terça-feira, 30 de setembro de 2014

OLHANDO A FOTOGRAFIA



Para que a noite não chegue,
tirando o sol ao dia,
parei o relógio do tempo,
olhando tua fotografia..


dc

A VOZ ERA A DELE...


Amanhecia e a rotina desde logo se instalava, tomava o comprimido obrigatório e um copo cheio de água que bebia na totalidade. Depois enrolava-se em posição fetal, fechava os olhos e deixava-se ficar.

Todos os dias um caminho diferente, a levava para longe daquele lugar, ficando muitas vezes sem saber, se estava a pensar, ou se era o sonho que a estava a comandar. Via-o sem rosto, sem forma física definida, só sentia o seu cheiro, o calor que a aconchegava quando perto de si se deitava, sentia a suavidade dos dedos no seu rosto, ou dos seus lábios macios percorrendo as pálpebras dos seus olhos, como uma brisa de estio. Sentia a emoção, não no cérebro, mas no corpo, na respiração, e nas batidas do coração. Era tal o encantamento, que se sentia numa espécie de nuvem de algodão doce, fofa e apetecível, que sabiamente saboreavam. A sua voz acompanhava cada carícia, quente melodiosa, humedecendo seu corpo de uma forma gostosa. Deleitava-se, numa sensação reconfortante, tão inexplicável, Dois num só em osmose perfeita, fora das coisas do mundo. Para ela, o amor, era como aquilo que sentia, ou, pelo menos, o desejo de que assim fosse, naquele nascer do dia.

Sonho ou pensamento, era tudo intangível, como tudo o que naquele espaço de tempo vivia.

O telefone tocou, era ele que ligava, acordando-a, Ela ficou sem saber, se o pensamento a atraiçoara, ou se o fora o sonho que acabara. A voz era dele, mas todo o resto era seu.

DC

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os MUROS EXISTEM




Os Muros existem

Na política das nações,
Muros da mixórdia
e da discórdia
ou isolando populações.
Uns de betão, outros de arame farpado,
espalhados por todo o lado
Muro do México, de Israel
Muro de Belfast, de Berlim.
Muros cuja a existência forçada,
estabelecem como fim,
ter gente amordaçada.
Muros que são de morte
para tantas gentes exiladas.
Muros em existências veladas.
onde se mata a sangue frio.
Muros feitos por quem governa
nas sociedades modernas,
como no tempo da cavernas.

Os Muros existem

Com grafismos ou imagens,
lembrando coisas sérias,
ou dizendo algumas lérias.
A uns lhe chamam grafitis
a outros pichagens,
uns o vazio decorando
numa liberdade sadia,
outros o povo mobilizando
na defesa contra a tirania.

Os Muros existem

No mundo das emoções,
nas palavras e suas metáforas.

Muros de ruídos, ou de silêncios,
Muros de indiferença,
de indecência, de violência.
de raiva ou de paciência.
Muros no sentimento,
na dor e na saudade.
Muros de encobrimento
da própria verdade.
Muros de alegria
Muros de húmus
Muros na liturgia
Muros e mais Muros
surgindo todo o dia
Muros em faces fechadas,
de pessoas ignoradas.

Enfim, os Muros existem.

Por esta ou aquela razão,
dos visíveis aos invisíveis,
de arame farpado ao betão,
do grafismo às imagens,
das ideias à sua forma,
são tudo muros construídos
como plataforma,
ou expressão de poder.


Se mundo não evoluí

se o povo não se defende
e se torna solidário,
os “senhores”, constroem Muros
com a mão de obra do operário,
E todos os outros Muros
que se constroem,
não físicos, ou visíveis
também contribuem
para que o Homem não seja capaz
de construir um mundo
onde se possa viver em paz.
DC
Nota: Interessante ver o trabalho do fotografo Alemão Kai Weidenhöfer
Barreiras de concreto

domingo, 28 de setembro de 2014

Graffiti O VÍRUSsss



Estas imagens fazem parte de um graffiti que decora um muro duma zona residencial, da cidade de Matosinhos, distrito do Porto, onde estão congregadas várias cooperativas com alguns milhares de moradores.
Como sempre, os seus executantes funcionaram de forma independente, sem limitações de criatividade e sem tabús sociais, culturais ou políticos, e reflecte a sua preocupação na marcação do espaço com os seus “tags” marcando e expressando as suas ideias. Para os moradores, que conseguiram obter a sua habitação, só após o 25 de Abril de 1974, através da cooperativa, a mensagem resulta para uns, como objecto decorativo, para outros como expressão política da voracidade capitalista, como vírus que devora a vida de quem trabalha.
O tema talvez pudesse ser mais alegre e adequado ao espaço social, onde está inserido, no entanto resulta de forma bastante expressiva através da cor e do desenho marcado e vigoroso, funcionando como um grande tela que preencheu o espaço vazio e frio outrora existente.
Também ao contrário do que é comum, foi feito com autorização legal, fugindo do cânones habituais dos grafiteiros, que quase sempre produzem de forma clandestina,

DC


Nota: Lembrei-me de celebrar com este vírus, a celebração da vitória das forças democráticas sobre os que queriam fazer regressar ao poder, um fascismo de "cara lavada" o 28 de Setembro de 1974

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Emoção presa à máquina

 

O paciente teve um acidente, ao fugir do enredo das emoções que o sufocavam, estava em franca recuperação quando de repente foi novamente vítima de um ataque súbito. Reanimaram-no, deram-lhe doses de palavras, como a esperança e outras ainda mais motivadoras, no intuito de o salvar, até transfusões de emoção, Tudo parecia estar a correr bem, De repente, o paciente abriu os olhos e observou que tudo mantinha como outrora, as frases tinham aparência, mas nelas a emoção tinha morrido. Fechou novamente os olhos e caiu em coma profundo, ficando ligado à máquina.


O seu par, com alguns anos de vivências comum, foi aceitando diferentes opiniões de especialistas a charlatães, e por vontade própria, aproximou-se do paciente e agarrou com força na sua mão, mas não conseguia articular palavra, pois como figura habituada à conversa de silêncios, sabia-se ineficiente para dar as emoções que já não tinha.


A máquina marcava o ritmo das respirações, alimentava, mantinha o corpo como um vegetal, aconselhava o bom senso, preparar-se para o pior e perder a esperança, só era necessária a força para tomar a decisão de desligar os fios e deixar que se apagasse fisicamente.
As emoções, essas ficariam do lado de fora, vivendo o luto e o síndroma de viuvez.

DC

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

VIGILANTE, bem no TOPO....



..... não mais no mastro do barco.
Agora na beirada do edifício, “os tempos são outros”, o mar está deserto de alimento, tudo virou supermercado, só resta esperar de olhos bem atentos a hora de descer em voo planado e apanhar a presa que sobressai no contentor. Os produtos frescos na chegada do barco desapareceram tudo se torna congelado antes de chegar a terra.


Olho o mundo esperando que a tempestade amaine, que o Homem acorde e se aperceba o que está perdendo.

Vão-se escasseando as alegrias do planar, quase imóvel, lá no alto dos céus, o nosso grito já não anuncia boas safras, os valores referência tornam-se voláteis.


Nos dias de hoje respira-se o ar viciado das cidades, somos predadores de coisas raras, as referências vão-se diluindo. É urgente despertarmos da letargia, se não, mais dia menos dia, voamos orientados por via satélite, sem vontade própria, seremos os “drones” de uma minoria privilegiada da sociedade.


DC

terça-feira, 23 de setembro de 2014

TEMPO PARA VOAR



Todos os dias, arranjo aquele tempo precioso necessário ao voo, sei que se não fizer essa viagem tudo se tornará penoso e a sensaboria se apoderará de mim.
Escrever é uma das formas de eu voar, sem a pretensão de estilo e inteligência do escritor, sem a riqueza vocabular do seu saber, sem a precisão das suas pontuações e conjugações correctas, Faço-o mais ao jeito da emoção e do ouvido. Deixo simplesmente as palavras partirem, saírem de mim, para que voem livremente e possam encontrar outras parcerias na viagem. É uma espécie de catarse, que vai depurando a mente, as emoções e, ao mesmo tempo, tentar descobrir nas entrelinhas respostas, ou, pelo menos, o prazer da escrita.

Assim resta sempre a esperança de encontrar a tal “saída satisfatória”, de voarmos com a s nossas asas sem medo de nos tornarmos um Ícaro. Asas que não usam cera, mas a paixão a crença e o pensamento carregado dos sonhos de todos os dias e de todos os tempos, mesmo quando, por vezes, fechados na cave escura da sociedade onde vivemos.

DC