada vez mais complicado viver do salário..ou da reforma.. quando for ao médico terei de lhe dizer que falo de mim para mim, em silêncio... será que vai pensar que estou doido...estarei?... já nem sei...é tudo tão estranho...

Nesta rotina cerebral do silêncio, julgamos somos julgados, apreciamos analisamos e vivemos tudo e registamos num grande rolo de papel higiénico onde assentamos tudo e não sabemos se vai ter o mesmo fim para o qual o papel foi criado.

Será, que na manutenção do silêncio interior, conseguimos mudar e fazer discursos variados conforme o dia e a disposição ao acordar, ou fazemo-lo como necessidade de ir limpando sistematicamente todos os últimos pensamentos, como se de uma catarse intencional? Tudo fica registado no disco rígido do nosso computador cerebral, máquina infernal que deixa de fora tudo o que o incomoda sempre que é preciso, quando não acontece é grave pode resultar em loucura.

Este silêncio será um pouco como uma regressão, com visitas constantes aos diferentes momentos do dia, como pode ser ao nosso passado. Sim porque se herdamos dos nosso pais morfologias genéticas, o nosso cérebro também deve fazer o mesmo. O computador cerebral deve ter também o registo do passado de nossos avós, bisavós e por aí a diante. Daí dizerem que o nosso cérebro quando hipnotizado, ou em determinadas situações se “relembra”. Este assunto das regressões é divertido, porque a nossa cabecinha deve trazer à tona coisas do caraças. De certeza que não fomos nós que vivemos nesse tal outro tempo, mas sempre acredito que o registo no nosso cérebro traga ao de cima as tais memórias dos nossos antepassados. Às vezes até se diz: “Pareces o teu avô...”. Claro... lá está o meu silêncio a pregar-me partidas...a trazer-me ao caminho pensamentos perigosos.

Às vezes somos tal mal interpretados, é melhor de facto fechar a boca e deixar que os outros digam o que lhes vai na real veneta, enquanto nós, ficamos no nosso cantinho de silêncio esperando que tudo passe.

Nunca tinha pensado o silêncio desta forma. Será mesmo o silêncio ou a solidão? Dizem que a solidão por vezes funciona de modo positivo, para termos tempo de pensar nas asneiras, nas coisas boas que fizemos, dos passos que demos e os que podíamos ter dado. No fim meditar, não fixar o pensamento e olhar para o invisível, ou fechar os olhos e deixarmo-nos ir. Não, deixarmo-nos ir é perigoso, nunca sabemos o que iremos descobrir, o melhor é não chegar aí. O nosso cérebro avisa-nos, torna a respiração ofegante de repente e fugimos desse outro lado para onde nos sentimos ser arrastados.

Neste silêncio retiro, onde no meio dos outros, se está só, é-nos permitido ficar mais cientes de nós e encontrar as respostas que no mundo ruidoso que nos rodeia são difíceis de encontrar. Nem sempre, nem nunca, mas de vez em quando é necessário, a bem da nossa estabilidade física e mental.

DC

segunda-feira, 23 de julho de 2012

NA PRAIA COM MEU NETO


Hoje fui à praia com o meu neto e deliciei-me. A forma como me apareceu vestido de calções e t-shirt, boné na cabeça na cabeça, mochila às costas, preparadíssimo para ir para a praia, deixou-me de olhos brilhantes tal era a sua felicidade.
Na viagem, dentro do carro, começou a falar do tempo dizendo que o “dia tinha o sol bom”, que havia “outros de vento que num apetecia a praia”.

Chegamos, o estacionamento da praia estava cheio, manifestei em voz alta o meu temor de ter lugar para o carro, Ele dizia, “é temos de ter”. Encontramos um espaço já no extremo do parque e ele todo vibrante dizia, “vês vô eu disse, eu disse que arranjavas lugar”.

Em plena praia ao colocar-lhe o protector solar em spray, dizia-lhe para fechar os olhos, que ele fechava com força e depois perguntava “já posso abrir, já vô?”.
Depois foi um fartote de brincadeira, fugindo das ondas, rindo de satisfação com os baldes de água salgada – brrr fria — pela cabeça abaixo, a seu pedido, o gozo de encostar as mãos frias ao meu corpo. As suas mãos infantis enterrando-se na areia, agarrando-a atirando-a ao mar. Os seus gritos de alegria a correr para se molhar, vindo atrás de mim para me molhar atraiam o olhar das pessoas que sorriam com a sua alegria e que me deixava completamente “babado”, tal era comunhão entre nós.

Já na toalha os seus olhitos piscando pelo incómodo do sol, a mastigar bolachas, tinha um sorriso malandro ao questionar-me sobre as minhas preferências, para ele poder ficar com as que tinham mais açúcar, de vez em quando bebia um golo de água da garrafa, enquanto isso, eu olhava-o pensando como ele assumia entre nós uma atitude compincha e partilha.

Não pudemos regressar a casa sem que fossemos primeiro ao “nosso” Jardim das Sete Bicas comer um “geladinho” que ele fazia questão de saborear, ficando no final, como qualquer criança, com gelado espalhado por tudo o que é cara e mãos, acabando tudo no lavatóriO com muita água.

Foram duas horas de pleno gozo emocional. Determinando em mim a necessidade de manter vivo e activo, para aproveitar o mais que puder o desfrute de tais momentos e se possível deixar-lhe as melhores memórias para quando definitivamente ausente.

Mal saberá ele a satisfação que me dá sempre que pronuncia aquele “Vô?”

22JUL2012

O MEU ESCRIFALAR



Muito do que escrevi, escrevo ou escreverei tem rastos de vida, tem pele esfolada e ardência que causa dor.
Tudo o que os outros, de igual modo, escrevem para que eu leia, contribuem para o design do percurso das minhas palavras. 
Não há deste meu lado, a pretensão da linguagem e capacidade daquele que é escritor, somente escrifalar, do muito que a sensibilidade e observação sugerem, e, talvez pôr em palavras aquilo que por vezes a timidez ou outras razões nos impedem de fazê-lo de outra forma. 
De qualquer modo escritafar, seja de sonhos, cicatrizes, risos ou tristeza será sempre um modo saudável de catarse da alma e terá sempre o ADN de quem o faz.

domingo, 22 de julho de 2012

ODEIO ADJECTIVOS




Do meu amigo aqui transcrevo e assino por baixo.
A sua bem humorada explicação serve para que muitas pessoas aprendam um pouco de português e a estarem atentas aos dislates que por aí dizem. Aqui vai.


Odeio os adjectivos

Tenho um amigo que não perde um debate na Assembleia da República ou uma audição numa qualquer Comissão Parlamentar.

Diz-me que se enerva neste jogo sujo das direitas contra as esquerdas, mas que de tanto matutar no que vê e ouve, arranja ao fim de algum tempo uma melhor resposta ao que o enervou. De treino em treino, apurou um sentido crítico, não raras vezes bem humora- das. Adepto do Eça de Queiroz(quem não é) e das suas “Farpas”, que lê repetidamente e cita á exaustão, diz que se estivesse na A.R. usaria o humor mortífero para cilindrar o adversário. Quando na conversa concordei que uma boa laracha liquida mais que um argumento ideológico ou um juízo macro-económico qualquer, retorquiu-me que só não o fazem por falta de cultura.

Dei-lhe toda a razão.

Saber dirimir sintacticamente torna-se uma arma terrível na mão de alguém de cultura, como se torna uma arma assassina do próprio, se a massa cinzenta de que dispõe for de segunda escolha.

Veja-se António José Seguro a responder aos jornalistas sobre a posição do PS no voto a dar sobre o O.E. :

- Abstenção Violenta.

Como é de calcular entrou de imediato para o anedotário nacional.

Ao adjectivar a abstenção Seguro julgava dar uma imagem reforçada da posição do PS.

Se soubesse um pouco mais da língua que tão mal fala saberia que o adjectivo, traz sempre água na bico ou seja é para disfarçar uma mentirita.

Exemplos:

Democracia liberal; Democracia financeira; Democracia ocidental; Democracia muscu- lada etc pois estaria aqui até amanhã a adjectivar a desgraçada da Democracia.

Democracia defini-se por ela própria; se adjectivada deixa de o ser. E ainda por cima esconde uma aldrabice.

Adjectivar não é aditivar, é travestir a mentira para que os mais incultos ou lorpas sejam levados á pincha.

RVJ

INTIMIDADE



"Hoje declarei em casa de uns amigos que a maior prova de amor que um poeta pode dar a uma mulher é a sua intimidade. Escrever versos diante dela é qualquer coisa como parir com um Cristo à cabeceira da cama."

Miguel Torga
Fonte - Diário (1936) Tema - Poeta

sábado, 21 de julho de 2012

LEMBRA DE MIM - Ivan Lins

Um dia as palavras foram ditas e não tiveram eco do teu sentir,

Lembra que foi ele que te deu a mão no correr das ruas. Que te passeou na lonjura do rio, te confortou no areal do mar.

Lembra a sua voz, que na distância foi conforto, e te acompanhava no caminho em que fugias do silêncio.

Fica-te com a memória do acordar, das suas carícias na tua pele, e do afagar de teus cabelos, que nunca retribuíste.

Saboreia o cheiro das árvores no jardim em que foste a flor mais apreciada.

Agarra nas imagens roubadas no melhor de ti e olha-as pensando no que nunca destes, mas em ti foi buscado.

Se depois disso tudo ainda não souberes como se constrói o amor, então terás de reciclar o teu mundo porque não sabes dar-lhe o valor.