Corre sem parar, cada vez que o deixamos passar, como o rio, que não corre no mesmo leito duas vezes, ele se vai e com ele a oportunidade, seja de tristeza, de alegria, solidão ou amor.
Ele se marca por milésimos, segundos, minutos horas, e a acumulação de tudo isso, dá toda uma existência marcada com o ferrete, do sem retorno. Todos gostariam, em algum momento, poder parar essa roda inexorável, fazer uma pausa, ter o “tempo” necessário para melhorar e evitar o erro. Só a memória, por vezes, simula essa paragem, deixando-nos perdidos sem saber desse “tempo”.
Felizmente, não é possível travar o “tempo” e emendar, se assim fosse a vida nos não traria a aprendizagem e esta consciência da importância de parar num determinado tempo, mesmo sabendo que não é possível. Se parássemos, como cresceríamos, ou perspectivaríamos novos caminhos, novos projectos, enfim viver.
Se por um lado queremos parar o “tempo”, por outro temos consciência, que o “tempo” não regressa, e como tal teremos de construir e aproveitar melhor o “tempo real”, para não pensarmos que algum dia podemos querer parar o relógio que marca o nosso "tempo".
DC
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
O TEMPO NÃO PÁRA
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Foto:Diamantino Carvalho
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
O lugar é bucólico...
Fui para ver as exposições e mais uma vez sentir o prazer de passear naqueles jardins, encontrando um pouco de paz.
Ali sentado no banco de madeira, procurava o sossego que me tinha faltado nos últimos dias. Olhava o pasto verde onde os bois se sentavam como estátuas, fazendo uma pausa no seu mundo, enquanto eu procurava encontrar o meu. Era mesmo aquilo que pretendia, Sentir aquela mistura dos diferentes cheiros pairando no ar, e sentir a agitação da própria natureza e seu universo. O cheiro da erva, dos animais, da terra escura e húmida, das árvores, O rumorejar da brisa leve agitando a folhagem e o sol trazendo a luz e as sombras.
De momento para outro, cruzam-se as diferentes morfologias físicas e línguas, perante os meus olhos e ouvidos, Os visitantes invadiam o espaço.
As crianças arredondam os olhos vendo os animais, e apreciam cada um dos movimentos do seu corpo, Uns espantam-se e questionam os adultos, que os acompanham, com perguntas sucessivas, sobre a sua qualidade, a sua dimensão, a razão de os bois terem aqueles cornos enormes na cabeça e o por quê, de estarem ali, enquanto outros, ficam silenciosos pelo espanto do que observam, como se nunca tivessem visto tal coisa - se calhar citadinos, não viram mesmo. Em ambos os casos ,as crianças vou ouvindo e recebendo de forma muito pedagógica(?), o acerto ou desacerto das respostas dos adultos que, por vezes, se tornam enfadonhos.
Alguns adultos fotografam, com telemóvel, máquina digital, ou analógica, tudo serve para fixar o momento, Uns captam os animais, as companheiras, com os cornos dos ditos bois bem no fundo da imagem, Outros sentam-se nos bancos madeira desocupados, fazendo numa pausa, enchendo o ar com algaraviado de sons e línguas para mim desconhecidas, no meio de diferentes tonalidades de português. Falam à vontade sem medo, que aqui o “tuga”, possa perceber.
O lugar é bucólico, mas ao domingo demasiado “turístico”, daí o fim do sossego por algum tempo.
Conforme chegaram, partiram, e até que venha nova “fornada”, o ambiente retoma o seu desenho, voltando ao estado puro. Aí, volto eu às minhas cogitações, e estabeleço paralelismo entre o que ali momentaneamente ocorreu e o mundo para o qual as obras de arte nos transportam, Talvez, também elas sejam resultado de pausas e movimento, Nuns casos cheias de ruídos de fundo, outras simples e encantatórias, e ainda outras carregadas de absurdos, apanhando, como eu aqui sentado, os incautos por não estarem devidamente qualificados para perceberem a sua estética(?).
Entretanto os bois ruminam indiferentes a quem os observa, os burros e machos continuam retoiçando a relva. Penso: “que se lixem as interrupções” elas servem para perceber e apreciar melhor as pausas.
DC
terça-feira, 12 de agosto de 2014
NÃO BASTA MUDAR DE LUGAR
Os anos vão passando sem que se refaça. A espera tem sido longa e a busca para se reencontrar tem sido difícil. Enfadonhos os tempos mortos, com que enfrenta os dias. Não há Primavera nos seus olhos, nem sol que o aqueça, só Outonos e Invernos frios, Continua preso nas grades invisíveis, que foi colocando entre si e todos os outros, reservando-se ao seu silêncio.
Um dia, quando guerrilheiro de seu amor, perdeu as falas da ternura, as noites de vigília de abraços e beijos, as conversas sobre os novos amanhãs, que naquele tempo de revolução se misturavam, Ficou sem chão, as crenças e a inocência se desvaneceram.
Restam as marcas profundas, como ferimentos mal curados, que no passar dos dedos do tempo se tornam demasiado presentes.
Quantas falas novas se projectaram, meias palavras se soletraram, sem que as “coisas” acontecessem.. por uma “coisinha assim...”. Só resta esperar, que um dia num tropeço do caminho volte acontecer, e que aquela “coisinha” que falta, esteja lá.
Talvez não baste a mudança física do lugar, talvez seja preciso mudar por dentro, para não trazer acoplados resíduos inconvenientes, que impedem que a luz entre. É preciso um sol do meio dia de sombras mais reduzidas, que aclare o corpo, alimente a mente e aqueça o coração.
DC
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Foto. Diamantino Carvalho
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
VER, OUVIR E SENTIR
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Foto. internet
sábado, 9 de agosto de 2014
A AMANTE NECESSÁRIA
Ela linda e amorosa, cheirosa, desempoeirada e sem vestimenta de luxo, tem tudo o que é essencial. É o lugar onde me alimento e refresco meu corpo. É o espaço do meu silêncio, da minha escuta, é o meu repouso, sem hora marcada, é lugar de ver o mundo mesmo quando de porta fechada. Ela tem o recheio de muitos amigos que me contam estórias, uns a cores, outros nas suas letras, uns do alto outros mais em baixo, todos chegam, é só escolhê-los e convidar a repartir o que vai na cabeça de cada um. Por vezes, outros chegam de fora, uns mais família, outros mais amigos, gente que não demora, ficam o suficiente para dizerem presente.
Ela é a amante necessária de todas as estações, que me conforta, que me espera e marca presença, quase natureza morta. Gosto muito dela, só me falta ainda coragem para lhe oferecer as flores, que merece. Temos um casamento perfeito com todos os seus requisitos: “na saúde e na doença, até que a morte nos separe”.
É assim a minha casa.
DC
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Foto. Diamantino Carvalho
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
MINHA FLOR AZUL
És o verde da minha esperança
És o azul que ilustra os céus
És a luz do sol e da bonança
És a terra rica dos sonhos meus.
Adubei, reguei, alimentei tua fome
Senti o crescer do teu perfume
E aumentares o teu volume
Tudo com um prazer enorme.
És a flor azul do paraíso
És a mulher onde repouso o olhar
És sol e bonança no meu juízo
És inspiração do meu amar
DC
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Foto. Diamantino Carvalho
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Um pé à frente do outro....
.....cautelosamente colocado, superando o desequilíbrio latente, em paralelo com a mente confusa que lhe desperta um sentimento de indiferença.
Nada o preocupa, ou o assusta, fecha-se em si mesmo mais do que é costume. Uma espécie de véu se instala, como se não quisesse saber mais do aquilo que de imediato lhe surge. Abstracta forma é este seu estar e existir, em que a distância entre o que vê, e o que sente, é enorme. Sente-se como que flutuando, na estranha sensação de levitar acima da terra e dos problemas. Nada tem importância, tudo tem importância, os ruídos que chegam, como que filtrados, não afectam esse marasmo em que se encontra, no entanto, são tão nítidos. Será esta a sensação daqueles que bebem em excesso, ou dos que se drogam? Também neles o mundo fica lá longe, distante daquilo que se gera dentro de si próprios?
Sente-se como um índio instalado em sua tenda, fumando cachimbo de olhos fechados e inalando os vapores que se emanam da fogueira. Também ele em transe, que o leva à descodificação da linguagem dos pássaros, dos ruídos da floresta, dos gritos do massacre dos seus antepassados. É um voltar ao passado sem a consciência de como surgiu esse caminho de regresso a longínquas vidas e histórias.
A sua vida é como uma profecia, vai surgindo nos dias, como por acaso, sem que consiga mudar-lhe o rumo.
O esforço de acertar a passada é cada vez maior. Não é só um pé à frente do outro, é aquela lucidez esquisita, que lhe faz ver os pormenores, como se fossem as linhas do desenho que ele próprio traçou. Os rostos que se cruzam pelos seus olhos, parecem fantasmas. Ele vê para além do que os outros vêem, sente-lhes o pulsar, sente-lhes a tristeza e a alegria, o amor e o desamor, a crueldade, a bondade, a indiferença, a descrença, e capta-lhes as almas carregando o fardo das suas vidas, e sente-as coladas à sua.
Não há como fugir, vai continuar deambulando. Só lhe resta esperar pousar os pés sobre a terra, sentindo a vibração do bater do calcanhar no solo e arrastar consigo a sombra que o sol desenha, como se esta lhe apontasse o caminho do renascer.
DC
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Foto. Diamantino Carvalho
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