sábado, 12 de agosto de 2017

SE o amor existe





Difícil esquecer, o contorno que te delimita perante o espaço, Tens uma forma própria, que me faz reconhecer-te facilmente no meio da multidão, Nem preciso te ouvir falar, sentir o teu cheiro, ou ver os teus olhos. Tu tens o desenho que as minhas mãos tactearam e fizeram memória em mim. 
A distância é insuficiente, e a ignorância não afecta, se temos a consciência de que demos o melhor, sem perda de dignidade e valores. No meio do nevoeiro, se encontra a estrada, por isso a viagem tem de ser feita de cautelas, com pausas e regras seguras. Se o amor existe ele se manterá independentemente das vicissitudes da vida, no SE está a diferença.

dc

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Uma pegada no areal do sul



Há sempre uma pegada nas nossas vidas, uma marca de registo da nossa passagem por algum lugar, ou alguém.
Deixamos pegadas no chão da casa de banho, no ladrilho ou na toalha, no mosaico da cozinha, na alcatifa, no areal da praia e do rio, na beira da piscina, na mata, na relva do jardim, na terra húmida, no cimento fresco do pavimento, no alcatrão. Feitas por pés descalços, calçados com sapatos, com meias ou sem, de sandálias, chinelos, Umas mais leves, outras mais profundas, sempre fica essa marca de passagem, que nos identifica como seres humanos. Há pegadas que ficam dentro de nós, ou dentro de outros, no coração, na pele, na mente, na vida e seus dias. Há momentos que as pegadas repetindo caminhos, desgastam a superfície que pisamos, nos desgastam a ira, a impaciência, o pensamento, as ideias absurdas, os maus presságios, o procurar soluções.
Tantas vezes percorremos o chãos, passeando impacientemente tentando acalmar e descobrir, o por quê, dentro de nós, que quando nos apercebemos, as arestas agressivas já foram alisadas, a razão da nossa caminhada já se encontra longe, e só pensamos em dar seguimento ao que de bom fizemos ou ainda queremos fazer. 
Tudo tem solução só a morte é inevitável. Ponderar faz-nos amadurecer e é a forma de encontrar o rasgo que nos permite ser agéis na circunstância.
O caminho faz-se caminhando, o destino que queremos será o menos importante, se soubermos aproveitar e enriquecermos o que somos nesse caminhar.

dc



domingo, 6 de agosto de 2017

Desfiz-me do tempo





Desfiz-me da hora para não contar os minutos e perder segundos.
Desfiz-me da hora para que não seja certa, para não contar horas de apego,
minutos de tristeza, segundos de desassossego.
Não quero olhar os relógios sejam eles de sol, de pêndulo, de sala de parede, de pulso, da estação, do restaurante, do aeroporto, do tablier do carro, do forno, do microondas, sejam analógicos, electrónicos, digitais, minúsculos ou maiúsculos. Muito menos relógios que marcam diferentes horários de acordo com os respetivos continentes onde estão.
Recuso-me a medir o tempo que decorre, que me perturba, me acelera e me angustia. Quero que o tempo seja demora, para que a noite seja mais longa e que o amanhecer dure uma eternidade, tendo-te entre meus braços. Não quero um medidor de tempo que me rouba as horas de ti, me impede de te ver pausadamente, de saborear cada momento contigo. Recuso-me a olhar um relógio que me tira o tempo, que me rouba as horas de viver, os minutos e segundos encurtando os poucos momentos que temos como nossos. Os medidores de tempo enganam, quando te espero, as horas minutos e segundos duram eternidades, quando te tenho junto a mim eles correm a levar-te para longe. Quero-te sem medir o tempo, para sempre, como as coisas boas devem ser. 



dc

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Oiço Vozes




É difícil calar a voz que dentro de mim deambula, dando voltas repetitivas para que não saia a destempo. Tem entoações várias de acordo com os sentimentos, as emoções, os julgamentos que faz, por vezes aconselha-me, outras manda-me à merda, Fala com a minha voz e a de outros, como se de uma conversa cruzada. Uns dizem que devo estar esquizofrénico, ouço vozes, outros dizem.. mentira, não são os outros que dizem, é a tal voz que me segue. Sou um felizardo, tenho uma voz que fala tipo ventríloquo e me acompanha. Nem sempre a melhor conselheira, anda para cima e para baixo, parece não querer que o mutismo me tome. Dizem, lá estou eu, ela diz que é a voz do senso, da ponderação do pensamento procurando a forma certa de se ouvir. Na verdade enquanto ela fala eu calo-me para o exterior e permito que os outros falem, digam de si, mais do que alguma vez o fariam, se eu deixasse que meus lábios se abrissem para falar.
Hoje, aquela voz mais intima, falou-me de forma especial, aconselhou-me a escrever o que eu pensava, pondo em palavras o que as vozes diziam, deixando que livremente se registassem, Sugeria-me assim, libertar o silêncio de forma saudável dentro de mim, com a possibilidade até, de mais tarde, poder lê-las e meditar nos seus significados. De veras prefiro não as escrever, não gostaria de dividir com toda a gente os meus pensamentos, prefiro a reserva mental, fazer sozinho a catarse tentando descobrir o melhor e o pior de mim, ou dos outros. E depois o que seria, sem a guerra do raciocínio, do pensar intenso, da vivência das emoções, do avanço e retrocesso, da efabulação, da mentira criativa que alimenta as nossas estórias? Certamente ficaria triste de perder esse diálogo interno, e até correr o risco, de que esse famoso alemão “Alzheimer” me visitasse.

dc

"precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, não criticá-la, não usá-la."

(michel foucault)


terça-feira, 1 de agosto de 2017

E tu aí...




.... longe sem tempo para viver a oferta única, do hoje que tens, hesitante, vivendo uma vida desbotada, rotineira, temendo mais do que vivendo, jogando no tabuleiro das obrigações de circunstância e no trabalho imposto em idade de descanso.
Sim, eu prefiro, eu quero sentar-me neste silêncio que adivinho.
Sim, quero sentir a ancestralidade do lugar, agarrar os cheiros que me envolvem.
Sim, quero olhar o horizonte que me trás o sol que preciso, os prados que me acalmam.
Sim, quero reavivar memórias, que trazem vivências, rostos familiares, corpos amados.
Sim, lembrar as mesas, onde a comida servia de pretexto para juntarmos em conversas vivas, em gargalhadas sonoras em olhares doces, condescendentes amorosos.
Sim, quero ler dos amores, dos dias de felicidade, das corridas contra a brisa que me chega, com os sonoros cantares dos pássaros.
Sim, é só uma imagem que me trouxe, colada a si, os cheiros da terra, o ruído dos pássaros, as vozes sentidas, as conversas, a nostalgia de que o tempo nos escorre pelos dedos e tanto há para viver.


dc

terça-feira, 25 de julho de 2017

amores quase perfeitos




Ele, mais do que tudo na vida, tem estação própria para surgir, empolgado, vivo, cheio de energia, capaz de fazer ultrapassar todos os obstáculos, Sobrepor-se às incertezas, às dificuldades e, percorrendo caminhos e distâncias sem temor.


Rompe pelo meio dos nadas, cria brechas intermináveis, alimenta-se do sal da terra, e floresce em cores brilhantes e variadas. Mima os olhares, com as suas cores e formas harmoniosas, dá alma aos jardins das emoções.

É sempre tempo de vi’vermos um amor quase perfeito.

dc