Longo tempo passou desde a minha última viagem para longe da área onde habito. Todos temos uma área de conforto onde parece existir tudo o que necessitamos. A loja, o jardim, o transporte, o café, o restaurante, o amigo, o hospital, enfim tudo aquilo que nos torna a vida num quotidiano rotineiro, do qual muitas vezes reclamamos, mas que “nos fica tão bem”.
Sempre fui bicho do buraco, por insegurança? Por comodismo? Isso queria eu saber. Na verdade, uns adoram viajar, outros preferem não ter de se incomodarem a sair, porque não podem levar a casa às costas com tudo aquilo que pensam precisar e que são o seu “sempre à mão”.
Sair em viagem para mim é uma necessidade sanitária, preciso de limpar a mente e voltar a reencontrar o prazer do retorno à origem, quando ela finda. Gritar na entrada da porta dizendo; “cheguei, lar doce lar”. Tomar um banho, deslizar no sofá e reviver os dias finais da viagem. O restante será revisto de forma divertida, só, ou com os amigos e familiares, entre risadas alegres esquecendo até que não gosta nada de viajar e de romper as suas rotinas.
Vou fazer uma pequena viagem, não pelas razões do costume, e sim porque terei o prazer de encontrar um outro lugar, onde espero, o acolhimento seja doce, a cidade me seja apresentada com todo o seu esplendor, e as delicias gastronómicas caseiras sejam um prenúncio, de uma noite com pouco dormir e muito prazer, sentir, sorrir e viver.
Fico sentado olhando a mala, ainda com um pequeno espaço, onde caberão mais algumas coisas. A mala é pequena, mas grande o suficiente para levar o essencial para tão pouco tempo, dúvidas tenho se o meu recheio é o suficiente para preencher esse alguém que espera minha visita.
A viagem parecerá tão longa, como curto o tempo de estar, mas estou convicto, que as memórias que se desenharão naqueles dias, serão tão perenes que permanecerão como marcas na pele, como outras, com o sabor dos morangos com chantilly.
Entretanto, como é habitual antes de qualquer viagem pequena, ou grande, fico sentado olhando o espaço envolvente da sala como se temesse perder as suas referências, ou deixar abandonados os meus livros, pinturas, e outros elementos decorativos, que a preenchem. Assim vai a noite, lentamente adentrando, e eu no meu silêncio vou alimentando a expectativa, pensando no transporte, nos horários, se nada fica esquecido esperando que o sono surja e o dia traga alegria na partida.
DC
sexta-feira, 22 de março de 2013
A VIAGEM
quinta-feira, 21 de março de 2013
A PrimaVera
Entrou a primavera, que nem é prima nem vera. Entrou com o frio e sol intermitente. As plantas quase não se atrevem a florir com medo de enregelar e morrerem antes de nascerem.
Já nada é como dantes – saudosista ?– as estações do ano vão-se alterando como as nossas vivências, que se têm de adaptar aos novos ventos que sopram da Europa.
É pena que a alegria morra nos lábios, cerrados de raiva contida, de fome sentida, de impotência perante a violência moral social, politica e económica, com que somos premiados, neste cantinho plantado à beira mar.
Não entramos na primavera, porque a prima, é vera e não deixa. mataram-nos o amor, a alegria, e querem que os lábios se abram em sorrisos de plástico. Eles não sabem que se abríssemos os lábios escorreria sangue da língua trilhada pela raiva, dos pulmões doentes, do coração ferido, da contenção e da fome.
Esta seria a estação do ano em que gostaríamos de ver os pássaros em agitação, as plantas a florir, as crianças a encher o ar de gritos de alegria, os corpos a largarem as roupas pesadas do inverno, bebermos um café na esplanada do jardim, sentir a energia e prazer da vida. E porque não? O que nos impede, de gritar bem alto a nossa primavera para que se cumpra?
Abril está aí a chegar carregado de memórias. Aproveitemos para recapitular o que se passou, que nos fez sorrir, ter esperança e acreditar em cravos a florir. De nós depende semear e colher o seu aroma, a sua beleza e de com eles enfeitar novas vontades, nova esperança, uma outra alegria, uma Pátria que deve renascer.
DC
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terça-feira, 19 de março de 2013
EU GOSTO DE SER PAI
Já o escrevi, em outras alturas, que não me fixo nos dias, da mãe, do filho, da avó, do namorada, do pai etc. Todos essas efemérides, servem fins comerciais, mais do que uma celebração de alguns valores que devem emanar de um ser humana e socialmente capaz.
Celebrar estas “efemérides”, dá uma ideia de que já fomos para o “outro lado”, ou seja “estamos a fazer tijolo”, ou que já temos só lembrança. Cheira a mofo, a velhice.
Vai daí que aproveitei para dizer que embora o “dia do pai”, para muitos, seja hoje, eu continuo a ser pai há mais de trinta e sete anos e com muito gosto.
Fico feliz na verdade, que seja ela a dizer-me neste dia o que me diz, em muitas outras vezes: “Tu sempre foste um pai presente”. A prenda que me deu, e adorei, foi enviar-me um texto que lhe escrevi, tinha ela cerca de dezasseis anos e não foi no “dia do pai”.
Eu tenho de lhe agradecer ter me sido permitido ser seu pai, ter contribuído para a proliferação da espécie e ter orgulho por lhe ter transmitido valores que reputo essenciais a qualquer ser humano.
Nem sempre os nossos filhos seguem os nossos ensinamentos, não é grave, desde que saibam adaptar as qualidades e valores aprendidos, sem perder o norte, ao seu momento de vivência. Há valores que nunca sofrem mudança e estão na génese do ser humano e que nos distinguem das bestas. Alguns princípios como a honestidade ( não meio honesto, ou pouco honesto), respeito pelo seu semelhante em qualquer circunstância; preservar a amizade e a sua família e a família que representa o povo onde está inserido sendo solidário; fazer da aprendizagem uma necessidade permanente; proteger o ambiente; respeitar o trabalho, o seu e o dos outros. Se conseguir que assim acontece já me sinto feliz.
Como pais nos dias de hoje temos de ser mais exigentes no papel que vimos desempenhando. Hoje a sociedade de exploração capitalista em que vivemos, apela-se à ganância, ao egoísmo, ao desprezo pelo seu semelhante, ao dinheiro como mola de sucesso, à concorrência a qualquer preço, à desumanidade. Por isso exige de nós mais atenção e necessidade de incutir determinados valores e princípios.
Ser pai, obriga a ter capacidade de enfrentar a dor, de cada decisão tomada perante os filhos, mesmo que eles não a entendam. Importante é ter a consciência dos nossos saberes e experiência para os defendermos e preparamos, na obtenção de algo benéfico ao seu futuro.
Como diz o povo “as desculpas não se pedem evitam-se”, por isso não nos desculpemos deixando de assumir aquilo que, entendemos de forma civilizada, humana, afectiva, e importante como cidadãos e seres humanos, sermos pais.
Eu gosto de ser pai.
segunda-feira, 18 de março de 2013
DE CURVA EM CURVA
A curva que surgiu encontra uma outra que fugiu e de curva em curva seu corpo se desenhou. De curvas e contra-curvas de relevos bem pensados, de gestos mais abusados, foi assim que Deus fez quando a mulher criou.
Eu penso que ele não sabia muito bem o que fazer, andou entretido e com muita hesitação na forma a escolher, por isso, tanto relevo de prazer. Vitima foi o Adão deste deambular ébrio, que até hoje viveu com a mulher um caso sério.
Séculos passados, por anos divididos, em horas de muitos enganos, minutos sofridos, até ao segundo vividos. Sôfrego Adão se viu envolvido em preciosa figura, que Deus lhe atribuiu, que desde aí nunca mais lhe fugiu.
Nem todas as religiões vêm assim o princípio do mundo, eu que não sou crente, aceito que assim seja, pois a mulher é um ser que muito se pensa e deseja.
Mas não consigo deixar de pensar, que tudo isto não foi fruto do acaso de um Deus a divagar, ou se ele também pensava numa mulher para se casar.
DC
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sábado, 16 de março de 2013
O PRAZER DE NAVEGAR
Sim onde andas tu alma
Que nas noites de inverno
Me trazias o afago e a calma
E me tiravas deste inferno
Oh, sim princesa do meu castelo
Que fugias para os meus braços
E procuravas com desvelo
Recuperar de teus cansaços
Falava-me de saudade o teu corpo
E eu de ti o prazer de navegar
Ficava suspenso de olhar absorto
Levando longe o meu viajar
Agora ao entrar da noite escura
Ou nos momentos de partida
Se torna mais dolorosa a lonjura
E na alma a saudade como uma ferida.
Esperar-te-ei na beirada do caminho
Sem medo da noite gelada
Como no seu ninho um passarinho
Esperando o nascer da alvorada
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sexta-feira, 15 de março de 2013
UMA NOITE.. NA MÚSICA
Deixando deslizar as notas da guitarra sobre a superfície do ouvido, vou deixando surgir as palavras que aqui vou escrevendo.
Sinto cada nota na pele como se os teus dedos me dedilhassem despertando cada poro.
Cada mudança de tema é um amplexo de prazer que vou descobrindo nos beijos com que me vai deliciando. Vou vogando sulcando os ares empurrado por brisas diversas que sucessivamente me vão levando mais longe no prazer do desfrute.
Sonho-te, imagino-te, vejo-te.. desnudada, libertando teus braços em movimentos loucos, enquanto o ondular do teu corpo faz vibrar o espaço que enches com a tua presença. Rodas teu corpo sobre os bicos dos pés, como se quisesses marcar o ar com espirais, libertando o teu perfume na emoção que te domina e se vai espalhando no ar.
Debaixo da luz amarelada, em que te moves, as nádegas umas vezes salientes outras escondidas. as coxas que se movimentam desenhando os músculos, os seios roliços, que se agitam, o cabelo que se solta emoldurando o teu rosto onde os teus olhos se semicerram, ou se abrem de espanto, a tua respiração se torna mais e mais intensa. De repente despojas-te no chão como um pássaro agonizando de um voo peregrino.
E eu? Eu sorvo-te, como a sede num deserto, e deixo-me ir sem destino ao sabor dos teus desejos.
quinta-feira, 14 de março de 2013
TEMOS PAPA ....NÓS TEMOS É FOME
É assim, todos se preocupam com o Papa, que foi eleito e os que têm fome continuam com ela e não fazem parte dos noticiários. Ou seja temos Papa, mas não temos papa, comida, morfos, shop, shop... e por aí fora.
Elegem um Papa, com idade avançada—76 anos—, para que não tenha tempo, nem paciência, para fazer seja o que for e manter tudo o que até agora existe. Vão continuar as lavagens de dinheiro, os negócios de armas, etc.,etc. etc.?? Então a estória de ser eleito um Papa, mais novo, cheio de força na guelra, disposto a corrigir tudo, como se dizia à boca pequena, para onde foi?
Interessante é que escolham um Papa argentino(?). Será coincidência? Hummm...não me cheira. Nada é por acaso,a América Latina estava mesmo a precisar de uma coisa destas, já que os EEUU estão com dificuldade em encontrar uma solução, para resolver algumas espinhas que têm encravadas na garganta com estes novos presidentes populares, em países, onde antes eram réis e senhores.
Fica aqui um extracto de um texto de Júlio C Gambina*
publicado Argenpress.info. 13MAR2013, que ajudará a perceber melhor a situação
.....
Há 40 anos o neoliberalismo foi ensaiado em nossos territórios com as ditaduras e o terrorismo de Estado, para a seguir estender-se por toda a orbe. A Igreja da Argentina, salvo honrosas e escassas excepções, acompanhou a ditadura genocida nesse parto neoliberal, ainda que agora fale contra a pobreza e a ética.........
Um PAPA polaco chegou à Igreja para acompanhar o princípio do fim da experiência socialista, ainda que se discuta o próprio carácter daquela experiência. O capitalismo mundial necessitava do Leste da Europa. A Alemanha assim o entendeu. Os EUA também. Sem o Leste da Europa, já abandonado o projecto socialista original, o mundo deixou de ser bipolar e constituiu-se o rumo unipolar do capitalismo, transnacional e neoliberal.
O rumo unipolar está a ser desafiado pela mudança política na Nossa América e o ressurgir do socialismo, seja pela mão da revolução cubana ou pelos processos específicos que emergem em alguns países (Venezuela ou Bolívia), inclusive em variados movimentos políticos, sociais, intelectuais, culturais, na nossa região.
*Presidente da Fundación de Investigaciones Sociales y Políticas, FISYP .
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