Desassombradamente, olho-te nos olhos, sem resposta. Estes claramente abertos. Observo, teu rosto atento olhando o vazio em frente. Tua boca faz um trejeito pretendendo ser um semi-sorriso. Sentada, as pernas dobradas fazem uma perpendicular entre si, as mãos se cruzam à sua frente, aguentando a pose, como uma forma de guarda ao teu interior.
No silêncio harmonioso que compões, difícil é entender o por quê, dessa forma de mostrar. Dessa forma de dizer, “eu estou aqui, mas não estou". Dou-vos o invólucro, não a alma. Dou a resposta à vossa procura, mas não sou a vossa procura. Daquilo que eu sou, só vos resta a captura de um momento, em que fugazmente fui registo.
Depois...depois não existe depois, só o agora de cada momento que tu desse lado de “voyeur” que procuras almas perdidas na lonjura das madrugadas, e te deparas com outras, para ti, menos afortunadas.
Demoradamente penso, fico-te observando, tentando descobrir que parte de ti está amando, ou se estás brincando, com quem te olha chorando porque te procura não te encontrando.
Não sei o que resta depois do momento, em que deveras posando, preencheste um espaço de tempo, sem saberes, que te mostrando, alguém no escuro da noite te foi amando
Sim, já era altura de saber como é. Eles correm em passos miúdos, de mão fechada, olhos fora das órbitas, rostos profundos, indescritíveis. Conforme chegam partem. Na mão que chega fechada, com a míngua das moedas, agora, do mesmo modo fechada, transporta o seu sol momentâneo. Dentro, daquele espaço pequeno, da sua mão fechada, leva a cura para os tremores e os suores frios, que ausência prolongada, provoca.
O caminho até ali, foi feito de pequenos furtos, caseiros inicialmente, agora já fora de portas, ao primeiro incauto que apareça, à mão de semear. Foi-se-lhe a vergonha, ou valores, morais, sociais, se alguma vez os tivera. Não tem família, tem os amigos do vício enquanto eles o ajudarem no prolongamento da agonia, porque se não…até esses desaparecem debaixo do fio da navalha. Já não são os seres humanos tal como os conhecemos, são uns híbridos, que vivem entre o cá e o lá, e é nesse lá que têm de viver, não por vontade própria, ou porque o queiram, mas porque o regresso já não tem horizonte próximo.
A mão continua fechada, e desesperadamente ele olha o chão procurando seringa, ou um pedaço de papel prateado, onde possa preparar o “medicamento” para as ansiedades. No primeiro vão de escada, ou lugar, mais ou menos escondido, serve, e quando não, encostado a uma qualquer porta, perante quem circula. A necessidade é quem mais ordena
Não se consegue apurar na maioria dos casos, como chegaram ao fim da linha. Sabe-se que de repente, eles se tornam agressivos agitados, sebosos no descuido, no vestir, no lavar e no comer, se é que comem, porque papo-seco, limão ou laranja são alimentos privilegiados. São os passos miúdos, os olhos com um brilho zombie, as olheiras profundas o cabelo desgrenhado, a roupa sebenta, o carapuço enfiado na cabeça, qual desportistas, onde parte do rosto se esconde, e o frio que se instala da ressaca, se atenua. Quem circula no espaço próximo da sua existência, já lhe conhece os tiques, os lugares que frequentam, e a pressa que levam nos passos para o caminho de nova toma.
Há quem diga que são razões de ordem psicológica, falta de afectos, no entanto se os afectos foram muitos, morre de excesso. Outros dizem que são os desgostos de amor, mas nunca foram tão amados.
Há quem diga que começou numa brincadeira, numa qualquer festa, num qualquer lugar. Outros dizem começar pelas leves para experimentar e se acaba nas pesadas e no vício.
Há quem diga ser luxo de ricos, mas isso, se no passado seria verdade, agora é mentira, porque são os pobres os que mais consomem.
Há quem diga que a falta de trabalho, o desemprego, a miséria vivida os arrasta para esses caminhos.
A verdade é que depois de começar, já nenhum deles quer saber ou se preocupa como começou. A realidade é crua, eles são uma arma que cria assassínios em causa própria e bandidos de causa alheia.
Ninguém fala dos pais distraídos passando ao lado do crescimento dos seus filhos, nem da benevolência excessiva dos adultos, ou outras questões que se prendem com o berço de valores das famílias que com as modernices, cada vez mais se vão perdendo.
Ninguém comenta, uma sociedade com mira no lucro, fazendo dos que trabalham escravos modernos, e tornam os pais ausentes sem tempo para a família, ou para si próprios.
Ninguém comenta as horas intermináveis de telenovelas de conteúdo duvidoso, os filmes agressivos, a passividade perante as injustiças. Ninguém acusa a manipulação do espaço visual em defesa de causa própria e com fins menos sérios. Até há quem defenda o “boom tecnológico” esquecendo que sem cultura, não existe evolução, mas sim conhecimento na base de colagens.
Não sabemos bem das razões, ou das motivações, mas é verdade que nem sempre é por falta de aviso. Sabemos todos, que é uma desgraça completa, aproveitada para se fazerem fortunas fáceis. Consta-se que cerca de 35% do dinheiro, que anda por aí a circular sem controlo é proveniente desse flagelo e que sem ele os governantes não conseguiriam governar.
Sabe-se também, que aqueles zombies, que alguns dizem humanos, andem por aí, tornando difícil a vida de quem trabalha, e estragando a paisagem, já de si deficitária, da nossa sociedade. E alguns recebendo subsídios, que não dão a idosos e reformados.
Ainda há gente defende a liberdade do uso, e que as farmácias funcionem como fornecedoras, ou seja, legalizando o absurdo.
A sociedade do caos organizado, é conveniente, para quem explora. Permite o medo, cria medidas mais repressivas e distraem-nos a todos nós de outros problemas graves. Esta é a sociedade, que dá perspectivas aos pobres de serem ricos, mas como diz o outro " De boas intenções está o mundo cheio"
Continuava a vaguear perdido na noite.
Circulando à volta da mesa, caminhando madrugada dentro, na dissertação matemática, entre distância e silêncio.
Carregou teclas, deletou, recomeçou, novamente escreveu palavras construindo frases, frases cheias de ideias, de emoções. Distância, silêncio, pausa, tempo. ligadas a emoções e a razões. O espaço da folha tornava-se cada vez mais branco, e mais difícil encontrar as palavras adequadas, para descrever o que sentia.
Perdia-se sem descobrir a razão
Pensava na raiz quadrada, na medição do som, ele não via nada que alterasse a sua emoção. Bebia chá, comia bolachas e a noite decorria, sem a calma chegar, na sua procura matemática não sabia por onde começar. Se na noite ou no dia que estava a chegar.
Continuou a vaguear perdido na noite.
A palavra saudade, surgiu na equação, e tudo mudou, saudade, não é objecto de amor, é medo, perda, sentimento de distância e silêncio. A resolução da incógnita não se encontrou.A explicação não chegou.
No silêncio da noite ficou
Os meus dedos percorrem o copo grande, de pé alto, bojudo, adequado ao vinho tinto. Enquanto o faço as memórias ocorrem-me. Vejo um boca de lábios cheios, sorvendo e apreciando o vinho, a cabeça inclinando-se, o copo a ser pousado sobre a mesa e de seguida o sabor do vinho na minha boca.
Os dedos desenhando o copo, lembram-me aquela manhã de domingo... os meus olhos moldando o teu rosto, deslizando pelos teus olhos fechados beijando as pálpebras, acariciando o teu nariz, beijando a tua boca levemente saboreando os teus lábios cheios. depois descendo observando o teu peito, percorrendo as curvas do teu corpo, com pequenas paragens, provocadoras, no ventre liso, afagando-te as coxas roliças, sentindo, como se a tu pele estivesse em mim.
O sol, tinha o poder de te realçar sobre os lençóis e a vontade de te beijar foi mais forte. Não queria que acordasses. Queria sentir-te, ternura. queria pousar meus lábios, tão levemente, na tua boca e em teu rosto. como se te embalasse, no sono. que o teu sono me deixasse espaço. sentir o calor da tua pele nos meus lábios. te guardar dentro de mim como um segredo. Quando acordasses. sorrindo com a leveza das borboletas sobrevoando a flor. com os olhos enlevados, maliciosamente doces. em voz suavemente enrouquecida, dir-me-ias do teu sentir. algo tão estranho, tão bom e inexplicável, como se o amor fosse assim explicado.
Eu, no segredo, radiante, saborearia, cada letra cada palavra, e guardaria o meu segredo tão fundo para que nunca se perdesse na realidade crua dos outros dias.
DC
Indecisa, pensei se um dia divulgaria esta “estória”. Eu senhora casada e mãe. Até cheguei a pensar da opinião dos meus próximos. A minha racionalidade e emoção em dose quanto baste, me apontou o caminho. Afinal porque ter medo de falar de mim, de um acontecimento, que no fim reflecte uma passagem do meu tempo. De emoção e de prazer. de paz e bem estar. sem marcas tão fortes que o me tivessem impedido fazer futuro. Anotei, que valeu a pena. mesmo curto. mesmo sem passar do enamoramento. ternamente saboroso. sim repiso. vale a pena contar a estória.
DE MEMÓRIA COM TERNURA
Uma estória com a simplicidade das coisa vividas.
aamr.
Conhecemo-nos na roda de colegas de estudo. A partir daí comecei a apreciar-te à distância. Quando nos víamos no café, eu sorria-te de longe, enquanto beberricava a minha cerveja. a minha bebida preferida naquele tempo. Não me ligavas, os teus olhos ficavam mais atentos à minha amiga. esta já me tinha descrito, tudo o que sabia de ti, e desmobilizava o meu interesse. Não teve muita sorte, pois o seu namoro foi curto e nós pudemos conhecermos melhor. Não sei se te recordas de sairmos das aulas, perto das vinte e três horas, e caminharmos pelas ruas de mão dada. Tu eras um homem alto, fisicamente bem constituído, com algumas brancas nas têmporas o que te davam algum charme, davas-me uma sensação de segurança, aquelas horas da noite. Eu uma minorca magra que quase não se dava por mim, com os meus botins pretos, com tacão alto para não desaparecer a teu lado. Preferíamos caminhar, para podermos conversar. tendo tu que fazer um desvio razoável para me acompanhares e aproveitarmos o jardim, enorme, da Rotunda da Boavista, para nos sentarmos. algumas vezes em teu colo, como dois adolescentes, enquanto trocávamos, palavras, falávamos de arte, dos estudos, de nós, entrecortando beijos, mimos e sorrisos. Era uma espécie de tertúlia a dois. Quando a hora já aconselhava, deixavas-me à porta de casa e eu na distância do jardim da entrada, até o passar da porta, me ia despedindo.
Motivavas-me a escrever poesia ilustrada com manchas de cor, que eu te oferecia. Aceitavas a oferta, lias rapidamente, talvez por educação, mas tenho dúvidas que alguma vez lhe tivesses dado a importância que eu esperava.
Perdi-me em ti. De tal modo, que quis dimensionar o nosso estar, para algo diferente daqueles passeios no carro, onde namorávamos e fazíamos amor como contorcionistas. Aluguei o atelier, justificando a mim própria, e de algum certo modo aos outros, como necessário para trabalhar e estudar. na prática foi o nosso ninho de amor. Em especial dos fins de semana, quando eu chegava das visitas à terra de meus pais, e vinha cheia de vontade de estar contigo. Foi aí que pela primeira vez conheceste o meu corpo na sua totalidade, sem que a roupa fosse incómodo Nessas alturas telefonava-te, e tu vinhas ter comigo. passávamos horas em permanente namoro, onde a dimensão do meu pequeno corpo se tornava enorme perante o teu desejo. e eu na procura do teu, sentia o aconchego do teu abraço, a carícia das tuas mãos o sabor dos teus lábios, até que a madrugada nos dizia termos de partir. E voltávamos de mão dada, para a rua onde me acompanhavas, novamente para onde sempre o fazias.
As férias e ter de dar aulas, tiraram-me da cidade e fui para longe. Tu partiste para férias. Não houve regresso, fomo-nos afastando, e nem tu nem eu nos procuramos mais. Encontrei alguém que me levou e casei e tive um filho, aquele que um dia me viste no colo, que poderia ter sido teu, se tivéssemos pensado mais para além da vida de estudantes.
Não há arrependimento, porque o que vivemos não se dimensiona. Pergunto-me o que fará ele? Pelo que sei perdeste-te no tempo, amarrado a ti próprio e aos silêncios e à solidão. Será como diz o povo “quem muito escolhe pouco acerta”? Espero que não, que te sejas feliz, ou que agora, pelo menos, leias os poemas.
No dia dos namorados, tão comercial, este poema de Daniel Filipe talvez diga mais a todos.
A invenção do amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas
Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas
...
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta
...
Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
Daniel Filipe
11 de Fevereiro de 2012. Inesperadamente , às 08.40 recebo um telefonema de um amigo... vamos a Lisboa, à “manif”, prepara-te, dez e pouco.. estaremos aí à tua porta, para seguirmos para Lisboa.
...na véspera tinha-lhe enviado uma mensagem aliciando-o “ há momentos únicos na vida onde fazemos e somos parte da história. É disso que se faz a nossa memória e a valorização da vida.”
Este relato quase me parecia, “mal comparado”, com aquela manhã de 25 de Abril de 1974, com os amigos a anunciar a boa nova, a revolução estava na rua, e o povo aderiu saiu à rapidamente.
Chegamos a Lisboa, por volta das treze e trinta. No Rossio, vimos os primeiros manifestantes, que se deslocavam para o local. Como eram horas de almoçar, foi o que fizemos, a uma centena de metros do Terreiro do Paço. Quando saímos, deparamos com uma Força de Intervenção da polícia. Homenzarrões, vestidos com aquelas roupas azuis escuras, parecem comandos, joelheiras, botas e outros acessórios que mais pareciam samurais, dos tempos modernos. Até isto, nos fazia lembrar aquelas manifestações, quando o “Marocas” já estava no poder, e queria intimidar.
Voltemos ao presente, é esse que interessa. Fomos caminhando em direcção ao Terreiro do Paço, aí já se encontravam umas centenas de pessoas. Onde outrora fora porta para liberdade, a praça regresava às origens, tornando-se rapidamente Praça do Povo tantos eram os seus representantes. Foi uma daquelas manifestações que lembram os tempos do pós 25 de Abril de 1975. O povo sentiu bem na pele, as medidas “troikianas”, e decidiu acorrer em massa.
Antes dos discursos acontecerem, foram-se ouvindo aquelas músicas que nos aquecem a alma e nos dão força para resistir. As concentrações, que saíram de vários pontos da cidade de Lisboa, foram chegando e enchendo a praça. Um ambiente impar que trazia emoção, orgulho em participar, a consciência de que juntos somos uma força e que podemos fazer com o nosso país mude.
Os discursos, da representante dos reformados, e dos jovens sindicalistas, tiveram o seu quê de engraçado, se é que se pode dizer tal. Gerações tão diferentes, e com tantos pontos em comum. Ambos defendendo direitos que são obrigatórios, para que a sociedade evolua e com ela a felicidade e bem estar das pessoas. Direitos que ajudem os idosos a serem recompensados por anos de trabalho e sacrifício tendo reformas dignas, saúde e bem estar. Direitos que permitam aos jovens poderem estudar, encontrar emprego, fim dos empregos precários, que lhes tiram capacidade económica para poderem ter casa própria, o que os torna um peso permanente junto dos seus pais, por vezes desempregados, por vezes, também, vivendo com dificuldades, ou já reformados. O discurso do secretario geral da CGTP, foi empolgante e tocou, nos problemas económicos e sociais que se vivem no país e como a crise económica continua a servir os interesses do grande capital, que fazem o povo apertar o cinto para que eles continuem a fazer a festa do champanhe mas piscinas do Algarve, ou em Monte Carlo. E apontou caminhos de luta futuros.
Pode-se dizer que o dia 11 Fevereiro de 2012, foi uma jornada de luta, que pode marcar o início de uma nova fase da luta dos trabalhadores, e do povo em geral, para travar este governo de contornos fascistas, que pretende trazer os direitos do trabalho, para os tempos da Revolução Industrial, em que se trabalhavam 14 e 16 horas por dia e sem quaisquer protecções sociais.
Foi um dia em que me senti feliz porque para além das conversas, de café e nos corredores de qualquer lugar, eu fui parte activa no protesto. Assim todos tenham orgulho, em dar cara e não fugir à luta.