sábado, 19 de outubro de 2013

E como ERA FRIO aquele ACORDAR.



Ouço a música, vejo a imagem das papoilas vermelhas enchendo o campo onde passeias, inebriando, Sinto o calor estranho que aquece o meu corpo...lembro que a noite gelada ainda restava dentro de mim desde que partiste.

De noite acordei e apalpei o espaço vazio, A tua ausência no seio dos lençóis. O calor do teu corpo não está, mas o seu cheiro ainda permanece, morno, como sempre fora no amanhecer, Já não ouvia a respiração pausada do teu sono. Embora nem sempre, quando estavas tudo eu era diferente, tudo em volta ganhava cor e sentia-me vivo.


Agora não, o regresso não estava escrito nem nas palavras, nem nos teus olhos claros, que se perdiam apáticos olhando para o longe nas minhas costas, sentada no cais esperando.


O imperioso partir, outrora tinha em si a ideia do regresso, e por isso vivia aqueles tempos como se fossemos reis, desbravando a terra dos nossos corpos, em mil carícias, ternuras e palavras, Tudo servia para a construção do filme, Nós realizadores e actores a tempo inteiro.


Sabia-te temporariamente em meus braços, sabia-te ao sabor das estações do tempo, nas suas diferentes temperaturas, cores e beleza, sabia-te o prelúdio de todas elas, mas sempre te esperava...


Talvez tenha sido a imaginação me traindo, mas se assim era, só poderia ser das papoilas, tão real era o que ainda sentia, E como era frio aquele acordar.

DC

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

SÓ VERMELHO





Como se pode deixar o que amamos?
Quando sofrer é mais do que amar

Como pode deixar de doer?...

Assim sucessivamente como dizia o amigo da onça, que me ouvia, na mesa do café. Ele não estava lá mas eu o ouvia serenamente e falava horas seguidas numa conversa a dois.

Sentado, com os meus jeans azuis, casaco de chuva vermelho, à mesa do café vermelha, guarda sol vermelho, chávena de café de logo vermelho, E todo eu por dentro vermelho, no sangue, na raiva, na paixão, no palpitar vermelho do coração, O sangue que escorre do touro é vermelho, e o capote sujo de sangue de vermelho, a arena manchada com o sangue vermelho do toureiro... Os pensamentos vermelhos, pelo que defendo, pelo que eu amo, pelo que eu observo nas cores do sol de fim de tarde, No que desfruto nos frutos saudáveis, dessa cor vibrante vestidos, As maças vermelhas, as romãs vermelhas, os morangos vermelhos, as cerejas vermelhas, E a pele natureza dos teus lábios vermelhos, as unhas pintadas de vermelho, o tango e o teu vestido vermelho, e os teus sapatos vermelhos e bolsa vermelha, e o teu lenço vermelho segurando o teu cabelo.

Forçosamente, desenharei a vermelho, as letras das palavras do cartão, que vai com as rosas vermelhas que te envio, se soubesse compor música teria de inventar notas com sons de vermelho, para te fazer pensar em mim vermelho.

Vermelho tão controverso nas suas associações psicológicas ou materiais, sinal de perigo, guerra, sangue, cerejas, morangos, lábios... coragem, esplendor, calor, agressividade, alegria, vivacidade.

E eu continuo sentado, vermelho por dentro e por fora, esperando a segunda resposta que o meu amigo não me consegue dar.

DC

terça-feira, 15 de outubro de 2013

AS TUAS MÃOS




Imagino as tuas mãos, com os seus dedos esguios, passeando e aflorando as diferentes estações, na superfície do corpo, como se formando melodias ricas de brisas, cheiros e mar. Como se seguissem as formulas escritas em pautas, elaboradas por eruditos, dando voz aos teus lábios, no trautear de variações, com diferentes cores e sons, As tuas mãos criando, recriando, compondo um novo corpo de emoções.

Ouço e torno ouvir, a sentir os poemas que escreves, como se a caneta arranha-se o papel avisando seu percurso, Sei as revelações que fazes nas entrelinhas, em cada nota, em cada palavra que compõe o interlúdio do outrora desconhecido, ao agora presente.

Fazes-me aflorar risos perdidos, tirando-me as sombras do rosto. Trazes brilho aos meus olhos e motiva-los para miradas atrevidas sobre o ondular do teu corpo.

E tudo isso porque as tuas mãos de dedos esguios, se agitam poderosas a cada sonoridade, electrizando todos os meus sentidos.

DC




sábado, 12 de outubro de 2013

SE as palavras...




Se as palavras fossem o som do amor, se a música fosse a mensagem do coração, se a realidade fosse mais do que imaginação... a distância seria coisa pouca para que uma força maior, se tornasse visível.

Permito-me deixar correr o tempo, Tudo é possível na melancolia do Outono, quando nos retemperamos do que foi o renascer da Primavera e do intenso calor do Verão que findou.

Se quisesses podíamos viver o Jardim dos Sonhos, Correr pelos campos, por entre os pinheiros bebendo seus cheiros, molhar os pés no riacho que corre... e cair de costas exaustos no chão de folhas estaladiças, olhando o céu azul do entardecer de mãos entrelaçadas, dizendo as loucuras que só os amantes podem dizer.

DC

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

SoRrINDO À CHUVA



...sorrindo feliz... o teu amor está vivo, Sapatos na mão, pés sentindo o chapinhar da água e o coração pulando num corpo que se molha alegremente.

...ainda ouves a sua voz quente e doce nos teus ouvidos, o calor do seu corpo, as suas mãos em ti e os seus olhos brilhantes depois do amor...

Não interessa o tempo que faz, se sol, se frio, se calor ou chuva, se dentro de ti vivem todas as estações do amor, todas elas com diferentes cores e contrastes...

“A cidade do amor onde eu vivo, és tu”.. sai-te o grito vibrante, espalhado pelo vento atravessando a chuva.

DC

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SÓ EMOÇÕES


 

Leio o que não escreves,
Sinto o que não dizes,
Ouço o que não se escuta,
Digo o que não quero.
Espero que pises e repises
E o eco se repercuta.
Ando nora sem água
que não mata sede,
No corpo a mágoa,
da vida que se perde.
Rejo-me pelo que não dizes,
procuro nas entrelinhas
E sempre me perco de razões,
afinal o que eu percebo
São somente emoções.
   

DC 




quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Há dias de sol...





..., em que tudo torna escuro, como se o inverno se instalasse dentro de nós.

Há dias que tudo nos magoa, bem dentro, bem fundo e nos deixam sem norte, sem paz, e a sós.

Nesses dias assim, não vemos as flores e suas cores, os pássaros e seu cantar, nem aquela gente e seu caminhar, que se esmagam contra o tempo, que carregam sobre os ombros cansados sua dores, de sorriso nos lábios.

É nesses dias que vemos as crianças, sem culpa, sem mácula, porque nascidas, cedo carregam a obrigatoriedade do saber, em mochilas de livros, pelo amanhecer de cada dia, perdidas da alegria, fechadas em salas, formatadas pela sociedade que lhes nega o futuro. Crianças a quem a gargalhada tarda a surgir, a imaginação se perde, e o brincar se torna escasso, Crianças a quem a ausência dos pais, que trabalham de sol a sol, os deixam órfãos do seu carinho, do seu abraço. Crianças que com o seu sorriso, por vezes dorido, nos encantam e nos fazem acreditar que vale a pena viver.

Há dias assim, que nos trazem a revolta, que nos fazem circular o sangue a mil à hora e nos torna primitivos. A evolução da sociedade não se pode resumir ao sacrifício de muitos para o regozijo de alguns. E o que havemos de fazer? Lutar, lutar, lutar sempre!


DC