domingo, 10 de junho de 2012

FIM DO CAMINHO

Aquilo que na mente quer e não pára, o corpo já não obedece, e vai trazendo maior de dor que a própria ausência.

Noite dentro sentido as paredes apertarem-no, vê o tempo passar enquanto espera que o corpo reaja à doença. Por mais voltas que dê não consegue, ainda hoje, saber o que se passou.

Gostaria de a ter em seus braços antes de partir, sentir mais uma vez o calor do seu corpo saborear de seus lábios no beijo que tanto deseja.

Foi enredado num esquema de emoções que prendem como numa gaiola, onde nem cantar pode porque a voz lhe fugiu, como lhe fogem todos os dias bocados de vida.

Solta-se o rio. Vai procurando margens na pele por onde seguir, formando rugas no leito do rosto. Nada dói tanto, como querer e não poder.

Gostava de voltar a sorrir. Com o sorriso aberto como quando criança vindo de dentro sem estar enredado nas malhas estúpidas da dúvida e sem a pressão de se ter de ser certinho e bom “menino”.

DATA: um dia não longe onde a morte existiu.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

CONHEÇA A VERDADE



Publicado em 25/05/2012 por josespa1


Nesta entrevista com Julian Assange, fundador e dirigente de Wikileaks, o atual Presidente do Equador, Rafael Correa, fala sobre as dificuldades que os governos populares e progressistas da América Latina enfrentam em sua tentativa de mudar as estruturas elitistas dos sistemas de governo instaladas em nossos países, ao invés de se limitarem a administrá-las, como seria do desejo tanto das oligarquias locais como de seus sócios maiores dos países imperialistas.


Da exposição de Rafael Correa, podemos entender como, na era da globalização neoliberal, os meios de comunicação corporativos passaram a exercer de fato a função de principal partido político representante do grande capital, deixando para a partidocracia tradicional o papel de meros coadjuvantes na tarefa da defesa dos interesses dos setores hegemônicos do capitalismo.

Rafael Correa fala da profunda simbiose existente no Equador entre a mídia corporativa e o capital financeiro, assim como as consequências negativas para os governos progressistas e o conjunto da sociedade que advêm de tal fato.

No Equador, como também no Brasil e em toda a América Latina, os grandes meios de comunicação privados estão intrinsicamente ligados a quase todos os setores econômicos dominantes da sociedade: o financeiro, o industrial, o rural. Esses meios atuam como baluartes na defesa dos interesses de toda a classe capitalista, e são, por sua vez, compactamente protegidos pelo conjunto das instituições capitalistas sempre que se veem diante de alguma ameaça a sua atuação. Em tais momentos, os coadjuvantes pertencentes à partidocracia devem empenhar-se para blindar eficazmente os órgãos da corporação midiática. O conteúdo desta entrevista nos possibilitará entender melhor o poderoso esquema de proteção armado no Brasil para tentar evitar a condenação da revista Veja, comprovadamente envolvida no mega escândalo oriundo das atividades da quadrilha de Carlinhos Cachoeira.

A visão latinoamericanista defendida por Rafael Correa deveria servir de inspiração a todos os que buscam edificar em nossas pátrias sociedades dignas, soberanas e praticantes da justiça social. Para ele, o consenso não é algo desejável se for para manter intacta as estruturas de espoliação social herdadas de anteriores governos pró-oligárquicos.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"AGARRADO"



Fiquei-me só pela sombra. Deixei-a flutuar, não quis saber dos seus vapores. Rejeitei ser iludido por um bem estar temporário. Embora o fascínio da sua cor e o cheiro que pairava no ar me fizesse secar a garganta, e a língua se enrolar inquieta, não me deixei iludir e mantive-me distante. O suor corria-me pelas costas abaixo, tal o esforço despendido para continuar longe da tentação.

A experiência do passado recente continuava viva em mim, quando o vi morrer deitado no leito agarrado ao vício. Tudo lhe servira nos últimos dias para apagar aquele desejo insano que o seu corpo solicitava a cada segundo. Nem o cheiro perfumado do after shave ou da lavanda barata o tinham impedido de emborcar todo o conteúdo.

As dores abdominais possuíam-no, a cor terrosa da sua face evidenciava a sua destruição física. O seu cérebro já não comandava e o fim estava a vista.

Ele morreu, deixou-me mais só, com o mesmo sangue viciado no corpo e com a mesma brutalidade com que marcara toda a minha vida. No silêncio da sua morte, trespassado pelo sorriso de alegria duma criança, que vira seu avô morrer, assustei-me, quebrando o cordão umbilical. Foi uma luz acesa no seio da floresta.

Acordei na realidade, teria de evitar repetir a história. Todos estes anos estive “agarrado” e fiz mal a todos os que me rodeavam. Primeiro perdi o emprego, depois perdi, os amigos e agora na iminência de perder as pessoas que mais amava. Não ouvia os filhos e castigava-os na dureza, e punha-os na frente da brutalidade infligida sobre a sua mãe. Correiadas, bofetadas, e tudo o mais que na hora surgisse, seguido de sexo bruto, violento. Violentava-me e era violento, agindo sem nexo.

Naquele mesmo dia todas as sombras deixaram de existir. Apaguei a luz do infortúnio que durante anos me dominara, sentindo o seu gorgolejar na pia da banca e o ruído do vidro estilhaçando, como se fosse uma nova música de sucesso.

Agora teria de manter a coragem e suportar a decisão. Suaria quantas camisolas fossem necessárias e vomitaria das entranhas todo aquele sabor etilizado no correr dos anos, feito sangue.


Havia uma nova esperança, a revolução chegara vestida de cravos vermelhos e apontava para uma outra sociedade com outros valores e apontava caminhos para renascermos. Já não seria um espelho social.


Assim fora escrito há trinta e muitos anos, hoje sinto-me novamente no limite e com medo de que tudo regresse. Estão-me a abafar os dias tirando-me as saídas. Desempregado, com contas para pagar, filhos estudando, e um sistema político asfixiante, que me vai roubando todos os valores materiais e morais que me restam. Se isto não muda...


terça-feira, 5 de junho de 2012

DeIxA QuE eU Me riA



Deixa que eu me ria
Que eu gargalhe fundo no meu íntimo
Deixa que transvaze esta ironia
Este remoque que me sufoca e asfixia
Esta farsa que se alastra e se apega
Que contagia.

Deixa que eu me ria
Que não goteje a mágoa deste dia
Que não lacrimeje, que não atormente
Que não chore, simplesmente.

Deixa que eu me ria
Que meu riso, mesmo hipocrisia
Me liberte, me afaste, me alivie
Me isente desse embuste que atrofia
Deste mundo falsário e pecaminoso
Deste perjuro, falso e doloso,

Deixa que eu me ria
Deixa que eu me ria!

do livro de poesia
Mentes Perversas
(… e outras conversas!)
Ana Paula Lavado


EU NÃO FUI AO ROCK IN RIO

Eu não fui ao Rock In Rio, porque ao contrário de muitos, eu não digo: “Não é por causa disso que as coisas vão mudar”. Claro que não, num país em crise como o nosso, é uma forma “fixe” para os politólogos virem justificar para os media que afinal gastamos acima do que devíamos por isso a austeridade do governo é adequada. Não está em causa se gosto de ouvir música, ou dos músicos que lá aparecem como vedetas. Eles são pagos e como tal fazem o trabalho, vergonha é ter que lhes dar durante a sua estadia para além do que ganham, mimos durante as actuações que são um insulto para todos aqueles que vivem em dificuldades em Portugal. Sustentam-se vedetas que vivem da miséria e que em muitos casos dão um contributo sério para indigência dos jovens. Diz-se que o futebol é o ópio do povo, ali naqueles espaços o ópio, heroína, coca, ecstasy, etc., fazem parte do espectáculo, para embriagar os sentidos de muita juventude que nem vota, e que vive literalmente à custa de seus pais, e alguns deles reformados. À boa maneira portuguesa protegem-se “os meninos”, porque no passado se passou muita fome e eles “os meninos perdem a noção de que a maioria das famílias mal têm dinheiro para sustentar a casa, mas pode-se gastar um bilhetinho que dá para a carne para colocar no prato durante uma semana.
Triste país este que pede austeridade e permite que se abram supermercados ao fim de semana, e que usam falsos aliciantes para aumentarem o consumo das pessoas, fazendo-as endividar ainda mais, indo atrás de um benefício precário, que na maioria dos casos ronda em prejuízo. Triste país que permite estes espectáculos em tempo de crise, e que sustenta, o ópio do povo, para que se distraia dos grandes problemas que deviam estar na ordem do dia.

Que interessa que o povo pague a dívida que não fez? Que interessa que o SNS de saúde desapareça, e a sua qualidade todos os dias seja posta em causa como se a saúde fosse uma mercadoria? Que interessa que o desemprego atinja um milhão de pessoas?
Que interessa que os bancos nos cobrem mais taxas e enriqueçam com a crise? Que interessam os políticos corruptos? Importante, mas mesmo importante, é mais um rockinho para a próxima semana, ou mais um Festival de Dás ao Coiro num cantinho qualquer do país para que a maltinha se vá entretendo até ficar sem nada.

domingo, 3 de junho de 2012

CAmInHos

"Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!“

Fernando Pessoa 




sexta-feira, 1 de junho de 2012

EU TAMBÉM JÁ FUI CRIANÇA


Eu também já fui criança descalça pela calçada.
Eu já fui criança e nem sempre muito amada
Tropecei nas palavras e nas contas que me ensinavam
E fazia amigos de rua, no pontapé da bola de trapos
E sem querer muitos vidros transformei em cacos
Tive amigdalites, otites e sarampo que faziam meu pranto
Dos pedaços de madeira fazia meus brinquedos
E até tínhamos brincadeiras tipo casa dos segredos
Jogávamos às escondidas, ao eixo também saltávamos
E como tínhamos muita fome das árvores a fruta tirávamos
Todo este brincar, viver, e pular depressa se acabou no lar
Na casa para se comer cedo se tinha de trabalhar
Assim perdia a criança todo o seu voar

Hoje dá gosto ver as crianças protegidas
Com amor, alimento, saúde e ensinamento
Já não se trata a criança como se fosse um jumento
Hoje a criança tem direitos expressos em regulamento
que todos pretendemos façam parte do seu crescimento
Ainda assim alguns malandros tentam desvirtuar
Tudo o que durante tantos anos para elas tivemos de conquistar
Tirando aos pais vida e saúde e dinheiro para as sustentar
Outros as exploram e delas se servem para seu benefício
Mas o povo que não dorme defende suas crianças contra tal sacrifício
E com vontade dá luta em todas as frentes sem soçobrar

Dizia o poeta “O melhor do mundo são as crianças”e tinha toda a razão
o sorriso de uma criança encanta qualquer coração.
Dos pais recebem amor, dos irmãos, dos primos e tios também
E dos avós toda a sua experiência e ternura amando-os como ninguém
Neste dia que foi criado para da criança ser chamado
Não devemos fazer dele comércio ou levar muito a peito
Importante é fazer de toda a criança um ser muito amado
Todos os dias abraçado, beijado e acompanhado
Para que tenha um futuro mais que perfeito