terça-feira, 1 de abril de 2014

AO MUDAR DE MANSINHO




A nova hora entrou de mansinho, estava eu apreciando imagens fotográficas, de repente olho e vejo as horas no relógio no monitor do computador, Uma hora adiantado em relação meu relógio, Fiquei confuso, pensei: “O relógio avariou...?”, Afinal, foi somente a mudança da hora.
Há tanta coisa que acontece de mansinho, inesperadamente, Como o silêncio da noite que entrou também de mansinho sem eu aperceber o quanto dominava o meu espaço. De mansinho como as imagens que ia observando atentamente, apreciando seu critério e qualidade, Eram imagens de quem fotografa de mansinho, apalpando terreno, temendo o juízo que possam fazer sobre elas, no entanto demonstravam, o gozo, o prazer de captar para dentro da máquina aquilo que seus olhos e toda a sua sensibilidade pretendiam reter de modo menos efémero. Fotografar é uma prazer, que de mansinho se vai acumulando dentro de nós que nos torna quase frenéticos e potenciais viciados, quando com uma câmara fotografia na mão. Nada escapa ao escrutínio do nosso olhar, tentando sempre, de modo diferente, dar um ponto de vista inovador das coisas comuns, com que todos os dias nos deparamos. Ainda há quem pense que a fotografia não é uma arte e disso faça discussão, Eu por mim diria que será talvez a oitava arte, mas quem sou eu....

DC

quinta-feira, 27 de março de 2014

A CASA AMARELA



Na Casa Amarela estava contido o sonho, o projecto. Simples na arquitectura, na dimensão intimista, nela a esperança de que voariam, Mesmo não sendo verde, seria um atravessar da ponte para outros destinos. Valeria a pena carregar a mochila e trazer os tarecos, para a encher de gente de risos e gargalhadas, Seria a proximidade desejada, o retorno à origem.


A
Casa Amarela foi ocupada, antes que o vento da novidade chegasse. Não se sabe por quem, mas de certeza alguém, que sem saber lhes roubou as gargalhadas e o projecto, ficando com o verde do jardim, com mais esperança que o amarelo das paredes da casa que os iluminou.

Hoje pensam, se seria a
Casa Amarela suficiente, para que o projecto se realizasse.

Não seria de certeza uma casa amarela que se perdera, que os impediria atravessar as pontes e chegarem ao porto seguro, em que se diziam recolher. Ter um gato, um lugar para dormir, um sol ao acordar e um mundo de coisas a descobrir, não depende de uma casa amarela, por muito que nos dê calor, Sempre poderiam pintar com o amarelo do seu contentamento, se o desejássem, uma outra casa qualquer, Ou comprar uma tenda amarela de cinco quartos...talvez até uma simples barraca pintada à cor, qualquer solução seria suficiente, para que o gato ronronasse, a criança brincasse e a lua nela entrasse iluminando de amarelo as quentes noites. Isto é, "se eles quisessem" nem o peso das mochilas, nem dos tarecos, atrasariam o atravessar das pontes, nem o amarelo seria cor suficiente que os impedisse de realizarem o seu projecto.

Não conseguir uma
Casa Amarela, pode ser um aviso à navegação sem bússola, a descoberta de uma outra realidade, a necessidade de encontrar mais tempo, mais cores, e descobrir-nos a nós próprios. Uma vida não se decide por um objecto e sua cor.


DC

SET.2013


COMO FOLHA CAÍDA...




Nos outros olhares
Só vejo teu olhar.


Nas vozes que passam
Só a tua voz escuto.


Entre todos os cheiros
Distingo o teu cheiro.


Nos corpos circulando
E é o teu corpo que vejo.


Nos pássaros que voam
É tua liberdade que desejo.


Em tudo o que acontece
És tu que permanece.


Como folha caída,
Envelhecida pelo Outono,
Adubando a terra
Neste inverno da vida.

Sou árvore ao abandono,
À espera da Primavera.

DC


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quarta-feira, 26 de março de 2014

O que esse BEIJO SIGNIFICA




É tanta a saudade
do nosso beijo.

Esse beijo sinfonia
Que nossos corpos
enlouquecia,
Beijo que se prolongava
Contrariando o tempo
Que escasseava.
Nos beijávamos
A toda a hora,
Como amávamos.
Sem cansaço
Nem demora
No seio de um abraço.
Entre o beijo de partida,
e beijo da chegada,
Tu beijavas eu beijava
Beijos com calor,
ou ternura.
Beijo da nossa loucura
Beijos de nosso amor.

O que esse beijo significa...

DC

segunda-feira, 24 de março de 2014

Os teus objectos


 
Não os guardo como troféus, ou suporte de memória, nem como objectos perdidos, Quero querer, que o acaso os deixou, largados inadvertidamente. São objectos com o valor das emoções e de pertença, que fazem no seu existir, a tua existência.
São objectos com vida, com cheiros, de diferentes texturas e cores, que contam diferentes histórias, como livros sem palavras, Histórias recriadas e todos os dias saboreadas conforme o momento e o tempo que agora decorre.

DC

quarta-feira, 19 de março de 2014

AMOR SENIOR



Quem passasse por mim, naquele momento se aperceberia que alguma coisa se passava, No meu rosto se veria um sorriso de ternura e nos olhos um brilho especial. Não era para menos. Eu próprio, acabara de ver algo, que me tinha perturbado e trazido à superfície uma série de emoções e interrogações.


Ele um homem a rondar os setenta anos, alto, magro, roupa desportiva, boa figura, um rosto afável, com uma “perinha” no queixo, óculos graduados semi-escuros, com uma testa prolongada pela calvíce, um autêntico Sean Connery, Ela parecendo ter idade semelhante, baixinha a rondar metro e sessenta, vestida de saia casaco cinza escuro, blusa branca, sapato meio tacão, enfim, sobriedade e cuidado no vestir, rosto bem marcado pela idade, mas ainda com traços de beleza, e acima de tudo. revelando uma ternura imensa no sorriso que sublinhava o mexer dos lábios. Ambos de cabelos brancos, Ela falando e maneando a cabeça, e ele ouvindo atento.


O que me fez ficar enternecido, foi aquele caminhar, um ao lado do outro, de mãos dadas, firmes, como penduradas uma na outra, para que nada as pudesse separar. Passava por aqueles dois um sentimento diferente do comum, Não havia o ranço da idade, nem a relação dum casal, já há muito perdido do que os unira, pelo contrário exalavam um perfume de eternidade. Já não era o amor físico que os unia era algo mais profundo. Um amor completo, O que me afectara positivamente, e me provocara uma inveja salutar, foi aperceber-me da beleza de tal sentimento, que sobrevivia muito para além da estética dos corpos.


Olhá-los, fez-me lembrar o que escreveu Walter Riso no seu livro, Saber Amar.

DC

“Não somente és o “meu amor”, o que é compreensível e até lógico porque te amo, mas és alguém mais fundamental, mais próximo, mais “phílico”: és a “minha companheira”. Companheira de quê? De intimidade, de vida, de sonhos."


“Não apenas te desejo, não apenas a tua companhia me alegra, mas nasce em mim o desejo de cuidar de ti, com sossego, sem obsessão, sem apego.”


- Philia" (em grego: "φιλíα" transliteração para o latim:"philia") retirado do tratado de Ética a Nicômaco de Aristóteles, o termo é traduzido geralmente como "amizade", e às vezes também como "amor". Embora de fato o uso deste termo é muito mais amplo do que o primeiro

segunda-feira, 17 de março de 2014

INTIMISSIMO



Ouço a música, o acordeão desperta o tango na minha alma, trás o cheiro intimíssimo, com que te banhas para mim. A guitarra fala colocando seus versos na minha boca, que desenha hipérboles em teu corpo, onde, naufrago exausto, procuro porto seguro.
Cada momento é um passo da dança que desenhamos
para nós, e a música vai correndo, silenciando o mundo, deixando-nos a sós com o murmúrio de fundo dos nossos desejos.

DC